Decorreu a 7ª edição do Talkfest 2018, organizada pela Associação Portuguesa de Festivais de Musica – Aporfest, no dia 15 e 16 de Março. Dois dias recheados de talks, conferências e seminários para profissionais, imprensa e curiosos de Festivais de Música. Este ano a edição contou com a 3ª edição dos Iberian Festival Awards, atribuídos na passada 5ª feira dia 15 de Março, no Fórum Lisboa. Estivemos dia 16 à tarde no Museu das Comunicações a assistir a algumas das interessantes conferências.
No Auditorium I, logo ao início da tarde, foi debatido um tema extremamente importante na dinâmica dos festivais, “Activação de marcas – apenas para aumentar a notoriedade?”. Foi unânime na opinião dos oradores que, as marcas não estão nos festivais apenas para terem notoriedade. As parcerias são cruciais e inevitáveis para a concretização do evento. Todos os registos fotográficos e de vídeo dos festivaleiros, ou seja dos consumidores, fazem com que se perpetue o momento do evento através dos seus testemunhos. Existem festivais, que pela sua especificidade e ambiente natural, limitam e condicionam a criatividade das marcas. É o caso do Primavera Sound Porto, que por estar inserido no parque da cidade, e existirem alguns animais no recinto como os patos, as marcas têm que limitar a sua criatividade e respeitar os animais. Por outro lado, nem sempre é linear a questão das marcas dominarem o branding do festival, veja-se o caso do Rock In Rio pois é ele próprio uma marca.
As dificuldades inerentes à “Produção” dos festivais, também foram abordadas pelos produtores de vários festivais portugueses. A dimensão, as características do recinto, a localização são determinantes nas adversidades da produção. Por exemplo, o Festival Internacional de Música de Marvão, tem intrinsecamente muitos constrangimentos logísticos. O facto de se focar no registo de música clássica e, por esse motivo envolver uma grande quantidade de músicos e de instrumentos, faz com que os músicos de uma mesma orquestra fiquem alojados em hotéis distantes, o que dificulta a questão dos ensaios, por exemplo. Já para não referir a o transporte dos instrumentos, que têm que sair de Lisboa. Outros festivais mais urbanos, como o Lisb-On ou o RIR, deparam-se com constrangimentos intrínsecos às características ambientais dos próprios recintos. Os custos de produção do RIR, por exemplo, são muito elevados dado os cuidados permanentes com a relva do parque da Bela Vista. Já o Lisb-On, como se encontra no coração da cidade de Lisboa (Parque Eduardo VII), tem que se restringir com rigor aos limites de ruído permitidos pela autarquia. Essas restrições limitam a duração do evento, não podendo ultrapassar as 00h00. Mas o director do festival, Francisco Rebelo de Andrade, partilhou em primeira mão, que a próxima edição terá continuação pela noite dentro num local fechado.
Rafael Machado, produtor do Festival Semi-breve em Braga, é da opinião que o sucesso deste evento de música electrónica experimental se deve à arte de “bem receber”. E prova disso é o facto de muitos deles voltarem várias vezes e permanecerem até depois do festival. A equipa de produção acompanha os artistas nos jantares, o hotel onde ficam alojados é ao lado do escritório, todas as salas são muito perto umas das outras. Nuno Sampaio, produtor do recente festival Soam as guitarras, considera que a descentralização é importante e por isso, esta edição irá acontecer também na cidade alentejana de Évora. Além da descentralização, é importante que os festivais tenham autenticidade e originalidade, sendo cada concerto um momento único e que não se repita.
Espreitámos o Auditorium II, apresentações para profissionais, e fomos conhecer as novas tendas recicláveis Kartent e saber um pouco mais do glamping nos festivais de música. Através do estudo realizado pela Aporfest, sabemos que 40% dos festivaleiros escolhe o campismo como alojamento, e 25% dos campistas abandona a sua tenda no recinto do camping . As kartent são uma solução para os festivaleiros que não querem carregar a tenda nem perder tempo a montar as estacas e a esticar cordas. Este sistema é muito simples. A organização do festival vende packs com o bilhete e o alojamento (tenda). Acaba por ser um risco controlado dado que o festival compra as tendas conforme a procura que tem. Estas tendas são de duas e cinco pessoas, em cartão reciclável, altamente impermeável e com capacidade de resistência a temperaturas altas. O festivaleiro quando chega já tem a sua tenda montada e pode ainda ter a opção de alugar colchões, sacos de cama e toalhas de banho. O preço pode oscilar entre os 35€ e os 39€. Sabemos que a Kartente ainda não esteve em nenhum festival em Portugal, mas muito provavelmente iremos ver estas tendas de cor de cartão no próximo verão.
“Eu canto em português. Quais os contributos para o sucesso?”, foi uma das talks mais concorridas, e onde Tomás Wallenstein dos Capitão Fausto, Jimmy P, o agente Joaquim Fonseca (Glam), o Jorge Alexandre Dias (Rodellus) e a Sofia (em substituição do Tiago Pereira) da MPGDP estiveram à conversa com a Mariana Oliveira, jornalista da Antena 3. Entre várias questões, a que se destacou foi se o facto de se cantar em português limitava o sucesso do artista? Na generalidade dos oradores a resposta foi que não. O cantar em português não condiciona o sucesso internacional, e face à dimensão de Portugal, o sucesso no estrangeiro é muito importante. Tomás Wallenstein deu o exemplo dos Capitão Fausto, que ainda não começaram a tocar em países não lusófonos por opção dos próprios. As letras não são o mais importante, mas sim a canção no seu todo e concretamente a melodia da canção. Outros exemplos se deram, de artistas mais conhecidos no estrangeiro do que em Portugal. No entanto estes casos específicos têm uma parte do êxito externo na estratégia do próprio manager e do agente. Aliás, foi curioso a questão da autonomia e liberdade do artista, face às sugestões e aconselhamentos do manager. Foram unanimes na opinião de que, o artista tem que ser livre para criar, e não pode condicionar a sua trajetória artística às pressões comerciais.
Entre os documentários agendados, seleccionámos o “The Parkinsons – A Long Way to Nowhere” de Caroline Richards. Com muita pena nossa, a visualização foi cancelada por problemas de ficheiro, segundo o pessoal da organização. O programa Prova Oral da Antena 3 foi emitido no Museu das Comunicações e Fernando Alvim moderou o debate sobre “ para onde vão os festivais?”
A Aporfest está de parabéns pelo trabalho de angariação de sponsors, pois permitiu o conforto de todos/as os/as conferencistas.
Texto – Carla Sancho
Fotografia (capa) – Talkfest | APORFEST