Normalmente não há dois sem três, e neste caso é caso para falarmos sobre o terceiro disco, e consequentemente final da trilogia de Medeiros/Lucas com Sol de Março. Depois da estreia de Mar Aberto, em 2015 e a sua continuidade com Terra de Corpo em 2016, Sol de Março dá por terminado um ciclo que começou nos Açores, mas rapidamente se expandiu para todo o mundo.
Falar deste álbum não é falar de um raio-x da cultura açoriana. É falar de um trabalho de Pedro Lucas e Carlos Medeiros, acompanhados pelas letras compostas por João Pedro Porto que se bebem de influências tropicais, africanas e também europeias. Vão à busca de sonoridades únicas, e juntando tudo a uma dimensão algo fadista.
Se é isso que vemos em Lampejo, primeiro tema do álbum, vemos que Sol de Março é verdadeiramente uma caixinha de surpresas, e mensagens de alguém que quer explorar além do óbvio, que quer olhar para além do mar e do seu horizonte. E aí até se inspira em ritmos africanos, ou pelo menos faz reflectir nesse sentido. Também como se inspira Zeca Afonso no Podre Poder, tanto no título do tema como também na melodia que podia bem figurar ao lado de músicas compostas e tocas pelo malograda artista ou por José Mário Branco.
Mas não é só de componente trágica e melancólica que se faz compor este álbum. A festividade e luminosidade fazem registo neste trabalho que se houve em 48 minutos. E se escutamos uma dimensão mais alternativa em Obscuridade, e baladas em Clarificação, a alegria é contagiante em Os Pássaros ou Elena Poena, com a tal interrupção para momento lúdico, como se ouve no início da faixa.
Sol de Março basicamente zarpou das correntes e cordas que prendiam aos Açores e foi à conquista do mundo. É um trabalho sem porto para atracar. É para explorar de toda a forma de feito. Para ouvir com diversos estados de espírito, até porque a voz de Carlos Medeiros dá alento para tal. É um álbum que acima de tudo é para ser um contador de histórias.
Por isso, é necessário voltar fazer referência à caixinha de surpresas que compõe este trabalho. Porque espanta-se pelo equilíbrio de sons, emoções e sensações que faz transparecer este álbum. Porque é um trabalho que o todo é maior que a soma das partes e que merece muito carinho e reflexão. Sol de Março é para ser saboreado ao longo dos tempos. E ainda mais no próximo dia 29 de Março, em Lisboa, no Teatro Ibérico.
Texto – Carlos Sousa Vieira