O tempo de espera tornou-se inquietante e, apesar de já nos terem sido apresentadas algumas músicas ao vivo do último álbum, o nervoso miudinho sobe sempre à cabeça e cria ânsia da degustação do álbum completo em cima de um palco. A noite era só deles, e não podia ter sido de outra maneira!
Aconteceu na passada quinta-feira, dia 25 de Janeiro, no RCA Club uma festa de celebração da boa música e de um grande álbum, uma festa partilhada com uma família que sabia bem para o que ia. Por volta das 22h30 dava-se o mote de partida para aquela que seria uma viagem ofegante, quente e complexa. O percurso dividia-se em três partes terminando com um sabor de completude que nos deixaria a estremecer.
Se lançar um álbum com tamanha grandiosidade como este Homónimo é difícil, mais difícil se torna fazer com que vingue em palco! Pela primeira vez, pudemos mastigar, degustar e engolir o novo álbum destes quatro rapazes, tendo terminado cheios de água na boca e desejo por mais. O pato, aqui, ganhou mais consciência, consistência e poder, fazendo desta viagem um momento inesquecível de intensidade perfeita!
Posso considerar os The Quartet of Woah! como a representação humana dos 4 elementos da natureza: a terra, o ar, a água e o fogo. Cada um tem a sua função bem delineada e complementa-se entre si de uma forma transcendental. Em cada faixa passamos pelas 6 mudanças da caixa que puxa um motor e caminhamos por diferentes graus de intensidade e construção que nos apertam o peito e tiram o ar. O eco espalha-se pela sala e fica em nós! Se fecharmos os olhos podemos sentir cada acorde, cada palavra e cada batuque a ameaçar levantar-nos o corpo do chão. Há uma espécie de elevação que nos gera desconforto pela desordem mental que sentimos.
Ao longo das quatro faixas sentimo-nos capazes de assumir várias personalidades e vivê-las em simultâneo, tal James McAvoy em Split. Podemos, igualmente, sentir no próprio sangue, a guerra entre o anjo e o diabo por uma posição! Nestas quatro faixas, cada instrumento de intensifica mais e as várias tonalidades vocais aplicadas conseguem, por momentos, fazer-nos sentir medo! O medo bom de quem tem receio de saltar, mas salta e embrenha-se em toda uma construção que nos abana e nos faz perder o chão. Mantenho, em tudo, as sensações descritas aquando da audição do álbum, acrescentando a intensidade do concerto ao vivo onde a música nos toca directamente a pele. Poderia dizer que esta primeira parte poderia compor a banda sonora de um filme de Alex Proyas!
“Machine” abria a segunda parte do concerto que passou a correr! Percorremos a inquietação sábia de “Balance”, “Prodigal Son”, “Taste of Hate” e “Announcer”, sentido, nos presentes, o sentimento de conquista e deleite! Duas músicas novas foram apresentadas, ainda sem nome, mas já donas de uma brutalidade que nos faz desacreditar de tudo e desejar que aquele momento congele no tempo! Falo, em especial, do segundo single apresentado, que nos serviu entrada, sopa, prato principal e sobremesa!
O encore fez-se anunciar com “Ultrabomb”, as teclas mágicas à Manzarek do nosso Rui em “Empty Stream” e a enternecedora “Path Of Our Commitment” que levou Gonçalo ao chão.
A verdade é que já fazia falta um concerto exclusivo destes rapazes. Um concerto onde, por duas horas, o nosso coração sofreu taquicardias distintas conforme ia acompanhando a grandeza musical que sentia entrar pelos poros. Queremos mais noites onde o ar falte e o chão nos falhe! Onde, acima de tudo, nos façam ter orgulho na música que se faz em Portugal! Obrigada The Quartet of Woah!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Nuno Cruz