2018 Crónicas Festivais Opinião Primavera Sound

E se estes dez artistas fizessem a dobradinha para o NOS Primavera Sound 2018?

Finalmente se chegou àquela altura empolgante do ano em que o cartaz do Primavera Sound de Barcelona é divulgado ao grande público para que este rejubile com a qualidade de artistas que irão encher o Parc del Fòrum com música para todos os gostos.

O Primavera Sound tem-se afirmado como um dos festivais europeus de excelência, fruto do seu cartaz rico e eclético, conciliando nomes consagrados e em ascensão, englobando diversos géneros musicais; para 2018, Barcelona contará com nomes tão fortes como Arctic Monkeys, Bjork, The National, Lorde ou Nick Cave And The Bad Seeds como os cabecilhas do evento espanhol.

Nos últimos anos, mais concretamente a partir de 2012, este festival espanhol começou a ganhar todo um novo relevo entre o círculo de festivaleiros portugueses quando surgiu o NOS Primavera Sound. Com a gíria comum a denomina-lo como sendo uma espécie de ‘irmão’ do evento de Barcelona, o festival do Porto partilha uma quantidade considerável de nomes com o seu mais velho, ou não fosse uma semana o espaço de tempo que os separa. Como tal, muitos são aqueles que aguardam ansiosamente para ver quais os nomes que irão também constar no NOS Primavera Sound.

Apesar de três dos cabeças de cartaz do Primavera Sound já constarem no alinhamento de outros festivais portugueses, a par com dezenas de outros artistas, ainda há a possibilidade de muitas surpresas serem reveladas na próxima quinta-feira, dia 8, quando o cartaz do Porto for revelado. Para tal, e em jeito de antevisão, a Música em DX deixa aqui uma breve lista de artistas que, a nosso ver, seriam uma mais-valia no NOS Primavera Sound e que se juntariam aos já praticamente confirmados Nick Cave And The Bad Seeds e Nils Frahm.

Arca

Alejandro Ghersi carrega na sua bagagem feitos impressionantes: para além de ter assinado três discos em que todos foram rompidos severamente de elogios, a sua faceta enquanto produtor levou a que colaborasse com artistas tão consagrados como Bjork, Kanye West ou Frank Ocean.

Arca é eletrónica experimental no seu estado mais belo e puro, onde melodias que oscilam entre o envolvente e o ambiental são acompanhadas pela voz sensual, com o seu quê de charmosa, de Alejandro Ghersi, numa junção entre elementos tão harmoniosa cujo resultado final só poderia ser um dos melhores registos eletrónicos que se tem ouvido ultimamente. A esta alienação de fatores, junta-se o facto do seu mais recente disco remontar a 2017 e de Arca nunca ter atuado em Portugal, esperando-se que 2018 seja finalmente o ano em que esse ciclo será quebrado.

Belle and Sebastian

Os Belle and Sebastian passaram pelo NOS Primavera Sound há relativamente pouco tempo, em 2015, mas o ambiente festivo e contagiante causado por este grupo de indie pop de Glasgow nunca pecará por escasso, com os seus concertos a serem uma alegria constante do início ao fim.

Em Dezembro último, a banda lançou a primeira parte da trilogia de EPs How To Solve Our Human Problems, com os seus sucessores a serem lançados neste ano de 2018, o que garantidamente asseguraria a questão de existir novo material para presentear o público português. Tendo em conta que a última passagem dos Belle and Sebastian por Portugal não se chegou a concretizar – tinham agendado um concerto no Coliseu dos Recreios que acabaria por ser cancelado – uma presença no NOS Primavera Sound seria um ótima forma para que a banda se redimisse, levando a cabo um excelente concerto como tão bem nos habituaram.

Chromeo

Há uma energia contagiante na sonoridade de Chromeo, capaz de nos deixar a bater pé num metro, a abanar a cabeça pela rua ou a dançar pela casa. No momento em que a dupla canadiana surgiu com o seu cruzamento entre funk com eletrónica que a sua música correu pistas de dança pelo mundo inteiro com o objetivo único de deixar dançarinos improvisados com um sorriso de orelha a orelha.

Depois do edição do ano passado ter demonstrado que até a música eletrónica mais comercial tem espaço e público no NOS Primavera Sound, em que os Justice conseguiram incendiar a plateia do Palco NOS, tudo nos leva a crer que os Chromeo lhes sigam as pegadas. Com novo álbum a ser lançado este disco, as sonoridades festivas da dupla, cujo sabor atinge o pico do nosso paladar durante o Verão, seria a melhor forma de dar-se como inaugurada a estação do ano mais calorosa no ano; assim como o NOS Primavera Sound dá como iniciada a época dos ‘festivais de Verão’.

Fever Ray

Sem dúvida que uma das confirmações no cartaz do Primavera Sound de Barcelona que mais saltou à vista foi a inclusão de Fever Ray, isto após um extenso período em que a sueca Karin Dreijer esteve afastada dos palcos com este seu projeto. Todavia, com o lançamento do excelente Plunge, lançado o ano passado, a porta está aberta para que a artista veia finalmente apresentar o seu vibrante mundo eletrónico a Portugal.

Provando que há vida para além de The Knife, Karin Dreijer surpreendeu tudo e todos com Fever Ray, onde as oscilações no seu timbre vocal, de estridente a profunda, conciliada com melodias ou enérgicas ou suscetíveis a estados de transe, fruto das inúmeras possibilidades que as tecnologias de hoje em dia conseguem produzir, Fever Ray é uma roleta russa na medida em que nunca sabemos com o que nos vai presentear. Ao nosso ver, e com base do (quase) dançável último disco, seria uma aposta certeira para o Palco Pitchfork numa noite que tudo teria para ser eletrizante.

Grizzly Bear

Preenchendo a lacuna de indie rock nesta lista estão os Grizzly Bear. Cinco anos é um período de tempo deveras extenso quando se fala de regressos de artistas a certos países, e algo leva-nos a crer que aquele que nos separa do quarteto americano irá terminar já este Verão, especialmente quando se tem um disco novo.

Depois de terem marcado presença na segunda edição do NOS Primavera Sound, na altura para apresentar o seu novo trabalho, que os Grizzly Bear têm trabalho arduamente no seu sucessor. Com Painted Ruins a esfriar os quentes dias de Agosto passado, facilmente se foi ganhando afeição ao quinto disco de originais da banda, sendo notório o seu amadurecimento enquanto artistas e a sua pré-disposição em inovar na sonoridade. Num mês também ele caracterizado pelo seu calor, nada melhor que contar com a presença dos Grizzly Bear para nos acudirem com as suas lufadas de ar fresco, aquelas que têm causado e que embelezaram o indie rock destes últimos anos.

Lorde

De todos os nomes a figurar esta lista, Lorde é muito provavelmente aquele que mais dificilmente constará no cartaz do NOS Primavera Sound, com a magnitude que paira sobre o seu nome, cachet e datas de tournée a serem sérios entraves. Todavia, o facto de ainda nenhum festival ou promotora ter anunciado esta nova estrela da pop em Portugal para 2018, leva-nos a crer que o festival do Porto possa ter uma forte surpresa no seu alinhamento.

Lorde tem vindo a destacar-se dentro do mundo pop com o seu timbre sombrio bastante característico, um oposto da doçura típica que paira na música comercial, a que se junta também a forma como retrata tumultos da juventude de uma forma tão madura e consciente, captando as emoções dos ouvintes pelo meio de um ilustre leque de canções. Com o seu primeiro disco, tanto David Bowie como Dave Grohl defendiam que Lorde veio salvar a pop, algo que a artista confirmou com o mais recente Melodrama, facilmente um dos álbuns de 2017 e que seria uma adição de peso ao alinhamento do NOS Primavera Sound.

Rhye

Escolher uma banda que marca presença em palcos portugueses há três anos consecutivos para esta lista tem o que se diga, especialmente tendo em conta que há artistas que nunca vieram ao nosso país ou que não passam por cá faz tempo. Contudo, Blood, lançado há uns dias, adoçou-nos o apetite e o desejo de ter Rhye novamente connosco.

No segundo disco de originais, que levou quase cinco anos a ganhar forma, o projeto de Milosh alcançou finalmente o expoente máximo daquilo que se predispôs desde o início: um R&B eletrónico que demonstra o quão sensual e absorvente uma canção consegue ser. Neste mais recente trabalho de originais, Milosh conseguiu tornar as suas canções em obras verdadeiramente hipnotizantes, com uma componente sensual de teor tão elevado que nos deixa completamente rendidos logo na primeira audição, com o aconchego causado pelas músicas de Rhye a obrigarem-nos a repetir a experiência vezes e vezes sem conta. Num local tão absorvente e naturalmente belo como o do Parque da Cidade, prevê-se que este poderá ser o derradeiro concerto de Rhye em Portugal, com o fechar da tarde no horizonte a carimbar o cenário perfeito que a música de Rhye exige.

Tyler, The Creator

Os amantes de hip-hop em Portugal deliraram quando o Super Bock Super Rock confirmou a presença de Tyler, The Creator no seu cartaz do ano passado. Infelizmente, pouco tempo depois, o artista viria a cancelar toda a tournée europeia, caindo assim em terra a oportunidade de ver um dos rappers mais carismáticos da atualidade. Porém, a esperança poderá reviver já na próxima quinta-feira, ou não fosse Tyler, The Creator um dos artistas a constar no alinhamento do Primavera Sound de Barcelona.

O NOS Primavera Sound sempre se destacou pela forma como não menospreza o hip-hop, trazendo sempre artistas do género ao Porto e, numa altura em que a procura por este estilo está com cada vez mais adesão por parte do público português, trazer um dos rappers mais pretendidos do momento era uma jogada em grande pelo NOS Primavera Sound, especialmente quando Tyler, The Creator tem um disco novo na bagagem. Além disso, o rapaz até que nos deve um pedido de desculpas…

Vince Staples

Tal como sucede com Lorde, Vince Staples é dos nomes mais improváveis de fazer a dobradinha pelo ‘nosso’ NOS Primavera Sound. Contudo, se tal acontecesse, estaríamos perante um forte candidato a encabeçar um dos dias do festival, ou não tivesse, a par de DAMN de Kendrick Lamar, um dos melhores discos de hip-hop do ano passado, o celebrado Big Fish Theory, comprovando que Vince Staples é um dos mais promissores rappers da atualidade.

Talentoso e revolucionário naquilo que faz, Vince Staples tem recebido inúmeros elogios, prevendo-se que tenha uma carreira de sucesso pela frente. Sendo o NOS Primavera Sound que não só apoia o hip-hop como também traz estes artistas em primeira mão – tanto The Weeknd como Kendrick Lamar estrearam-se em Portugal neste mesmo festival – algo nos leva a crer que a derradeira estreia de Vince Staples se faça este ano, num concerto que tudo terá para ser recordado por muitos e muitos anos.

The War On Drugs

É certo e sabido que o rock’n’roll tem vindo lentamente a dissipar-se pelo panorama musical internacional, residindo maioritariamente em artistas e bandas que se foram tornando ícones dentro do género. Todavia, em pleno 2018, ainda há bandas que surgem e que conseguem acatar a responsabilidade que é de revitalizar o rock, de mostrar que o rock consegue ser atual; é nessa linha da frente que encontramos os The War On Drugs.

Os The War On Drugs conseguiram reviver o rock’n’roll típico dos anos 70, popularizado por Bruce Springsteen e Tom Petty, ao mesmo tempo que implementaram um cunho de modernidade com o psicadelismo dos dias de hoje, criando uma sonoridade única e inigualável. Apesar de o caminho do sucesso só ter aparecido em 2014 com com Lost in The Dream, seguindo-se A Deeper Understanding, lançado o ano passado e que foi recentemente premiado com um Grammy, os The War On Drugs celebram, em 2018, dez anos desde que o seu primeiro disco de originais, Wagonwheel Blues, foi lançado. Porque não levar as celebrações ao NOS Primavera Sound?

Texto – Nuno Fernandes