A 24ª edição do Super Bock Super Rock (SBSR) arrancou esta quinta-feira, 19 de julho, dia em que os The XX foram reis e senhores, mas já lá vamos.
Quando se entra a meio da tarde no recinto do SBSR, que desde 2015 tem funcionado no Parque das Nações, a ideia com que se fica é que ainda se estão a realizar os retoques finais, mas a arte urbana, espalhada pelo espaço, chama desde logo a atenção, principalmente uma bateria gigante localizada junto à entrada.
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Não foi de admirar que quando chegámos ao Palco EDP, localizado por baixo da pala do Pavilhão de Portugal, os Parcels estivessem ainda a fazer o soundcheck, levando a que a sua atuação se atrasasse alguns minutos. O espaço encontrava-se ainda pouco preenchido quando os australianos, que entretanto se fixaram em Berlim, subiram ao palco para levar quem lá estava numa viagem no tempo, nomeadamente à música de dança feita algures nos anos 70, algo que é rapidamente compreensível quando se olha para o tipo de letra e para as cores usadas na construção do nome da banda que surgia como cenário de fundo. O baixo revela-se com um groove incrível, contribuindo e muito para que a música que vinha para as pessoas provocasse nelas fortes movimentos de anca. Quando os Parcels terminaram a sua prestação, ainda era de dia, o que não deixa de ser um pouco contraditório, já que a sua música, que se revela a partir de certa altura um pouco repetitiva, é altamente propícia à dança com um copo na mão, como se numa discoteca se estivesse.
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Vem uma pausa para o concerto seguinte, que é aproveitada para dar uma volta pelo recinto e perceber que ele nos vai recebendo cada vez melhor de ano para ano, nomeadamente num maior aproveitamento daquelas que são as potencialidades deste extraordinário espaço junto ao Tejo. O facto de neste ano de 2018 o verão estar a ser algo modesto, leva a que seja mais agradável estar neste festival, nomeadamente quando se está dentro da Altice Arena.
Regressamos ao Palco EDP para ver os ingleses Temples e também aqui fazemos uma viagem ao passado, neste caso à música que se fazia na Inglaterra dos anos 60. Tudo nestes rapazes remete-nos para um passado musical, e não só. As roupas, os cabelos, os amplificadores, a sonoridade… tudo nos levou numa viagem musical a tempos remotos. O espaço agora já se encontrava mais composto para receber este regresso a Portugal desta banda formada no ano de 2012 e os seus maiores hits, como “Shelter Song” ou “Certainty” e “Strange Or Be Forgotten” do seu mais recente álbum – Volcano, editado em 2017 –, foram recebidos com alguma euforia. No final, não deixámos de ficar com algumas saudades daquele piano a soar em caracol.
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Chegou a altura de rumar à Altice Arena para ver em primeiro lugar aquele que seria um momento muito especial. Falamos da homenagem que familiares e amigos de Zé Pedro lhe prepararam, denominada Who da F*ck is Zé Pedro?. A lógica seguida durante a primeira fase deste espetáculo foi a de ter uma banda base formada por familiares dos membros dos Xutos & Pontapés, mais Nuno Espírito Santo no baixo, que iam chamando vários famosos do universo musical português para que interpretassem com eles temas que, de alguma maneira, se ligavam à vida e obra de uma das pessoas mais acarinhadas e transversais em Portugal, fossem elas músicas de outros por quem Zé Pedro tivesse admiração, temas em que esteve envolvido na sua composição, etc.. Assim, não foi de admirar que o espetáculo tivesse começado só com os membros da tal banda base a interpretar “London Calling” dos britânicos The Clash. Seguiu-se “Submissão”, cantada por Tó Trips, e “Morremos a Rir”, canção do álbum a solo do vocalista dos GNR na qual Zé Pedro participou, por Rui Reininho. O espetáculo foi seguindo esta toada, revelando-se eficiente naquele que era o seu objetivo. Só foi pena a Altice Arena ter estado longe de estar cheia e de o som revelar umas guitarradas algo “agressivas”. Quando Carlão foi chamado à ação para interpretar o inevitável “Esquadrão da Morte”, de forma sentida informou-nos que foram tantas as pessoas a querer fazer parte daquela homenagem, que se tivessem dito que sim a todas o espetáculo duraria os três dias do SBSR.
A partir de dado momento, os membros dos Xutos & Pontapés começaram a entrar em cena e a participar na homenagem. Um dos momentos mais marcantes foi quando Tim e Manuela Azevedo, dos Clã, se atiraram a “Conta-me Histórias”, transformando-o num dos mais memoráveis do espetáculo. A certa altura do concerto, a tal banda que serviu de base despede-se para dar lugar a projetos dos quais Zé Pedro também fez parte. Primeiro, foram os Ladrões do Tempo, que proporcionaram o momento mais rock da noite. Tó Trips, apesar de agora estar mais associado às sonoridades exóticas dos Dead Combo, é rock puro e duro dos pés à cabeça. Destaque também para a poderosa voz de Paulo Franco, membro dos Dapunksportif. Segue-se Jorge Palma, a que se segue Palma’s Gang, banda que tinha por base as músicas de Jorge Palma, sendo estas transportadas para um universo mais rock, e que se formou a partir do Johnny Guitar, bar com música ao vivo localizado em Santos (Lisboa), do qual Zé Pedro era um dos proprietários, e que durante alguns anos serviu de ponto de encontro de muitos daqueles que na altura se dedicavam à música em Portugal, e não só.
Ao longo de todo o espetáculo foram passando imagens de Zé Pedro, ou relacionadas de alguma forma com ele, no ecrã localizado no fundo do palco. No final da homenagem, foi a vez dos próprios Xutos & Pontapés subirem ao palco e atacarem “Dados Viciados” e “Remar Remar”, mostrando que são sem dúvida uma banda extremamente bem oleada e com um à vontade incrível em interpretar os temas do seu reportório. Como é costume nestas ocasiões, o momento final foi marcado pela presença de todos os envolvidos no palco, neste caso para interpretar o inevitável “Não Sou o Único”. Zé Pedro será sem dúvida recordado por muitos e bons anos como alguém que amava profundamente tudo o que fazia, exibindo sempre uma humildade incrível em relação a tudo e a todos.
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O intervalo para os The XX foi maior do que seria desejável, isto porque o tributo a Zé Pedro envolveu muita gente e muitos instrumentos e também derivado da necessidade de montar o cenário para a banda britânica, deixando desde logo a ideia de que se iria assistir a um espetáculo fora do comum. A verdade é que a espera foi compensada com um concerto extraordinário do trio composto por Romy Madley Croft, Oliver Sim e Jamie Smith.
Os The XX, que deram neste SBSR o seu sétimo concerto em Portugal em menos de dez anos de vida, são daqueles casos de amor à primeira vista que algumas vezes acontece entre o público português e certas bandas do nosso planeta. Talvez um dos primeiros desses casos, tenha sido com Lloyd Cole, primeiro com os Commotions e depois a solo, logo nos anos 80. Depois desse, tem havido outros – os The National por exemplo – e a verdade é que a coisa resulta quase sempre na realização de muitas cerimónias de casamento em território português, basta ver o número de atuações de Lloyd Cole e dos The National em Portugal. Os The XX vão pelo mesmo caminho, o que ajuda a concluir que os portugueses têm muito bom gosto.
O trio britânico poderia ser só mais um daqueles projetos de um DJ, neste caso Jamie Smith, sozinho em palco a lançar beats para cima da multidão – fenómeno difícil de explicar para muitos de nós –, mas tal não acontece, já que os seus dois companheiros – Romy Madley Croft na voz e guitarra, sendo esta muito influenciada por bandas como os The Cure ou os Interpol, e Oliver Sim na voz e baixo – para além de as suas vozes funcionarem de uma forma extremamente harmoniosa em conjunto, conseguem também acrescentar um toque humano à coisa, o tal toque humano que está completamente ausente de um espetáculo de um DJ. Claro que por vezes o próprio Jamie Smith se deixa seduzir por o fazer durante o espetáculo, fazendo com esses momentos se tornem os menos interessantes.
Olhando para o Altice Arena nesta altura, rapidamente se chegava à conclusão que muitos dos que se tinham deslocado nesta noite ao Parque das Nações tinham-no feito para ver os The XX, já que a plateia do pavilhão estava cheia que nem um ovo.
O concerto arrancou com “Dangerous”, tema que abre o mais recente trabalho da banda, I See You de 2017, passando de seguida por “Islands”, do registo de estreia XX lançado em 2009. O espetáculo percorreu os três discos já editados pelo trio, com especial destaque para a lindíssima “I Dare You”, “Fiction”, dedicada por Oliver Sim à comunidade LGBT, a poderosa “Intro” e “Angels”, esta a terminar o concerto. Tudo acompanhado por um cenário original e dominado por um ecrã em 90 graus, enriquecido, a partir de certa altura, por lasers. Se nos três álbuns já lançados os The XX surgem num registo mais sereno, ao vivo tudo aquilo se transforma e ganha uma força tremenda.
Como foi afirmado por Oliver Sim, este concerto foi especial para eles por ser em Portugal e por ser o último da tour europeia, seguindo agora para os Estados Unidos da América, enquanto Romy Madley Croft acrescentou a certa altura que este dia era especial porque tinha nascido mais um membro da sua família. Para o muito público presente, este foi sem dúvida mais um belo momento de celebração do amor existente entre Portugal e esta extraordinária e inovadora banda. Já estamos com saudades!
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Super Bock Super Rock 2018, dia 19 – o dia do Zé Pedro e dos The XX
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Texto – João Catarino
Fotografia – Nuno Cruz
Evento – Super Bock Super Rock 2018
Promotor – Música no Coração