Os alemães Colour Haze vão tocar, em data única, no Hard Club no Porto, no próximo sábado á noite. Estrearam-se em solo português no passado ano, durante o SonicBlast Moledo e protagonizaram um dos melhores concertos dessas noites, naquela que era uma estreia há muito desejada pelo público português. Menos de um ano depois apresentam-se num concerto em nome próprio, onde o aquecimento da noite estará a cargo dos portugueses Jesus The Snake e dos alemães Tau. Depois de termos perdido a fantástica oportunidade de falar com a banda em Moledo, desta feita não poderíamos deixar passar em claro a possibilidade de conhecer um pouco melhor os Colour Haze e perceber o que os faz criar há tanto tempo e de forma tão consistente e diversa.
Música em DX – Quão importante foi a atitude Do It Yourself para o vosso trabalho enquanto banda? Faço esta pergunta porque os vossos álbuns foram produzidos e misturados na maioria das vezes por vós próprios.
Colour Haze – Não foi intencional. Simplesmente queríamos fazer as coisas acontecer e como não havia ninguém que o fizesse por nós decidimos fazer nós próprios. Tento sempre pensar pela minha cabeça e isso também faz com que não queira abdicar de algum controlo facilmente, e isso também pode ser um factor e peso….
MDX – Com que regularidade ensaiam? Isto se ensaiam… Como são os vossos ensaios, têm um plano que seguem ou nem por isso?
Colour Haze – Ensaiamos regularmente duas vezes por semana. Muito embora se tenha tornado mais difícil manter esta rotina desde que somos pais. Se tivermos concertos agendados habitualmente ensaiamos o set, de outra forma estamos sempre a trabalhar em novo material, o que inclui muita improvisação.
MDX – Qual a quota de improvisação nas vossas composições?
Colour Haze – Em relação aos temas novos, improvisamos vezes sem conta até obtermos a estrutura final ou até que a música evolua e se fixe cada vez mais. Claro que eu também componho coisas novas, partes de músicas em casa e depois levo para os nossos ensaios para entrarmos novamente no processo de improvisação, em conjunto com o Mani e o Philipp para que eles façam o mesmo. Assim que descobrimos cada parte e o lugar a que cada uma delas pertence a composição torna-se mais fixa.
MDX – O que pensam sobre a improvisação nos concertos?
Colour Haze – Alguns solos podemos improvisar, tanto em palco como em estúdio (assim como a gravação da base das musicas é sempre ao vivo, também a maioria dos solos que se podem ouvir nos álbuns foram improvisados no momento e tornaram-se a matriz para a versão ao vivo). Por outro lado acredito que uma composição bem trabalhada poderá ter um valor superior e ser mais recompensadora para a audiência ao invés de ouvirem tentativas de improviso, que só raramente se transformam em grandes expressões musicais.
MDX – Teem alguma faixa favorita?
Colour Haze – Neste momento as minhas faixas favoritas serão talvez; All, Transformation, Circles, Grace and Labyrinthe. E também algumas coisas novas que temos vindo a fazer….
MDX – Estão envolvidos noutros projectos?
Colour Haze – Não. Ganhar a vida com empregos “normais” e ter famílias e, além disso, manter os Colour Haze o mais profissionais possível consome bastante tempo e já é exaustivo.
MDX – Tenho sempre alguma dificuldade em explicar a quem não conhece os Colour Haze o tipo de música que tocam. Como se definem?
Colour Haze – Li algures que que tocamos “Landscape music”, o que não é uma expressão má de todo, creio eu. A nossa música destina-se a incorporar a essência de tudo que existe – por inteiro e de uma maneira positiva e poderosa. As nossas estruturas musicais são bastante flutuantes, têm sobretudo como base uma tonalidade modular ou um tom de pedal – às vezes também incorporamos escalas modernas livres ou ímpares ou mesmo estruturas dodecafónicas rígidas. Mas, tal como na música clássica, a melhor construção e sons possíveis dos nossos instrumentos já foi estabelecida há décadas e, tudo isso está disfarçado sob aparência de um trio de rock (ou agora um quarteto, incluindo teclados). Nós temos que aceitar que muitas pessoas não distinguem entre o conteúdo, a estrutura e a aparência sonora da música, e por isso somos frequentemente confundidos com uma banda de Rock Psicadélico.
MDX – Quais são as vossas maiores influências? Li algures que nos anos 90 o Stefan ouvia os Kyuss quase todos os dias…O que mudou desde então?
Colour Haze – Bem como acontece com quase toda a gente, a música que acompanha a nossa vida é sempre diferente e até mesmo antes, enquanto ou depois de Kyuss ouvi muitas coisas diferentes – música clássica, música moderna, world & folk music, jazz, pop, qualquer que seja – e, claro, nós compartilhamos alguns gostos mas cada um de nós tem o seu próprio gosto. Aprendi a apreciar todo tipo de música, desde que o conteúdo seja interessante e bem feito. Infelizmente, a música de hoje é um lixo devastador, vazio, estúpido, e que por isso eu prefiro passar ao lado, sem harmonias, sem melodias, sem groove. Não há ali nada que transforme o barulho em música. Apenas uma cantoria aterrorizante, em auto-tune, sobre uma melodia fora de tempo.. mas o que é está a acontecer? Eu gostava que essas pessoas que poluem o nosso ambiente cultural e espiritual parassem de produzir esse lixo, fechassem os computadores e fizessem algo que beneficiasse mais que apenas as suas próprias carteiras. Além do mais nós estamos sempre desejosos de coisas novas.
MDX – Como olham para Chopping Machine hoje em dia?
Colour Haze – Foram outros tempos, uma banda diferente e uma maneira de ver as coisas diferente. Não nos orgulhamos especialmente desse disco.
MDX – Los Sounds de Kraut foi o álbum que mudou as coisas para vós?
Colour Haze – Foi mais um processo flutuante. Em cada álbum, aparecem coisas que na verdade foram apresentadas anos antes.
MDX – Na década de 90, coisas como gravação ou produção eram completamente diferentes do que se pode fazer hoje em dia. Como percepcionam o avanço da tecnologia no mundo da música?
Colour Haze – A tecnologia que existe hoje em dia é uma grande conquista permitindo que esteja acessível a todos a possibilidade de conseguir gravar com qualidade. Quando começámos as demos tinham um som abafado e eram feitas num dispendioso gravador de 4 pistas. Não se podia pagar um estúdio com boas condições a não ser que tivesse assinado contrato com uma editora maior. Além disso os pequenos estúdios que surgiram em meados dos anos 80 não conseguiam competir com um som de qualidade. Notas sempre uma grande diferença entre o que consegues obter de um estúdio grande e o que obténs de um estúdio independente. Isto apesar de existirem resultados bastante satisfatórios. acontecia também que o que gravavas era quase sempre misturado de acordo com a estética mais na moda no momento enquanto hoje em dia tens muito mais liberdade para ter a sonoridade que queres ter. Foi um grande passo que me permitiu envolver-me mais na gravação e mistura quando no final dos anos 90 o nosso espaço de ensaio se transformou também no estúdio de digital de uns amigos nossos. De qualquer forma a qualidade de som dessas gravações, (Periscope, CO2, Ewige Blumenkraft, Los Sounds De Krauts), estava muito longe do que outros fizeram naquela altura com brinquedos a sério. No entanto nós éramos mais livres para ter exactamente o som que queríamos ter. A verdadeira descoberta que nos abriu os olhos e os ouvidos foi a gravação do álbum de 2004 de Colour Haze, que se tornou a única forma desejável para gravar e misturar os nossos discos. O grandioso processo analógico contém em si mais do que a magia artística e a qualidade de som. As coisas evoluíram e eu construí o meu próprio estúdio dessa forma, em toda a glória pesada e analógica. Não quero olhar para o futuro naquilo que produzo. Com computadores simplesmente não é tão divertido, não que eu não use o digital onde ache que ele pertence.
MDX – Acham que todo este mundo digital é um obstáculo ou uma oportunidade para as bandas?
Colour Haze – A internet é uma plataforma gigante para as bandas partilharem e mostrarem as suas criações. Mas essa música já não é um aspecto que defina a cultura juvenil. Existe por outras razões. O facto de muita gente já não comprar discos, seja em que formato for, tem um efeito devastador nos músicos e na própria forma como produzem e por conseguinte na qualidade da música em si. Claro que muito do que é disponibilizado pela internet não ajuda, mas não podemos afirmar que a culpa é exclusivamente da internet. A internet apenas oferece a oportunidade que não existia antes e cabe a todos o que fazer com isso, a integridade colectiva é apenas a soma de todos os individualismos.
MDX – Um ano depois de In Her Garden, já têm planos para um sucessor?
Colour Haze – Sim. Já temos algum material fantástico, superior até ao de In Her Garden creio eu. Estamos a trabalhar nisso em conjunto com o nosso novo teclista, Jan Faszbender, que além de tudo nos trouxe um novo impulso, completamente fresco.
MDX – O que é o futuro reserva para os Colour Haze?
Colour Haze – Eu vou tentar afastar-me um pouco da Elektrohasch para voltar a dedicar mais tempo aos Colour Haze, para poder haver mais tempo para a criatividade. Também queremos tocar mais vezes ao vivo, talvez 30 concertos por ano em vez de 20, nós não conseguimos viver exclusivamente da banda e isto são as nossas férias.
MDX – Os Colour Haze estrearam-se em Portugal em Agosto do ano passado, no palco principal do SonicBlast em Moledo. Agora, menos de um ano depois vão ter o primeiro concerto em nome próprio no Porto. O que podemos esperar deste concerto?
Colour Haze – Claro que vão ouvir alguns dos clássicos que tocámos no SonicBlast, mas como nesta tourné tocamos como um quarteto as coisas vão ser completamente diferentes, um concerto mais longo e que também vai incluir músicas diferentes. Estamos convencidos que adicionar o teclado nas nossas prestações ao vivo traz uma maior profundidade às nossas composições que as faz brilhar ainda mais. Definitivamente podem esperar algo deste concerto!
MDX – Muito obrigada pelo vosso tempo!
+info – www.colourhaze.de
Fotografia (capa) – Daniel Jesus
Entrevista –Isabel Maria