Esta sexta-feira à noite o Sabotage Club, no Cais do Sodré, o Sabotage Club encheu literalmente para reencontrar os 10000 Russos e assistir à estreia dos norte-americanos de Detroit, Moonwalks. Dois trios de músicos, cada um com as suas especificidades mas imersos em rock n’roll.
Os 10000 Russos ainda na esteira do álbum mais recente, editado em maio de 2017, Distress Distress e os Moonwalks a apresentar o mais novo registo In The Light (The Scales In The Frame) prometiam uma noite quente e radiante, promessa de um inicio de fim-de-semana animado.
A noite começou devagar e apesar do cardápio musical ser de elevada qualidade a sala demorou algum tempo a apresentar-se composta para receber as bandas, o que aconteceu por volta das 23.30 momento em que os 10000 Russos entraram em palco para nos brindar com Germinal e Us Vs. Us.
O público ondulava nas vibrações do baixo de André e nos estampidos da bateria de João Pimenta enquanto a guitarra de Pedro Pestana os guiava, mas sem rumo. Tudo isto devidamente acompanhado por uma projecção minimalista mas que amplia toda a experiência. Um concerto não muito diferente do que nos têm vindo a oferecer e que mostra como as músicas que construíram juntos em Distress Distress continuam a evoluir à medida que vão sendo tocadas e adquirindo algumas camadas e texturas de som diferentes o que faz com que todas as experiências de concerto deste trio se tornem únicas, sendo exactamente isso, mais que concertos, são experiências. Uma deambulação ou uma peregrinação, na verdade todos os sons parecem conduzir-nos a algum lado, e isso está mais que em qualquer outro sitio dentro de nós próprios. Uma introspecção não muito programada, não é fácil um estado assim rodeado de mais de uma centena de pessoas. Foi sobre fortes aplausos que terminaram com Ashkenasi, música que figura num split que partilham com os The Oscilation.
O público queria mais mas há que ter em conta que ainda temos mais uma banda para ver e por isso há que avançar. No entanto a verdade é que muita gente se deslocou ali para ver os 10000 Russos e por acaso ali encontrou os Moonwalks. Alguns minutos volvidos das 00.30 entrava em palco o trio de Detroit. Simpáticos mas tímidos, juvenis mas seguros de si, começaram com UFO Factory de Lunar Phases, que reconhecidamente nada traz de novo, mas que ao mesmo tempo é de uma frescura que vibra em nós e perdura. Dust Is Magic, onde a simplicidade da bateria de Kerrigan Pearce cujo o ar cândido e desligado, de olhar perdido no fundo da sala como se vislumbrasse um longínquo pôr-do-sol, nos leva ao engano pois Kerrigan e a baixista Kate Gutwald são de facto a base que sustenta a magia que depois sai da guitarra e da voz indolente de Jake Dean. Por seu turno a baixista Kate Gutwald parece também ela fora de si própria como se o baixo guiasse as suas mãos e não o contrário. A sensação que tive várias vezes foi que a banda estava deveras surpreendida pela sala cheia que tinham para os receber, tendo timidamente agradecido pela voz de Jake Dean. Ainda vão crescer, isso consegue ver-se bastante bem, mas o que já tem é meritório.
Uma noite feliz, completa, com muitos a estrearem-se como espectadores dos 10000 Russos e agradados com a surpresa dos Moonwalks. Ambas as bandas desempenharam o seu papel na perfeição e deixaram em nós aquele sentimento de plenitude, aquela satisfação reservada às boas decisões e às boas surpresas, com um misto de esperança cega no futuro. Ainda agora estamos a meio do Inverno e já tivemos tantas noites quentes.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus