Foi no ano de 2016 que os Whales, uma promissora banda de Leiria, surgiu no mapa da música alternativa portuguesa com o rompante single de estreia “Big Pulse Waves”. Dotados de uma energia frenética, os Whales vieram preencher uma lacuna no território nacional a nível do indie rock, único no nosso país mas que nos remetiam para os primeiros anos de vida dos britânicos Foals e do seu primogénito Antidotes.
Com o passar dos meses, os Whales como que despareceram dos radares, com a promessa do disco de estreia a acontecer em 2017 a parecer cada vez mais uma simples miragem. No tempo em que o silêncio abalou o grupo de Leiria, uma segunda vida aguardava no horizonte quando lançaram o primeiro avanço do seu disco de estreia, o single “How Long”, surpreendendo tudo e todos pela forma como as guitarras e baixos foram substituídos por sintetizadores e teclados.
Com duas músicas tão distintas, que poderiam ser facilmente associadas a bandas diferentes, pairava no ar a seguinte questão: estarão os Whales a enfrentar uma crise de identidade ou estarão simplesmente a reinventar-se enquanto banda? Após um par de audições a Whales, a pergunta dissipa-se para dar lugar à certeza que estas baleias não só estão bem vivas como se recomendam.
Mesmo após uma mudança drástica de sonoridade, os Whales mantiveram a capacidade de se singrarem enquanto únicos pelo universo musical português, mesmo no meio de tantos artistas carismáticos, de vertente eletrónica, pelo nosso país. Apesar de terem despido a sua pele indie, a juvenilidade, energia e postura meio endiabrada do género mantém-se bem viva e presente, criando música eletrónica repleta de ritmos incandescentes e frenéticos.
No homónimo disco de estreia, os Whales tentam mostrar uma faceta algo mais adulta, apresentando tanto um conjunto de temas frenéticos como com vestígios de uma eletrónica algo mais introspetiva, oferecendo, no final, um disco que se destaca pelo seu forte teor experimental. Todavia, é impossível não deixar de salientar que o disco quase que nos leva a crer que contém um ‘A Side’ e ‘B Side’, tal não é a diferença marcada por “How Long”, o tema centro de Whales.
Arrancando ao som de “Ghost”, tema forte que vai lentamente ganhando momentum até libertar o seu esplendor no fim, os Whales abrem-nos a porta a todo um mundo de sonoridades celestiais e aconchegantes. Porém, como são os casos de “Christian Young Man” e “Beyoncé, I Love You”, os temas que se seguem algo que se perdem pelo meio deste oceano povoado por baleias, criando ligeiro impacto e enfrentando sérias dificuldades em manter a atenção deixada por “Ghost”; é como se a primeira metade do disco servisse como um aperitivo para a segunda.
Quando o prato principal entra na mesa, não há fome nenhuma que não fique saciada, visto que os restantes temas conseguem encher-nos as medidas por completo, com “Did You Know That (…)” e “Low” a deixarem-nos preso de uma ponta a outra, ou não fosse a sua capacidade de absorção para com os temas idêntica a temas passados como “Big Pulse Waves” e “How Long”. O clímax, esse, não poderia acontecer de melhor forma do que ao som das duas facetas de “Narwhal”, em que, ao longo de oito minutos e picos, o talento dos Whales em produzir temas vibrantes é justificado ao longo de cada segundo, deixando-nos com um vazio quando é dado por terminado.
Os Whales partiam com a tarefa ingrata de conceber um disco que tinha, como ‘obrigação’, demonstrar a segunda vida de uma banda assim como servir como um cartão-de-visita sólido enquanto disco de estreia. Face a estes dois desafios, os Whales superaram-nos e apresentaram um sólido primeiro álbum, mesmo que possa pecar um pouco por coesão. No entanto, a sonoridade arrojada mas recompensadora por onde se aventuraram quase que nos leva a fechar os olhos e perdoar o lapso, especialmente quando se tem em conta que aqui jaz um dos mais promissores nomes do futuro música portuguesa.
Texto – Nuno Fernandes