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Entrevista com os The Gift, “23 anos de música que será alinhada da maneira que melhor servir os espetáculos”

Os The Gift apresentam o seu mais recente trabalho – Altar, produzido pela lenda viva Brian Eno – nos dias 2 e 3 de março, respetivamente nos Coliseus do Porto e de Lisboa. Falámos com eles a propósito do trabalho desenvolvido com Brian Eno e do que podemos esperar destes dois concertos em salas tão especiais.

Música em DX (MDX) – Quais foram as razões para a escolha de Brian Eno para a produção de Altar? Foi algum trabalho ou colaboração específica anterior da sua parte ou o poder eventualmente ajudar a dar projeção internacional aos The Gift?

The Gift, Sónia Tavares – Não foi nem uma coisa nem outra. Foi um feliz acaso. Cruzamo-nos com ele no Brasil, coincidentemente, ambos, Nuno e Brian, estavam a trabalhar num projeto sobre música nas favelas e daí resultou uma amizade, que se veio mais tarde a transformar também em trabalho. Após assistir a um concerto nosso, apaixonou-se pela banda e não hesitou quando lhe perguntei se queria fazer parte desta aventura.

MDX – Normalmente, quando Brian Eno colabora com algum projeto, isso corresponde a uma mudança de ciclo na vida dessa banda, consideram que com os The Gift também se verificou uma mudança de ciclo?

The Gift – Não, continuamos com os mesmos objetivos, os mesmos projetos, as mesmas características sonoras, somos apenas um bocadinho mais maduros e com as expectativas bastante assertivas. A experiência, essa sim ficará para sempre na nossa memória e marca o melhor período das nossas vidas.

MDX – Até que ponto o trabalho de Brian Eno influenciou o resultado final de Altar, nomeadamente ao nível da composição?

The Gift – Desde logo que o Brian nos disse que mais que um produtor, queria estar connosco na raiz das canções. Algumas chegaram-lhe completas, onde houve pouco a mudar, outras foram feitas em conjunto desde os primeiros acordes. O estúdio foi uma espécie de laboratório em que o Brian entendeu a nossa personalidade musical muito bem e foi um dos aspetos que quis enaltecer.

MDX – Como tem sido a reação do público às canções de Altar, estarão elas já tão assimiladas como as dos discos anteriores?

The Gift – É lógico que não, são 7 anos de “Primavera” e 12 de “Fácil de Entender”, talvez daqui a algum tempo, este “Big Fish” seja um clássico dos Gift, ainda que já seja cantarolado com alegria pelos palcos deste país e sobretudo fora de Portugal.

MDX – Qual será a abordagem de Altar nos concertos dos Coliseus, vão tocá-lo na íntegra e de seguida, segundo a sequência original?

The Gift – Não costumamos fazer alinhamentos com álbuns na íntegra nem segundo a sequência original. São 23 anos de música que será alinhada da maneira que melhor servir os espetáculos, ambos diferentes entre Lisboa e Porto.

MDX – Ao nível da componente visual, apostarão em algo em especial?

The Gift – Apostamos sempre no lado visual, uma vez que o encaramos sempre como um prolongamento estético da nossa música. Cenário e vídeo são obrigatórios, ainda por cima em salas tão especiais como os coliseus.

MDX – O Nuno Gonçalves referiu uma vez a importância dos The Cure na decisão por si tomada de ser músico profissional, será desta que vamos ouvir os The Gift a tocar o tema “Sinking” da banda de Robert Smith?

The Gift – Não

MDX – Já trabalharam com nomes como Howie B, Flood ou Brian Eno – todos eles também associados à carreira dos U2. Quem poderá vir a seguir, o Steve Lillywhite ou o Anton Corbijn, este ao nível da fotografia e do vídeo?

The Gift – Somos amigos do António Corbijn há já muitos anos, mas infelizmente, hoje em dia, não se justificam grandes investimentos em vídeos artísticos, uma vez que esse lado passou a ser célere e efémero para um púbico que recebe mais informação e a consome com muito mais rapidez.

Entrevista – João Catarino
Fotografia – Hans Peter | The Gift