Backstage

Entrevista com Jaguwar, o Shoegaze que vem da Alemanha em força

Falámos com Oyèmi Hessou, baixista e vocalista da banda Jaguwar, trio Shoegaze alemão e onde encontramos também Lemmy Fischer nas vozes e guitarras e Christoph Krenkel na bateria. Têm um primeiro álbum intitulado Ringthing e vão marcar presença no festival SXSW no Texas. São uma agradável surpresa com as suas canções com alguma alma pop que prima pela diferença sónica.

Música em DX (MDX) – Começaram em 2012. Podes descrever resumidamente a história da banda até ao presente dia?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Sim, os Jaguwar começaram em 2012. A banda evoluiu de um projecto que tinha com o Lemmy. Queríamos fazer música indie que soasse apaixonada por paredes de som experimentais com um apelo pop e uma atitude punk. Tivemos várias mudanças na bateria até que finalmente conseguimos que o Chris se juntasse à formação em 2014. Lançámos dois EPs por nossa conta e que foram reeditados depois pela editora Prospect Records de Boston. Tocámos uns quantos concertos que pudemos pela Europa, gravámos algumas versões tributo de canções dos Telescopes e dos Ride para algumas compilações e decidimos finalmente gravar o nosso primeiro longa-duração em 2016, um disco que saiu em Janeiro deste ano via Tapete Records, editora de Hamburgo.

MDX – Não começaram com o típico arranque de lançar um álbum. Em vez disso, dois EP´s acabaram por ver a luz do dia antes de Ringthing. Foi uma decisão planeada? Deixar evoluir o som da banda antes de se comprometerem com um álbum?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Sim, foi definitivamente algo que planeámos. Inclusivamente pensámos fazer três EPs (Intitulados I, II e III). Acabámos por fazer só dois porque achámos que era a altura certa para fazer um álbum. As canções que tínhamos eram as que queríamos, e o nosso som o que havíamos imaginado que fosse. Mas sim, quisemos esperar até que tivéssemos algo realmente apresentável.

MDX O quanto difícil é para uma banda de Shoegaze independente entrar no mercado de concertos?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Bem, não é assim tão complicado. Começámos com muito DIY (do it yourself) e tocámos em todos os buracos que conseguimos. Quando não tens expectativas altas, consegues shows. Por fim, alguém te vai ver e pensa que estiveste bem e marca a banda para uma sala melhor para a próxima vez. Nós anteriormente também fizemos música em vários projectos, um grupo de pessoas já nos conhecia e tínhamos já alguns contactos que já nos apoiavam antes de formarmos os Jaguwar.

MDX Conseguiram o vosso contrato com a vossa label actual, a Tapete Records, depois de se proporem a fazer a primeira parte dos Telescopes, tal como está descrito na vossa biografia no Bandcamp. Como é que isso acabou por acontecer?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Sempre tentámos conseguir abrir para bandas de que gostamos. Quando soubemos que os The Telescopes vinham tocar à Alemanha, falei com o Booking da Tapete Records para saber se eles nos conseguiriam incluir nessa tour de alguma forma. Responderam que não era possível, mas que estavam a gostar da nossa música e que deveríamos entrar em contacto quando planeássemos fazer um longa-duração. E foi o que fizemos.

MDX – O meu primeiro contacto com o som dos Jaguwar foi através da label brasileira TBTCI com o disco Leave Them All Behind – A tribute to Ride, com a excelente interpretação que gravaram de “Today”, que atinge o ouvinte com ondas de guitarra noise. Como escolheram a canção e o arranjo?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Bem, quando o TBTCI pediu para contribuirmos para a compilação de Ride, ficámos excitados. Tínhamos ideia das canções que poderíamos querer fazer, mas acabámos por ser muito vagarosos e enquanto isso… todas as canções estavam escolhidas. Uma canção que ninguém queria era a “Today”. Sempre gostámos dela mas o nosso primeiro pensamento é que seria complicado fazer uma versão que soasse como nós e não exactamente como o original. Foi então que o foco incidiu no drum beat que ouves ao longo de toda a canção, fomos numa direcção full noise com ela e tudo isso mudou o arranjo vocal. Quisemos simplesmente que tudo soasse mais experimental, e é uma canção muito catchy, tentámos preservar isso, mas com mais noise.

MDX – Quem é geralmente o responsável pelas letras das canções? Por detrás das detalhadas guitarras atmosféricas, estão a cantar acerca de o quê? E liricamente, o que vos inspira?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Em grande parte sou eu a responsável pelas letras mas por vezes o Lemmmy também contribui. As letras das nossas canções mais antigas são ilustrações mais abstractas de sentimentos, não contam tanto histórias. Em Ringthing é a primeira vez que nós não só descrevemos sentimentos como também temos uma história que embora abstracta, existe. As letras são sobre o que experienciámos depois de nos mudarmos para Berlim.

MDX – Como resolvem quem vai cantar e em que parte? É um processo democrático ou, como em algumas bandas com dois cantores acontece, acabam por ter alguns arrufos acerca disso?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Vamos sempre pelo vibe da canção e por aquilo que se encaixa melhor. Por vezes descobrimos que eu devo cantar e não estando no meu alcance vocal, ou decidimos que o Lemmy a vai cantar ou transcrevemos para um outro tom para que eu a possa cantar.

MDX – Ringthing é o vosso primeiro álbum. Gosto muito de canções como “Crystal” e “Away” mas há mais, e o disco é bastante consistente. Quais são as tuas canções favoritas, e porquê?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Eu pessoalmente também gosto muito da “Away” porque a historia está ligada a uma história minha pessoal e realmente gosto da parte da guitarra acústica antes do último refrão. Todos na banda gostam muito da “Skeleton Feet”. Pensamos que é uma canção pop fantástica mas lutamos para a recrear ao vivo porque não é fácil de tocar. Parece fácil, mas não é. Acho que é uma boa canção pop.

MDX – Trabalharam para este disco num horário apertado durante as gravações ou foi mais relaxado? Parecem gostar de experimentar novos sons e mexer em pedais de guitarra. Diz-nos um pouco como foi o processo de gravações do álbum.

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Demorámos o nosso tempo. Começámos com a bateria durante cinco dias e então fomos para o estúdio aos fins de semana durante uns poucos meses.

Claro que gostamos de pedais e alguns dos sons foram desenvolvidos no processo de estar em estúdio. No entanto, todas as canções não são novas para nós, uma vez que já as tocávamos ao vivo por um ou dois anos, e sabíamos o que queríamos que elas se materializassem.

MDX – Muito obrigado por esta entrevista, Oyèmi. E planos para este disco ao vivo? Alguma hipótese de podermos ver ao vivo o “grande gato” aqui em Portugal em breve?

Oyèmi Hessou (Jaguwar) – Vamos tocar no SXSW em Austin (Texas) na próxima semana. Faz três semanas que demos alguns shows aqui na Alemanha. No Verão deste ano vamos fazer alguns festivais na Alemanha, e no Outono estamos a planear uma tour na Europa e, vamos ver se conseguimos ir a Portugal nessa altura, a ver vamos.

Entrevista – Pedro Corte Real
Fotografia (capa) – Maks Pallas