Era meio da semana, dia 16 de Maio, e sentíamos o sabor da primeira noite de verão na pele, à hora de jantar Erlend Øye já andava de cavaquinho ao peito e a acenar aos fãs pelas redondezas do Capitólio. Tudo indicava que iria ser uma noite especial, o que não sabíamos era o quão especial seria!
Vinte minutos depois do suposto e diante de um Capitólio esgotado, entram em palco com Erland mais três rapazes. De pé, em frente ao microfone repetem o arranque duas vezes naquilo que quebrou logo qualquer gelo que pudesse existir. Em cima do palco, duas guitarras acústicas (uma delas com amplificador de baixo), dois cavaquinhos e quatro vozes. Logo aqui conseguimos perceber o arrepio que íamos sentir durante algum tempo com o som atenuante e belo destas cordas. A elas, juntavam-se de forma variada sopro e teclado.
A suavidade elegante de “Rainman”, entrou-nos de imediato pelos ouvidos e corpo e foi difícil deixarmos de dançar suavemente até ao final do concerto. Entre uma brisa harmoniosa, Erlend falava do quão bom era regressar a Lisboa e oferecia-nos de rojo “Upside Down”; com ela flores imaginárias e a beira de um rio num fim de tarde algures no verão. Entre danças desajeitadas e, simultaneamente, encantadoras era impossível não nos entregarmos de corpo e alma aquele momento quente e doce que preenchia a sala do Capitólio, como se nos víssemos ao lado do Tom Sawyer a caminhar descalços com uma vara ao ombro, um sorriso emotivo e a cantar em coro com aquelas quatro almas. A voz de Erlend é ténue e carrega consigo a tranquilidade esperançosa de quem vive calmamente e com tempo para descobrir cada pormenor.“Bad Guy Now” surge como a apresentação de Legao e subtil lição de vida! “Giacca” é a primeira que ouvimos com voz italiana e, de seguida, “Paradiso”, servindo para retratar a cidade onde vivem. “Bologn”a vem em jeito de proximidade e introspecção com apenas uma guitarra e um cavaquinho em formato experimental profundo e intimista. “Garota” aconchega os corações carentes. Quase na recta final Erland explica que na sua passagem por Lisboa conheceram um grupo de Brasileiros que cantavam na rua e com eles cantaram ofertando-nos 3 músicas cantadas em brasileiro a coros e cheias de energia. “La Prima Estate” marcava a proximidade do fim. Depois de uma saída aos saltos, um regresso só de Erland para cantar “Heaven Knows Im Miserable Now” de The Smiths tornando aquilo que é uma música pesada e triste em algo absolutamente belo e alegre. Ainda se seguiram duas depois desta e aí percebemos que o tempo passou demasiado rápido e que não queríamos sair dali, daquele momento de aconchego, simpatia e entrega total.
Há um encanto genuíno e uma simpatia gritante em Erland. Onde quer que vá, aquele aspecto de geek franzino e de poucas palavras é automaticamente desconstruído pela sua capacidade bela e encantadora de seduzir qualquer pessoas com a sua energia e boa disposição. Extremamente amável, alegre e com uma aura de boas energias à volta dele, Erlend tornou este concerto num momento íntimo, próximo e de aconchego onde todos nos sentimos parte de uma família harmoniosa e em sintonia. Uma fantasia em forma de bolhinhas percorria o nosso corpo e um sorriso rasgado espalhava-se em todas as caras. Todos os problemas foram deixados ali e, por momentos, voámos com o sabor da liberdade que a felicidade nos traz.
Que regresses em breve, Erland!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luís Sousa