Se há coisas que nos motivam a continuar, elas são aquelas em que podemos presenciar iniciativas tão refrescantes como o Festival A Porta em Leiria. Chamar Festival é redutor ao que passou na última semana, e que nós apenas pudemos testemunhar no sábado dia 23 de Junho. São João para muitos, para nós a alegria de um dia em grande no centro da cidade que é atravessada pelo Rio Lis.
O A Porta é uma congregação de muita coisa. A cidade de Leiria, as suas pessoas, o seu comércio, as suas tradições e a sua cultura, e um grupo de pessoas que faz questão de pôr a cidade a mexer, numa união que faz a todos sentir bem, como se fosse a nossa casa. Foi assim que aconteceu connosco também. Mal chegados ao centro da cidade a poucos minutos de almoçar, somos recebidos por uma chamada telefónica por parte da organização em que nos perguntavam se estava tudo bem, se tínhamos chegado tranquilamente. Que bom que foi sentir que éramos também desejados, como se rapidamente fizéssemos parte de tudo o que se passara desde vários dias antes. Que belíssimo inicio de tarde. Que grandes surpresas ainda estariam para vir.
Apesar do nosso foco principal serem as propostas musicais, sabíamos de antemão que o que iríamos encontrar seria muito mais que apenas música – ou não tivéssemos assinado de cruz vários dias antes sem olharmos para o cartaz que nos esperava no sábado. Naquela que nos pareceu ser uma das ruas mais tradicionais da cidade – a famosa Rua Direita, todas as cidades têm uma Rua Direita onde tudo acontece – aqui estava concentrada toda a acção deste “filme” Festival A Porta’18.
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Desde workshops vários para a pequenada, feira de artesanato, demonstração de aulas de pool dance, pinturas ou teatro de rua, e concertos nos sitios mais improváveis, tudo nos surpreendia a cada esquina que dobrávamos no caminho para os palcos dos concertos principais. O Palco Larguinho composto por uma pequena praia de areia branca com piscina insuflável, o Centro Cívico transformado em anfiteatro para grandes espetáculos, a Igreja da Misericórdia e o Jardim Luis de Camões bem junto ao rio, seriam os cenários onde iríamos passar o resto do dia.
A nossa tarde começou em registo pop com Primeira Dama, um projeto do também Coelho Radioativo João Sarnadas, bem na praia no Palco Larguinho. Enquanto a pequenada se enrolava na areia, os graúdos sorriam enquanto dançavam ao som de Rita.
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Passámos de seguida para o Centro Cívico para o primeiro abanão da tarde com os Cosmic Mass e o seu stoner influenciado no psicadelismo dos anos ’60.
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A diversidade foi uma das coisas que mais nos surpreendeu, e do Pop ao Stoner dos projetos anteriores passávamos agora ao piano clássico tocado no altar da Igreja da Misericórdia ao som dos dedos de Marco Franco.
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Emperor X é o nome do projeto do projeto de Chad Matheny, um norte americano sediado em Berlim. Provocador nato, dono de uma criatividade fora do comum, usa uma guitarra clássica à qual acopla uma caixa de ritmos para se misturar com o público que vagamente não se entusiasma com os seus concertos. Assim foi também em Leiria, para nós um dos projetos mais surpreendentes da tarde.
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Seguiram-se os The Miami Flu num Centro Cívico bem composto para receber a banda portuense, que correspondeu ao seu melhor nível.
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Voltarmos à Igreja da Misericórdia foi o desafio seguinte. A poucos minutos de começar, já esgotava para receber Rui Carvalho, aka Filho da Mãe. Simplesmente Mágico. A acústica imperial de uma igreja com a mestria do toque de guitarra clássica, foi a receita perfeita para as várias e merecidas salva de palmas em honra de Filho da Mãe.
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Se inicialmente não fazia parte do nosso roteiro, a reorganização de horários dos concertos seguintes deu-nos o tempo e a disponibilidade necessária para assistir ao concerto de Conan Osiris. Confessamos, tínhamos no entanto alguma curiosidade por perceber que fenómeno seria esse que de repente todos falavam. Não conseguimos a desculpa perfeita para nos escaparmos e lá fomos de novo ao Centro Cívico para assistir ao nosso penúltimo concerto da tarde. Ao chegar, confirmávamos de imediato que era também um dos concertos mais aguardados do dia, “plateia” esgotadíssima, a ponto de não conseguirmos lugar para nos sentarmos. Não querendo descrever em detalhe o que vimos, pudemos comprovar que neste registo “espécie fadista” de paródia de Conan Osiris, o certo é que, gostando-se ou não, é um dos destaques da atualidade e não deixa indiferente quem assiste aos seus espetáculos. A nós também não nos deixou.
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Com Fugly fechámos a nossa tarde, e se houvesse alguma dúvida do que se passou, ao sairmos do Centro Cívico ouvia-se dizer entre público “que bandaço, rock do car****”, como que à moda de um bom nortenho. Insistimos, ao contrário do que muitos querem apregoar, o Rock está vivo, e bem vivo.
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Depois do jantar, passaríamos aos concertos da noite que teriam como palco único o Jardim Luis de Camões. A abrir a noite, Blue Crime, uma banda de moonpop holandesa com maioria feminina em palco. A par de Emperor X, outra das boas surpresas do dia.
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Seguir-se-ia os Mohama Saz, uma banda madrilena de rock psicadélico com evidentes influências dos sons a médio oriente e norte-africano. Fez-nos lembrar um projeto que conhecemos há pouco tempo no MIL, os Phoenician Drive, também de excelente qualidade. Ambos de recomendar.
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O nosso dia Festival A Porta terminaria com Memória de Peixe, o brilhante projeto de Miguel Nicolau na guitarra e Nuno Oliveira na bateria, eles que estavam praticamente em casa (oriundos das Caldas da Rainha).
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Depois de em 2017 não termos conseguido estar presentes, e em 2018 termos testemunhado apenas um dos dias Festival A Porta, não podemos deixar de recomendar em 2019 a visita à cidade de Leiria e, em particular, aquela que será, esperamos com muita a ansiedade, a quinta edição deste festival. O nosso obrigado à forma como o António e o Gui nos receberam, parabéns pelo seu enorme trabalho, e parabéns também aos que se deixaram abraçar no seu dia a dia por esta festa de todos e para todos os que lá estiveram. Excelentes exemplos como o festival Bons Sons e a primeira edição do Reverence Valada demonstram que muitas vezes o sucesso de um festival não estará apenas no cartaz musical que o compõe, mas também na sua capacidade de envolver a população local. Apesar do cartaz de 2018 ter sido excelente em toda a sua diversidade, estamos certos que toda a dinâmica criada na Rua Direita será um dos grandes pilares do Festival A Porta. É continuar, que para o ano lá estaremos com mais força.
Todos as galerias fotográficas estão disponíveis em:
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+ Festival A Porta’18 Dia 23 Emperor X
+ Festival A Porta’18 Dia 23 The Miami Flu
+ Festival A Porta’18 Dia 23 Filho da Mãe
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+ Festival A Porta’18 Dia 23 Memória de Peixe
Texto – Carla Santos
Fotografia – Luis Sousa