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EDPCoolJazz ’18, Dia 17 – Na ausência de microfones, foi tudo BomBomNadaMau

Depois de ter tomado residência, durante alguns anos, em Oeiras, o EDPCoolJazz mudou-se de malas e bagagens para Cascais. O que outrora fora os Jardins do Marquês de Pombal, agora dá pelo nome de Parque Marechal Carmona. Mudanças à parte, foquemo-nos no que ficou: paisagem verde propícia a alojar belos concertos. E é isto que importa.

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Na estreia do Parque Marechal Carmona, os Dead Combo e os BadBadNotGood foram os convidados de honra. Dois projetos puramente instrumentais, onde os instrumentos personificam a voz do artista que lhes dá alento. Se os primeiros são já uma banda de encher salas por Portugal fora, os segundos são uma das mais entusiasmantes bandas estrangeiras da atualidade, tendo assinado um dos melhores concertos na última edição do Vodafone Paredes de Coura; naturalmente, casa cheia para acolher ambos.

Pouco passava das 21h30 quando os Dead Combo subiram a palco – acompanhados por bateria, saxofone e contrabaixo para a ocasião – e logo na soltura das primeiras notas de “Deus Me Dê Grana”, é fácil de perceber que a acústica do espaço leva a que as guitarras de Pedro Gonçalves e Tó Trips atinjam um som limpo e cristalino, quase roçando a barreira do hipnotizante de tão envolvente que é.

Divulgando o novo Odeon Hotel, lançado este ano, “Mr. & Mr.S Eleven” foi o tema que se seguiu, com as varinhas de Dead Combo – leia-se “guitarras” – a lançarem múltiplas magias capazes de enfeitiçar qualquer um. Há uma beleza na sonoridade dos Dead Combo que grita orgulhosamente que é portuguesa, com cada música a remeter-nos para os escombros da cidade de Lisboa. É como se, por momentos, entrássemos numa casa de fados em Alfama, onde se glorifica a genialidade da música e da cidade portuguesa.

É inegável que uma das chaves do sucesso dos Dead Combo reside na evidente cumplicidade entre Tó e Pedro, mesmo que não seja necessário recolher a olhares e palavras para o demonstrar; não é preciso, a genialidade com que mastreiam as suas guitarras prova-o só por si.

Com a (excelente) banda de apoio a elevar todas as canções, conseguindo no processo que o foco em Tó e Pedro nunca se perca, os Dead Combo mantêm a proeza de transcenderam-se ao palco, onde os seus discos conseguem soar bem melhores do que em formato físico. Com “Desassossego”, “Esse Olhar Que Era Só Teu” e “Lisboa Mulata” sabiamente guardadas para o fim, os Dead Combo assinaram um excelente concerto, sendo quando criminoso catalogá-lo como somente ‘concerto de abertura’.

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O estilo dos BadBadNotGood é um mistério. Diz-se que tanto é post-bop, como hip hop instrumental, jazz funk ou jazz fusion. Por mais classificações que atribuam à banda de Toronto, esta poderia ser facilmente resumida como um jazz ambicioso e modernizado, sendo também bonito e aprumado pelo caminho.

São quatro – Matthew Tavares, Chester Hansen, Alexander Sowinski, Leland Whitty – os talentosos músicos que constituem os BadBadNotGood, cujas carinhas larocas acusam estar abaixo dos trinta. Como na música a idade é uma variável que pouco ou nada importa, a qualidade destes moços elevam-nos para o patamar de mestres dos seus respetivos instrumentos, ou não deixassem a plateia do EDP CoolJazz de queixo no chão com os malabarismos que protagonizam.

Arrancando ao som de “Speaking Gently” e “Kaleidoscope”, torna-se quase difícil de se ouvir quando um tema acaba e o outro começa, ou não fosse a juvenilidade dos BadBadNotGood travessa ao ponto de improvisar pelos temas a dentro até chegar ao corpo da canção seguinte. E é no meio de todo este improviso que o Parque Marchal Carmona é contaminado por um groove altamente contagiável, com o público tanto a bater pé como a marcar o tempo com palmas.

De “Weight Off” a “Chompy’s Paradise”, de “IV” a “Cashmere”, os BadBadNotGood têm aquela proeza de nos transportarem para locais para além dos nossos melhores sonhos, onde tudo é belo, reconfortante e onde é a paz de espírito é uma certeza. De realçar como em pouco mais de hora e meia, a banda apresentou um alinhamento forte e diverso, passando um pouco por todos os discos na sua breve mas talentosa carreira.

Voa-se, plana-se, flutua-se e naquele instante tudo é perfeito. O swing do quarteto de Toronto prende-nos na sua beleza e repentinamente caímos na sua dimensão misteriosa em que cada som e melodia se conciliam numa representação perfeita de como a música deve ser empolgante.

Com tudo a soar perfeito, desde a comunhão absoluta entre público e banda, muito por culpa dos incentivos de Alexander Sowinski (bateria) a que todos se levantassem ou abanassem os braços na tentativa de assemelhar asas, os BadBadNotGood são uma verdadeira antítese do seu nome: são bons em tudo e maus em nada. Que noite do caraças!

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Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Nuno Cruz
Evento – EDPCoolJazz’18