Um manto negro cobria o espaço ao redor do Altice Arena e o seu interior no passado dia 2 de Julho. Não era para menos! Uma noite dedicada aos amantes do metal estava prestes a começar.
Há vários tipos de público, cada estilo musical tem a sua harmonia e companheirismo. Em todos me sinto bem e em casa, mas posso garantir que não há conforto igual aquele que se sente nestes concertos. Concertos que devastam más energias e nos alimentam com uma força genuína.
O palco encontrava-se ligeiramente chegado à frente e diante de nós o pano de Judas Priest a tapar. Esta noite não nos preparava uma banda de abertura e uma banda principal, preparava-nos dois concertos intensos e grandiosos numa cerimónia de gratidão e união, onde a emotividade veio ao de cima.
Seria o terceiro concerto de Judas Priest que via, o primeiro depois de “se terem retirado” e o pior. Não quero com isto dizer que fora um mau concerto, muito pelo contrário! Não foi mau, só não foi tão bom. Fora 1h10 onde o heavy metal reinou com um excelente rei. Apesar da idade, o metal god Rob Halford ainda tem muito para dar. O pano cai ao som de “Walk” de Pantera e de seguida começa “Firepower”. A voz de Rob, pujante por natureza, entra rapidamente no nosso corpo e o headbanging começa. Nas costas dos 5 músicos, vídeos a rodar e as capas dos álbuns a que pertencem as músicas que vão tocando. A distorção das guitarras é aguda e entra de fininho em nós fazendo ecos mentais que se transformam em pequenas maravilhas. Scott brinca com a bateria como se a força nunca lhe faltasse e é ele que guia os batimentos cardíacos de tudo o resto. “The Ripper” e “Turbo Lover” faziam a plateia gritar enquanto que “Rising From Ruins” acalmava os corações e elevava os riffs gritantes. Já perto do fim, ouve-se o acelerar de uma mota e Rob entra com a sua já habitual Harley prateada e o público enlouquece. Ouvia-se “Hell Bent For Leather” e todos queríamos viajar de Harley ao lado dele, a cantar em simultâneo. No final, com Painkiller escrito no ecrã, Scott pergunta retoricamente o que queremos ouvir e, em segundos, rasga-nos os ouvidos a tão aclamada “Painkiller”, encerrando assim o concerto. O público fica sem fôlego e o encore traz Glenn Tipton ao palco para acompanhar com guitarra “Metal Gods” e a carismática “Breaking The Law”. A despedida faz-se com “The Priest Will Be Back” escrito e um abraço colectivo. Devias repensar essa afirmação mestre Rob!
O coração acelerava o ritmo à medida em que ficava mais perto a subida ao palco de Ozzy Osbourne. Seriam 21h50 quando esse momento se deu, já com algum tempo de atraso. Antes disso, uma intro com “O Fortuna” e Carl Orff como que a aguçar o apetite para a cerimónia e, no ecrã, fotos de Ozzy ao longo do seu tempo de carreira e estrada. Pêlos em pé e uma vontade de o abraçar gigante! Esse abraço partiria dele, assim que entrou em palco e nos abriu os braços para nos aconchegar a alma com o seu talento e simpatia de ansião das trevas.
Uma cruz separava o palco e aceitava projecções das mais variadas formas, para além de ter sido um momento musical épico, o espectáculo contou com uma performance de vídeo, projecção e luzes de uma produção sábia.
“Bark At The Moon” dava o mote de partida e ecoava vozes por todo o lado enquanto que as guitarras arrastavam consigo o peso harmonioso do puro heavy metal. Foi logo depois de “Mr. Crowley” que recebemos uma vénia de Ozzy, vénia essa que lhe fizemos do princípio ao fim. Embora meio curvado, não parava de percorrer o palco de uma ponta à outra, aos saltos e a andar, atirando baldes de água para as primeiras filas. O calor era muito! Dentro e fora daquele corpo. Aplausos exaustivos com “Fairies Wear Boots” de Black Sabbath. Zakk Wylde destaca-se fortemente na guitarra, fazendo-nos perder o norte, o sul e até de nós próprios! “No More Tears” acalmou os ânimos tal como “Road To Nowhere”. De Black Sabbath, também, “War Pigs” rasgou a atmosfera com o som de sirenes e trouxe uma pausa a Ozzy enquanto Zakk nos oferecia um solo poderoso e estrondoso mas demasiado extenso (tendo levado ao aborrecimento) vindo depois um maravilhoso solo de bateria para nos cortar os transe onde já tínhamos entrado com o solo de guitarra. “I Don’t Want To Change The World”, “Shot In The Dark” e “Crazy Train” encerravam o concerto juntamente com uma nova vénia de Ozzy e um apelo a que gritássemos “One more song” e assim foi.
O encore veio de seguida com o sossego de “Mama, I’m Coming Home” e a emblemática “Paranoid”, de Black Sabbath com um double neck nas mãos de Zakk e já demasiada emoção nos nossos corações e almas.
A sede de heavy ia aumentando à medida que o tempo passava e cada segundo transformava-se num momento imaculado onde o peso da noite tinha a densidade de uma pluma e as nossas almas iam dançando com ele. Nesta noite, dois anciões do metal uniram forças e provaram que ainda há muito para dar. Foram 50 anos de palcos com muita loucura è mistura. Uma vida dedicada ao metal que culmina com uma tour de 2 anos em jeito de despedida. Um concerto onde a discografia quase toda fora revisitada e o amor se sentiu. Tanto em cima do palco como fora dele. Obrigada pela tua entrega Ozzy! Obrigada por nos teres dado a mão e nos teres guiado por caminhos de nostalgia e puro prazer, proporcionando um dos concertos do ano. Obrigada pelo que fizeste e fazes pela música. Uma vénia a ti e à tua energia com quase 70 anos de idade!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Nuno Conceição | Everything is New
Promotor – Everything Is New