O irlandês Adrian Crowley regressou esta quinta-feira, dia 8, a Portugal – dez anos depois da sua atuação na cidade do Porto – e o pretexto foi Dark Eyed Messenger, o seu trabalho mais recente, editado no final do ano passado. O Musicbox foi o espaço escolhido, revelando-se, mais uma vez, bem acolhedor em contraste com o imenso frio que se fazia sentir nas ruas do Cais do Sodré. Adrian Crowley trouxe consigo a anglo-libanesa Nadine Khouri, para esta cumprir a missão de aquecer o público antes da chegada do cabeça de cartaz da noite, como também a de com ele interpretar alguns temas.
Nadine Khouri sobe ao palco por volta das 22h30 e de imediato somos levados pela sua beleza – vocal e física – e por uma simpatia que se revela do mais sincero e honesto possível. Nesta altura, já a sala do Musicbox encontrava-se bem composta, recebendo com amabilidade esta senhora de voz potente, mas ao mesmo tempo cristalina. Nadine Khouri apresenta-se sozinha, acompanhada pela sua guitarra Gretsch e respetivos efeitos, e com a ajuda de loops e overdubs. A dado momento, Adrian Crowley sobe ao palco para se sentar no piano e com a sua ajuda, e da respetiva voz, acompanhá-la por alguns instantes. Logo aí se percebeu que as duas vozes se “entendiam” bastante bem.
Breve intervalo para poucos minutos depois ser a vez de Adrian Crowley subir ao palco e assim ajudar o público português a matar saudades deste irlandês que há dez anos não tinha uma atuação por cá. A toada não muda muito em relação à atuação de Nadine Khouri, mas desde logo somos confrontados com algo fora do comum, pelo menos quando olhamos para o dia-a-dia “louco” do homem europeu do século XXI, em que quase não há tempo para saborear as coisas boas da vida. Com este senhor, não há lugar a ansiedades ou a situações de stress e isso reflete-se na sua música, caraterizada por pausas calmas e demoradas entre as notas e as palavras cantadas. Não deverá haver muitos humanos a conseguir interpretar canções àquele ritmo, em que a média das BPM (batidas por minuto, que normalmente informam-nos da velocidade rítmica das músicas) dos temas deve rondar um valor próximo das 60.
Adrian Crowley começa por se sentar, novamente, nas teclas, para depois também ele se dedicar, de alma e coração, à guitarra Gretsch. Mas o silêncio é algo que está sempre presente na sala, ao ponto de tudo se ouvir, desde o barulho das máquinas fotográficas a registarem o momento para a prosperidade ao som de um smartphone quando é bloqueado.
Na parte final do espetáculo, e tal como esperado, Adrian Crowley chama Nadine Khouri para ao pé de si, e os dois cantam em conjunto por algum tempo, para, depois, terminar novamente sozinho em palco, acompanhado da guitarra e de dois pequenos holofotes a ele apontados, fazendo com à que sua volta tudo fosse escuro, ocupando essa escuridão a quase a totalidade do cenário.
O trabalho do cantautor irlandês foca-se no contar de histórias – tanto nas canções como também nos intervalos entre elas – usando para isso a sua voz grave e sussurrada. A guitarra, as teclas e o software do seu computador, ajudam a dar brilho ao que se vai cantando – ou será contando?! É um tipo de música que não é propriamente fácil de ser assimilada, já que também nós somos levados a atirar para trás das costas qualquer espécie de ataque de ansiedade ou de desejo de que as coisas acabem para partir em direção a outro destino.
Texto – João Catarino
Fotografia – Nuno Cruz