Backstage

Tales Of Murder And Dust, Uma paisagem audivél

No próximo dia 23 de Janeiro os dinamarqueses Tales of Murder and Dust regressam a Portugal no âmbito da sua tour europeia com duas datas, Leiria (23/01, Texas Bar) e Lisboa (24/01, Sabotage Club).

A sua sonoridade negra, capaz de nos levar ao local mais longínquo e recôndito de nós próprios evocativa de ambientes negros e sombrios irá encher as duas salas selecionadas para a ocasião. Este quarteto dinamarquês conta com vários registos, cada um deles com uma identidade muito própria. Desde o EP Peyote em 2007 até ao mais recente The Flow in Between percorreram um longo e tortuoso caminho, que se reflecte um pouco nas suas composições, assim como o gosto pelas composições de Ennio Morricone ou The Blue Angel Lounge.

Desde o melancólico Peyote em 2007, passando pelo cinematográfico Hallucinations of Beauty teremos oportunidade de ser invadidos pelas complexas melodias ambientais que que o quarteto desenha sob uma mão cheia de influências.

Música em DX – Podem apresentar-nos os Tales of Murder and Dust e contar-nos como começaram a banda?

Tales of Murder and Dust – Os quatro membros originais dos Tales Of Murder And Dust conheceram-se no secundário. Estávamos todos a aprender a tocar os nossos próprios instrumentos, por isso acabámos por aprender juntos e desenvolver as nossas capacidades ao mesmo tempo.

Tivemos algumas alterações na formação e quando lançamos The Flow in Between já não estávamos todos na banda. Actualmente apenas dois dos membros da formação original se mantém mas juntaram-se a nós um baixista e um teclista.

MDX – Como escolheram o nome para a banda?

Tales of Murder and Dust – Como tocámos juntos durante muito tempo passámos juntos por muitas mudanças a nível musical e por conseguinte também acabamos por ter muitos nomes diferentes. Quando nos mudámos para Aarhus decidimos formar a nossa encarnação final e aí precisávamos mesmo de encontrar um nome. Basicamente fechámo-nos num quarto e decidimos que não sairíamos enquanto não tivéssemos um nome. Ficámo-nos por Tales of Murder and Dust. À medida que a nossa musica se desenvolveu sentimos que talvez o nome estivesse um pouco ultrapassado mas decidimos mantê-lo por uma questão de continuidade.

MDX – Como desenvolvem as vossas músicas?

Tales of Murder and Dust – O nosso guitarrista e vocalista é quem faz o rascunho e traz a maior parte das músicas para os ensaios. Às vezes esses rascunhos vêm quase finalizados e apenas testamos a música no ensaio para ver se funciona bem ao vivo. Outras vezes esse rascunho consiste apenas num riff a partir do qual toda a banda entra no processo de construção até à sua forma final.

MDX – Ouvi os vossos trabalhos e desde o Ep Peyote e notei bastante mudanças. Foi algo que procuraram ou simplesmente aconteceu?

Tales of Murder and Dust – Tanto a sonoridade como o próprio estilo foram progredindo à medida que nos fomos desenvolvendo enquanto banda. Já passaram dez anos desde que começámos a trabalhar Peyote. Tinha e continua a ter uma vibração muito Lo-Fi. A primeira vez que entrámos num estúdio foi para gravar Skeleton Flowers. Até aquele momento só tínhamos feito coisas na solidão dos nossos quartos e no nosso local de ensaio. Não tínhamos ideia nenhuma sobre o que estávamos a fazer, éramos uma banda de garagem. Para o Hallucination of Beauty já tivemos um equipamento muito melhor, mas ainda não percebíamos muito de mistura e produção por isso existem ali alguns erros lindíssimos que acabam por se tornar uma assinatura especial naquele disco. Há muito mais barulho nele mas ao mesmo tempo criou-se um sentimento suave, leve e sonhador, que faz com que quando o ouvimos hoje contrarie o peso subjacente ao mesmo.

Skeleton acabou por ser uma experiência onde crescemos muito e aprendemos mais sobre que tipo de expressão queríamos ter. No entanto os elementos primordiais na criação das nossas musicas mantiveram-se os mesmos. Uma ideia ou uma canção quase finalizada que testamos no nosso espaço de ensaio que depois gravamos e misturamos com todos os instrumentos de que dispomos de forma a criar uma canção única.

MDX – O vosso ultimo disco The Flow in Between já foi lançado há quase dois anos, em Março de 2016. Já estão a trabalhar num novo disco?

Tales of Murder and Dust – Sim, já estamos a trabalhar num álbum novo. Vamos para estúdio assim que terminar a tour. Na verdade já estamos a trabalhar nele há mais de um ano. Planeávamos lançar um single agora, mas em vez disso vamos fazer um lançamento especial com a Fuzz Club a qualquer momento onde vão figurar algumas das nossas músicas antigas e algumas do nosso novo álbum. No entanto a forma de criar um novo álbum é sempre algo imprevisível. Todos nós trabalhamos ou estudamos por isso o tempo dedicado a criar pode sempre variar…

MDX – Este foi o vosso primeiro álbum com a Fuzz Club. Como é que chegaram até à Fuzz?

Tales of Murder and Dust – Nós sempre nos quisemos juntar à Fuzz Club, e quando o álbum estava quase pronto descobrimos através do nosso agente que eles estavam interessados e enviámos o nosso material. Já havíamos tido alguns contactos com eles quando participámos no segundo volume da compilação Reverb Conspiracy, por isso tínhamos noção do quão fantásticos eles são e estávamos confiantes em relação a trabalhar com eles.

MDX – Durante esta década quais foram os maiores que os Tales of Murder and Dust enfrentaram?

Tales of Murder and Dust – O maior desafio tem sido constante e é conjugar a nossa disponibilidade para andar em tour. Perdemos muitos membros ao longo da nossa existência por que a vida lhes ofereceu outras oportunidades que tornaram incompativél a vida de andar em tour. Nunca nos notabilizámos muito no nosso país, por isso poder sair e tocar, agradecer aos fãs que temos lá fora que sempre nos apoiaram desde que começámos a atravessar fronteiras em 2013 é fundamental para o que somos enquanto banda e para que seja possível continuarmos a fazê-lo. Houve muitos momentos em que pensámos desistir precisamente porque tem sido uma luta muito grande para encontrar o nosso lugar na Dinamarca. A parceria com a Fuzz Club foi um passo em frente que nos levou a perder dois dos nossos membros logo a seguir ao lançamento do disco. Nos meses seguintes tivemos de redimensionar a nossa forma de tocar ao vivo de porque agora só teríamos uma guitarra e ao mesmo tempo tínhamos um novo baixista. Foi mais ou menos..”Ok nós tratamos disto. Vamos fazer isto funcionar!”

MDX – Como é que se definem neste momento em relação ao género de sonoridade que estão a fazer? Alguns falam em Psych-Folk/Surf sobre o Peyote, mas depois disso as coisas parecem ter mudado um pouco e aproximaram-vos mais das novas sonoridades do psicadelismo e shoegaze com algum Póspunk à mistura … Qual é a vossa opinião?

Tales of Murder and Dust – Sabemos que as pessoas precisam rotular as coisas para as compreender e colocá-las num determinado contexto de cultura do tempo, do espaço e da música – especialmente quando se está a promover música. Nunca tentámos deliberadamente encaixar num determinado género – acabámos de chegar lá. Até The Flow In Between, tivemos dois compositores com gostos e ideias muito diferentes, e as nossas influências também mudaram ao longo dos anos. Sentimos que o rótulo folk/surf pode ser um pouco datado em comparação com o que estamos a fazer agora. Na verdade, quando começámos, gostávamos bastante e ouvíamos bastante musica mais dentro desse género…uma infiltração periódica de Morricone levou a “Peyote” – dos quais foram alguns ecos de Hallucination of Beauty. Mas, no Skeleton Flowers, sentimos que nos tornamos totalmente diferentes.
Apenas seguimos o fluxo, porque na verdade não podemos ditar às pessoas como perceber uma banda – é uma coisa totalmente subjetiva e não queremos gastar tempo a explicar às pessoas para que nos percebam de acordo com as nossas expectativas de nós mesmos. Isso seria extremamente pretensioso! Quem sabe, talvez possamos fazer algumas coisas de inspiração popular novamente no futuro!

MDX – Habitualmente quem faz as capas dos vossos álbuns?

Tales Of Murder and Dust – Somos nós. O nosso antigo guitarrista fez o dos nossos primeiros três trabalhos e o nosso antigo baixista fez o de The Flown in Between. O nosso actual teclista tem feito alguns posters e outras coisas ao longo dos anos também.

MDX – Que bandas ou artistas vos influenciaram mais quando começaram?

Tales of Murder and Dust – Nós crescemos com as música de Leonard Cohen, Bob Dylan e Neil Young e foi algo que foi sempre comum a todos nós. Mas quando começámos os nosso gostos musicais eram muito diferentes. No entanto chegámos a um ponto enquanto banda em que em conjunto tínhamos coisas com The Velvet Underground, Sonic Youth ou Black Angels.

MDX – Têm alguns guilty pleasures musicais?

Tales of Murder and Dust – Depende a quem perguntas na banda. O lixo de uns é o tesouro de outros. O nosso motorista e querido amigo mostrou-nos os Statler Brothers, o disco Flowers on the Wall numa das nossas viagens e agora sempre que se proporciona ou que alguém está para aí virado ou simplesmente porque estamos um pouco em baixo ouvimos esse disco. Na nossa última tour andávamos numa de rap old school. Às vezes o Rei Leão, a tocar bastante alto porque precisamos de manter o motorista acordado.

MDX – Que bandas ou músicos consideram os vossos “clássicos”, aqueles a quem regressam sempre?

Tales of Murder and Dust – Nico, The Velvet Underground, os Warlocks… têm sido presenças muito inspiradoras desde o nosso início. Toda a música dos The Blue Angel Lounge’s também tem constituído sempre uma grande fonte de inspiração.

MDX – Qual foi o vosso concerto mais memorável?

Tales of Murder and Dust – Isso é difícil de responder porque cada um de nós sente os concertos à sua maneira… podemos fazer um concerto espectacular para uma pequena audiência que está um pouco afastada e por isso torna-se difícil receber algum feedback do público e isso acaba por reflectir a nossa experiência. Ainda assim damos sempre 110% no palco, mesmo que não consigamos sentir o público. O nosso concerto mais recente foi em Aarhus, como banda suporte dos Black Rebel Motorcycle Club e foi provavelmente o nosso melhor concerto até hoje. Tivemos um técnico de som fora de série e o público foi espetacularmente generoso. Funcionou tudo. Foi uma experiência muito boa. A nossa última vez em paris também foi muito divertida, porque os parienses são loucos, mas de uma forma boa.

MDX – Se tivessem uma máquina do tempo com quem ou onde gostariam de tocar? Ou a que concerto gostariam de ir…

Tales of Murder and Dust – Possivelmente o concerto de Nico na Catedral de Reims em 1974. Teria sido fabuloso.

MDX – Conhecem algumas bandas portuguesas?

Tales of Murder and Dust – Sim! Dead Combo e 10000 Russos!

MDX – O que podemos esperar dos vossos concertos em Lisboa e Leiria?

Tales of Murder and Dust – Podem esperar umas faixas novas… e uma banda que está super excitada por tocar em Portugal pela primeira vez. Alguns de nós já visitaram Portugal e estão muito felizes por voltar.

MDX – Qual foi a última música que ouviram?

Tales of Murder and Dust – Foi “Blue Crystal Fire” de Robbie Basho.

MDX – Obrigada pela vossa disponibilidade e vemo-nos em Lisboa!

+Info em talesofmurderanddust.bandcamp

Entrevista – Isabel Maria