Na passada sexta-feira o Sabotage Club abriu as suas portas para uma noite em modo celebração no feminino com as portuguesas Anarchicks e as californianas L.A. Witch. As L.A. Witch tinham deixado uma mensagem na sua página de facebook há algum tempo atrás, celebrando o facto de visitarem a Europa em pleno verão. Compreensível em todos os aspectos da sua sonoridade. E de facto era o que o calendário indicava, mas as temperaturas não. Em pleno verão continuávamos a ver casacos e chuva.
Quem providenciou o aquecimento da noite foram as portuguesas Anarchicks, quarteto exclusivamente feminino que trouxe nessa noite o recente estreado single, No Friends.
Com um alinhamento que mostra o quarteto com uma feroz vontade de contar histórias que façam a diferença, as Anarchicks mostraram-se iguais a si próprias.
A camaradagem e a cumplicidade entre as duas bandas foi óbvia e sentida desde o inicio. O trio californiano mostrou-se bem disposto, mas a sua postura discreta e algo misteriosa aguçava a vontade do público de as ver em palco. Desde 2011 que o trio compõe e dá concertos ao vivo, no entanto apenas em setembro de 2017 gravou o seu primeiro album, não porque não fosse possível acontecer antes, mas apenas porque aconteceu apenas quando sentiram que era o momento.
Sade Sanchez, vocalista e guitarrista, entoa um desencanto reconfortante e familiar. Músicas lentas e densas que nos remetem facilmente para aquele estado latente entre o acordar e o adormecer novamente como Brian ou Kill My Baby Tonight que alternam com Untitled ou Good Guys, que parecem feitas para nos arrancar de uma qualquer letargia provocada principalmente pela monotonia dos dias. Love Nothing que mexe com a sensualidade mais profunda da guitarra de Sade e do baixo de Irita que nos leva de volta ao nosso instinto mais profundo de relação com o próximo, ou de comunhão única, como se estivéssemos numa floresta apenas com uma fogueira e as L.A. Witch. O ritmo aumenta e diverge com Drive your Car que nos faz sacudir todas as possíveis preocupações do corpo no seu ritmo frenético.
Muito mais que ritmo, sentido, existe uma narrativa na música das L.A. Witch que nos transporta de cenário em cenário, num deslumbramento juvenil. Com a bateria de Ellie English a marcar quase a nossa respiração em Baby in Blue Jeans, Sade continua a levar-nos às memórias mais felizes e aos momentos mais quentes desse verão que tanto ansiamos, embalados na sua voz sem idade perceptível. Confesso que entendi muito melhor a música das californianas esta noite. É algo muito palpável e difícil de traduzir para palavras. Se ainda têm alguma dúvida, fica o desafio, não percam a oportunidade da próxima vez que por cá passarem. Para aqueles que gostam da novidade com o toque certo de revivalismo esta foi a noite de clube por excelência, com as L.A. Witch a deixarem a audiência num estranho êxtase quente com travo a verão verdadeiro.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Ana Pereira