Os Liima são fruto dos despojos dos dinamarqueses Efterklang. Após uma das mais influentes bandas dinamarqueses de todos os tempos ter dado o seu percurso como terminado, Casper Clausen, Mads Brauer e Rasmus Stolberg aliaram-se a Tatu Rönkkö e assim a história se fez.
Distanciando-se do rock experimental que tão bem caracterizava os Efterklang, em Liima ocorre um acasalamento entre teclados e sintetizadores que dá fruto a uma eletrónica espacial capaz de produzir melodias tanto harmoniosas como empolgantes.
Num dia marcado pelo início da Primavera, esse dito sumo saboroso começou a querer mostrar o quão tentador consegue ser, ou não fosse a gigantesca fila que tentava entrar na Galeria Zé dos Bois prova da sua adesão – o concerto esgotara no dia anterior. Numa sala preenchida por tanto fãs como curiosos, os Liima dão a sua entrada como iniciada ao som da enfeitiçante “David Copperfield”, com cada peça da banda a juntar-se ao tema um de cada vez, contemplando o público nos olhos até aos seus momentos.
Liima, por vezes, assemelha-se a um puzzle, ou não fosse a junção de todas as suas peças a única forma de ver a imagem que a banda tenta transmitir em todo o seu esplendor. Neste aspecto, estamos perante um grupo que consegue transpor, de forma irrepreensível, as sonoridades dos seus formatos físicos para o palco, como foi o caso de “2-Hearted”, a reter toda a sua pureza e requinte; de longe, um dos melhores temas de 1982.
Com novo disco na bagagem, grande parte do concerto decorreu em prol de 1982, o segundo disco de originais da banda apresenta uma dinâmica algo mais elaborada e imersiva do que o experimental, e por vezes demasiado solto, álbum de estreia ii. De forma a reter esta vertente mais pessoal do novo disco, que nos faz perder pelo próprio vezes e vezes sem conta, a escolha de uma sala como a ZdB deu aso a um concerto muito mais intimista face ao que é habitual por parte dos Liima. Este ambiente permitiu também a que a barreira entre banda/público fosse quebrada rapidamente, como quando Casper Clausen convidou a sala a entoar o final de “Jonathan, I Can’t Tell You” em acappella.
Entre a apresentação de novas canções, como a recente “Always” que não consta no novo trabalho da banda, sorrisos constantes por entre a banda e de uma forte entrega por toda a sala, era notório que aquela noite acatava o peso de se tratar de um concerto ‘especial’; “para quem não sabe, tenho uma casa nem a cem metros daqui. Lembro-me quando tinha 18 anos e vim aqui, com o meu irmão, ver os Wolf Eyes e adorei esta sala, desde a atmosfera até às janelas abertas para o exterior. A partir daí que passo sempre por aqui quando posso, por isso esta noite tem um sabor especial para mim”, confidenciou Casper momentos antes de ser saudado com uma calorosa salva de palmas.
Nem uma hora de concerto tinha ocorrido quando os Liima se despediram pela primeira vez do público, apenas para regressarem rapidamente ao palco num encore merecido mas com o seu quê de previsível. Arrancando ao som de “1982”, sendo sempre cedido ao público o privilégio de cantar o título da canção no seu refrão, e moldando-se com temas como “People Like You” e Trains In The Dark”, o encore trouxe consigo o momento mais enérgico e dançável do concerto, num quarto de hora de felicidade incandescente.
O ponto mais alto da noite viria, naturalmente, ao som de “Amerika”, o primeiro grande marco na (ainda) breve carreira dos Liima, e que colocou grande parte da sala a cantar junto de Casper, com o vocalista a romper pelo meio do público a saudar praticamente todos os presentes e a ceder o microfone a alguns felizes contemplados, tudo isto enquanto a restante banda se divertia em palco ao som daquela que é, sem sombra de dúvida, o tema mais contagiante dos Liima.
Contemplados novamente com uma estrondosa ovação por parte do público, a banda regressa para um segundo encore de forma a selar aquela noite especial com uma canção escrita sobre Portugal: “Black Beach”, tema de ii escrita sobre uma praia da ilha da Madeira, destino este que Casper Clausen apelidou como “um dos lugares mais bonitos por onde passei”.
Não é apenas nas praias da Madeira que um fresco sumo de limão, no meio de um caloroso e asfixiante dia de Verão, é das opções mais refrescantes e desejáveis por todos. Todavia, quando se acrescenta um toque de Liima, ficamos perante um delicioso líquido capaz de nos saciar não só da sede como também do desejo por música refrescante e cativante. E, deste delicioso sumo de Liima-limão, de certeza que todos vão querer provar…
Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Luís Sousa