Há um ritmo que se entranha pelo corpo e nos faz saltar por entre espaços temporais calorosamente confortáveis. Há um ritmo que nos faz querer dançar do pôr ao nascer do sol trazendo, com ele, uma força e um poder que saem do solo e nos contagiam como se a terra e nós fomos um só!
Esse ritmo é construído pelos bracarenses Bed Legs. Pouco mais de 2 anos depois, estes rapazes (Fernando Fernandes (voz), Tiago Calçada (guitarra), Hélder Azevedo (baixo), David Costa (Bateria)) deixaram Black Bottle para trás e oferecem-nos um Homónimo que carrega o sabor maduro de quem sabe o que faz e qual é o caminho que pretende seguir. Aos quatro rapazes junta-se, agora, Leandro Araújo nas teclas e, com ele, o brilhantismo do ingrediente mágico.
Neste segundo álbum encontramos um som menos cru e mais robusto. Defrontamo-nos com um êxtase profundo de emoção e paralelismos constantes de ritmo. Sem dar conta, entramos numa espiral em ascensão de magia sonora onde nos sentimos confortavelmente em casa.
São 8 as faixas que compõem a espiral e nos revelam a maturidade atingida! As teclas, os riffs cada vez mais trabalhados, a bateria cuidadosamente ritmada, o baixo mais saliente e a voz robusta embelezada de rouquidão denotam-se com uma força quase arrebatadora. Tudo respira neste disco e nos faz inspirar uma lufada de rock bem esgalhado como tanto gostamos.
Encontramos uma intro hipnotizante e marcante em “Spillin’ Blood”, single de apresentação. Esta intro, proveniente do teclado, mantém o ritmo até ao fim da faixa, arrastando consigo o verdadeiro rythm and blues que tão bem caracteriza este álbum.
“Lift Me Up” apresenta-nos riffs intensos adocicados com um bombo quente e corpulento. Já “Back On Track” traz consigo um blues’n’soul muito bem demarcado com umas teclas sensuais e, sempre, penetrantes. A voz de Fernando arrepia qualquer alma e corpo! “Thief Of Myself” carrega um eco quase transcendente que entra em nós e bate nas paredes da mente ao mesmo tempo que as acaricia. “Dreams Of Fire” abana-nos a cabeça e os sentidos deixando-nos atordoados e sem chão. A voz é suave e o registo mais ténue explodindo mais tarde, obrigando-nos a circular por entre estrondosas ondas sonoras que criam um campo magnético de ritmo quente. Em “Dance!” encontramos o sentido literal do título. O nosso corpo não obedece a mais nada! Não há medos nem prisões e entregamo-nos com uma vontade que vem das entranhas, desejando não chegar ao fim. Já na recta final do álbum, a balada “Keep On” e a melancolia suave que apetece trincar e ficar a mastigar. As teclas e os riffs juntam-se para nos arrepiar fazendo-nos tremer e sentir um desconforto confortável e damos por nós à procura de nós próprios dotados de uma inocência genuína por entre caminhos adversos e intrigantes. Trata-se da faixa mais longa e a que nos dá mais espaço para nos perdermos em toques suaves de pele. “Feed The Will” encerra este homónimo e apresenta-se com um ritmo estonteante como se rasgássemos uma paisagem cortada por uma estrada ao meio, sempre em linha recta com a rapidez de quem foge da morte sem limites nem almas pelo caminho! Encontramos aqui riffs que beberam em Zepellin e Hendrix, tal como em diversos momentos do álbum.
Há, aqui, uma esquizofrenia instrumental que é sabiamente conjugada em todas as suas formas e sabores. Um álbum de vício e de dança. Um Homónimo grande em si mesmo que vai trazer ao de cima a verdadeira essência destes rapazes de Braga.
Os Bed Legs vão estar a apresentar este disco aqui:
Junho
02 – ACRA Fest, Adaúfe; 29 – TBA, Vila das Aves; 30 – Variações, Braga
Julho
07 – TBA, Bragança; 27 – Santo Rock, Fafe
Texto – Eliana Berto
Fotografias – Maria Salgado
Artwork – João Martins “MOCA”