A maratona do Passeio Marítimo de Algés já começou, e por isto queremos dizer, mais uma edição do NOS Alive está à porta. Depois de 3 meses a criar expectativas com bilhetes esgotados e um cartaz que atraía vários géneros musicais, os deuses do rock fizeram com que o tempo estivesse perfeito para as condições práticas de corrida entre o Palco NOS e o Palco Sagres, bem como todos os outros palcos, mas de dimensões menores. Se Nine Inch Nails foi O prato forte do dia, a verdade é que Arctic Monkeys, Brian Ferry e Sampha foram outros nomes que não desiludiram.
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O Palco Sagres já tinha os festivaleiros mais curiosos sentados na relva, enquanto esperavam o primeira concerto do dia, a argentina Juana Molina subiu ao palco quando passava pouco mais das 17h30m. Um trio, com teclas, guitarra e voz e bateria, onde por vezes as teclas intercalavam com cordas mais graves. Muitos sons gravados em loop, que acompanhavam a voz afiada de Juana. Um disparo no 6º tema, com ritmos electrónicos mais estridentes e gestos teatrais, animaram o público que no fundo estava ansioso para que a maratona musical começasse.
Depois de Miguel Araújo abrir o Palco NOS, e mostrar que o próprio e os seus músicos têm pulso para arrancar com um Festival deste calibre, o charme do septuagenário Bryan Ferry abriu o sol da neblina cinzenta. Um equilíbrio de gênero em palco interessante, com uma violinista, uma saxofonista (de cortar a respiração!) e duas vozes poderosas no coro. A dezena de músicos da new wave de Bryan Ferry encantou-nos perpetuando a sensualidade dos temas que cresceram connosco e marcaram os (de)amores da nossa vida. “Don´t Stop the Dance” logo no segundo tema, remeteu-nos ao sorriso nostálgico e cúmplice daqueles que tinham acima de 40. Os olhos azuis da saxofonista batiam no azul dos de Bryan Ferry, e este sentava-se ao piano onde nesses momentos conseguia regressar à voz sensual e irrepreensível dos Roxy Music. “Slave to Love”, “Love is the drug”, “Avalon” e a despedida em festa de “Let´s stick together” foram momentos de partilha de felicidade de uma cheia e longa vida.
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Já com o cair da noite e naquela hora onde as praças de alimentação se enchem, actuaram à mesma hora Wolf Alice no Palco Sagres e os frenéticos D’Alva no Palco NOS Clubbing. Passava pouco das 20h00 quando a banda de Alex e Ben numa indumentária totalmente branca, animaram o público que juntamente com os quatro músicos (mais as duas vozes femininas) dançaram, pularam e “fizeram barulho” como se não houvesse amanhã. O Pop ritmado com sons africanos, puxados ao hip-hop são a mistura explusiva dos lisboetas D’Alva.
Se no Palco Clubbing a festa estava ao rubro, Wolf Alice vinha com a mesma missão de 2016, quando se estreou em Portugal, exactamente no mesmo lugar. O conjunto londrino liderado por Ellie Roswell, tem-na no centro das atenções de todo o concerto. Uma mini histeria coletiva no público quando se viaja ao som de My Life is Cool e Visions of A Life, este último registo lançado ao ano passado. À frente do palco, nas grades as letras são cantadas de cor e salteado. Atrás, o que não se sabe em letras compensa-se na dança de sons como Lisbon, Beautiful Unconventional ou Moaning Lisa Smile. Provavelmente será daquelas bandas que voltaremos a ver por cá, talvez no mesmo palco.
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Para começar a falar de Nine Inch Nails, melhor despachar desde já os defeitos. O som estava muito baixo. Ponto. Agora vamos falar do resto. O ponto do alto do primeiro dia foi mesmo protagonizado por Trent Reznor e companhia, que noutras circunstâncias seria com toda a certeza o headliner do festival. Os norte-americanos foram incubidos de introduzir a primeira viagem aos anos 90 do rock industrial que se fez sentir no NOS Alive, e com March of The Pigs, Shit Mirror, aquela música de amor selvagem Closer, sentimos mais próximos aos deuses (da música) do que em qualquer outro concerto.
Se o Bad Witch, o álbum foi o bilhete de vinda, o Hurt, imortalizado também por Johnny Cash, foi o cartão de destpedida. Há várias vezes que se pergunta: Onde é que tu estavas naquele concerto? Tu foste àquele festival? Pois bem, a pergunta que se tem de fazer imediatamente a seguir ao “Se foste ao NOS Alive?” terá de ser “Onde estavas em Nine Inch Nails?“. Para a história do festival.
Depois de muito suor, lágrimas (talvez seja exagero), mas estômago reabastecido, hora de fazer uma outra viagem ao tempo. Este tempo bem mais recente, já que parámos em 2011, data do último disco de Friendly Fires. Incrível como uma banda não lança nada há tanto tempo, mas ainda tem o descaramento de fazer um concerto tão dançável como o que deu no Palco Sagres. Não entendam o “descaramento” como depreciativo, porque passado este tempo todo ainda nos prendemos pelo disco e o indie pop de Live Those Days Tonight ou acabamos numa viagem até Paris acompanhados pelo Skeleton Boy, pilotados pela voz de Ed Macfarlane. E gostamos do que ouvimos.
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Os Snow Patrol, tiveram o azar de tocar a seguir à banda mais aguardada do dia e que, por sinal, deu um concerto daqueles de ficar plasmado nas nossas memórias muitos anos. A banda dos escoceses -irlandeses trouxe o seu novo álbum “Wildness” a Algés e, sinceramente, não surpreendeu ninguém. Sempre foram aquela banda de músicos simpáticos e de interação fácil com o público, e os portugueses gostam disso. Mas mesmo com os seus sucessos já recuados no tempo, como “Chasing Cars” ( Eyes Open, 2016), sempre deixaram aquele amargo-doce na boca, um “tá-se bem” descomprometido. A passagem pelo NOS Alive este ano foi o mesmo “tá-se bem”, e na verdade o desejo de “venham de lá os moços ingleses”!
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E para recuperar o tempo perdido, fomos ao Palco NOS Clubbing assistir a um momento único de músicos portugueses, PAUS com o hip-pop tuga dos Holly Hood. Uma junção perfeita! Bateria num registo metódico e insistente, que tornou os temas de hip-pop ainda mais intensos. Uma sincronização incrível, sem percalços inesperados. Holly Hood com humildade agradeceram à organização do NOS Alive e aos PAUS pelo convite. Este foi daqueles momentos que ficarão registados como incríveis nos arquivos do festival, por ter sido único e francamente bom!
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Ao lado, Khalid. Poderíamos estar aqui à procura de uma definição acurada para hype. “Ficar extremamente entusiasmado em algo que assim não se justifica tanto“. É uma frase pesada e que até pode custar ao público que estava no Palco Sagres, essencialmente numa faixa etária tão nova. Se é verdade que as músicas que nós apaixonamos são descobertas nessa faixa etária (fica aqui o link do artigo científico, já agora), a verdade é que também não mereciam tão pouco Khalid em palco. Acompanhado nas coreografias por bailarinas, acompanhado nas letras pelo público, que sabia de cor o American Teen ou o Saved, a verdade é que a essência de quando se ouve o disco se perde no palco. Veremos se com o novo disco e também mais um tempo de experiência (não esquecer que o norte americano tem apenas 20 anos e já tem o mundo aos seus pés) faz com que o Palco NOS seja uma realidade em breve.
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De regresso ao Palco NOS, ainda nos conseguimos posicionar naquela nesga de espaço para deslumbrar Alex Turner e os seus monkeys, ficámos por ali. A enchente foi grande e, provavelmente entraram pessoas no recinto só para assistir a este concerto. Liamos “Monkeys” ao fundo, em cima de riscas iluminadas a branco. Fatos impecavelmente engomados, calça subida o suficiente para deslumbrar a meia-branca a terminar num sapato estiloso. Alex Turner de cabelo solto, com jeito meio caído para os olhos tocando nos elegantes óculos escuros que serviram de adereço confortável à sua actuação. Camisa branca ligeiramente aberta de onde sobressaia do pescoço um fio discreto. “Tranquility Base, Hotel & Casino” é a última obra-prima dos rapazes de Sheffield, e estávamos muito curiosos para ver onde é que iriam colocar o rock n’ roll a que nos habituaram. Se “AM” (2013) já foi uma ligeira mudança de direcção no percurso, este último álbum é uma verdadeira passagem de rotação, de 45’ para 33’. Com a controvérsia que apraz a estas mudanças mais radicais, ouviram-se no público essas opiniões contraditórias. Mais que não fosse, elas estiveram espelhadas na reacção do mesmo às músicas que iam tocando. Notoriamente acarinhados, foram os temas rockeiros do alinhamento, que inteligentemente intercalaram com a sensualidade das teclas de Hotel & Casino. A performance de Alex Turner, Nick O’Malley e Jamie Cook foi de profissionais que sabem o que andam a fazer. Nem só de estilo vive o homem, e para sobreviverem na crista da onda precisam de inovar e aprimorar o rigor. Disso os Arctic Monkeys nunca poderão ser acusados. Obviamente que a sensualidade de Alex Turner está na linha de Bryan Ferry, e pela polaridade da diferença de idades, conseguimos imaginar quão longe chegará a do mais novato. É verdade que esta banda transpira estilo (mix Rock a Billy com gangsters de “Era Uma Vez na América”) e que não existem muitas vozes tão poderosamente envolventes como a de Alex Turner, mas a prestação de 5ªfeira foi indiscutivelmente boa.
Sem tempo para respirar, tivemos que fazer a passagem do “túnel da morte”, até sermos arrastados pela multidão e levados até aos Orelha Negra que actuavam no Palco NOS Clubbing. Para que não poluíssemos os ouvidos, os Orelha Negra deixaram-nos digerir os Arctic Monkeys de forma tranquila e harmoniosa. Mais não lhes poderíamos pedir.
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Harmonia é o que se pretendia para quem quisesse ir a Sampha. Depois do estrondoso álbum Process, que foi apresentado no Porto ao ano passado, ele tinha de aparecer na capital. Com tantos anos de parceria com tantos outros músicos (Jessie Ware, SBTRKT, Kanye West, assim só de cabeça), este primeiro álbum é uma reflexão muito pessoal e intensa, e é isso que se tem ao final do primeiro dia, no palco Sagres. Com um vestuário a fazer lembrar, e com certeza uma referência política, aos prisioneiros negros, ele soltou-se para algo muito maior, como o (No one knows me) Like the Piano, ou Process ou ainda quando decide viajar aos tempos de SBTRKT e partilha num registo medley o Hold On. A eletrónica e o R&B foram uma chave perfeita para terminar uma noite (que ainda continuaria com Blasted Mechanism) mas para muitos dos comuns mortais significaria lidar com uma sexta de trabalho exaustiva.
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Para os deuses da música, sexta era dia de Queens of The Stone Age, The National ou Portugal. The Man.
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DIA 12
NOS Alive 2018, dia 12 – A noite de Nine Inch Nails e o resto
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NOS Alive 2018, dia 13 – Portugal, The Festival e uma noite de festa
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Texto – Carlos Sousa Vieira e Carla Sancho
Fotografia – Luís Sousa | Arlindo Camacho, Hugo Macedo e Sara Hawk (NOS Alive’18)
Evento – NOS Alive 2018
Promotor – Everything Is New