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Black Rebel Motorcycle Club, Amor eterno!

Há vários tipos de amor, várias formas de sentir e se expressar. Há aquele amor intenso que aparece à primeira audição e conhecimento e que nunca mais desaparece. Aconteceu-me com Black Rebel Motorcycle Club quando o meu ouvido os conheceu! Desde aí, é um amor em estado crescendo onde há juras para eternidade e arrepios quentes de prazer! Falo de um amor cru, que usa as palavras certas e certeiras e sabe o que tem a fazer na hora certa.

Specter At The Feast, grande na sua essência, não podia prever o misto de sentimentos e sentidos que ia trazer Wrong Creatures! O oitavo álbum da banda deu-se a conhecer ao mundo a 11 de Janeiro, quase 5 anos após o seu antecessor e, até agora, posso dizer que é o álbum do ano!

Wrong Creatures mostra um chamamento por todas as formas que assumem criaturas dentro de nós. Uma espécie de convite ao despertar dos sentidos e uma abertura de portas para a entrega que ocorrerá durante a quase 1h de paixão. Existe uma dicotomia forte que confronta a força do rock’n’roll com a imaculada sensibilidade da melodia que transpira calma. Traz consigo uma poética quente, apaixonada, de revolta e, ainda, de loucura! O cabedal veste-se e a viagem pelas 12 faixas faz-se na melhor companhia possível.

Começam com uma introdução com sons da natureza meio idílicos e inquietantes, a respiração fica ofegante e as criaturas começam a acordar! Logo de seguida “Spook” traz-nos riffs sabiamente traçados com uma linha de baixo extremamente sensual que nos embrenha em nós próprios. Nada é eterno! Será tudo uma mentira ou poderemos nós controlar o mundo agarrados a uma força que vem das entranhas? Aqui sentimos um poder mágico e que nos empurra para o desconhecido. “King Of Bones” mantém o ritmo apetecível e o abanar de ombros sensualmente descontrolado que nos confronta com a inconformidade da plasticidade de que costumamos sofrer. Entramos em “Haunt” como se entrássemos num dia chuvoso. À nossa frente, uma estrada em linha recta e o conforto de um assento de um carro, há uma voz que sussurra e nos liberta a alma da prisão do corpo. De seguida, a música mais bonita e intensa do álbum: “Echo” traz consigo uma atmosfera intimista e arrepiante que nos transfere conforto imediato à primeira nota, como se consumissemos cada palavra e acorde como se da última gota de água se tratasse, com a intensidade de quem morre de sede e a completude de quem a mata. Há uma explosão de cores e sabores envoltos numa sagacidade inexplicável e sobrenatural. A voz de Robert, aqui, sente-se, toca-se e absorve-se de forma especialmente icónica como em mais faixa nenhuma.

“Ninth Configuration” apresenta uma distorção tranquilizante que nos indica o caminho para uma viagem serena terminando com uma energia intrigante que nos faz meter o pé ao travão na recta final. Em “A Question Of Faith” há um tambor apaixonante que nos comanda o coração e o cérebro, tornando-nos escravos que se ajoelham de olhos fechados num acto de entrega e submissão inexplicável. Há um íman que atrai um caos saboroso que termina com vozes a ecoar chamamentos nocturnos. De seguida perdemo-nos no deserto onde encontramos um círculo de fogo e tentamos descobrir-nos a nós próprios com “Calling Them all Away”. O single de apresentação de Wrong Creatures foi cautelosamente escolhido. Falo de “Little Thing Gone Wild” e o seu ritmo de tambores de índios e riffs contagiantes que nos aguça o íntimo e nos faz despertar o animal em nós, terminando com ecos de serpentes e a nossa vontade de as seguir. O tom de provocação agrava-se com “Circus Bazooko” com um ritmo irónico que nos transporta a uma rua deserta e nos deixa com vontade de dançar despidos sobre uma lua cheia, tal “Alabama Song” dos The Doors. Em “Carried From The Start” abraçamos uma mensagem pesada e extremamente forte acompanhada de uma revolta de um tambor cuidadosamente inquietante. Como é no fim que renascemos muitas vezes, “All Rise” revela-se uma balada de promessas onde podemos sentir tanto uma serenidade apaziguante como um transtorno saudável.

Mostram-se poucas estas minhas palavras para tudo o que este álbum me faz sentir. Porque a intensidade é um alimento que todos deveríamos ser capazes de digerir e saborear. Porque os arrepios são, aqui, uma constante e o estômago encolhe a cada nota. Porque este trio para além de saber o que faz, fá-lo demasiado bem. Porque, somos todos criaturas estranhas, para sempre!

Este álbum pode ser saboreado aqui.

Texto – Eliana Berto
Fotografia – Black Rebel Motorcycle Club