O dia 20 de julho, o segundo da 24ª edição do Super Bock Super Rock, foi dedicado quase por completo ao hip hop. Uma dessas poucas exceções foi Luís Severo, que, sem dúvida, caiu de pára-quedas no meio de todos aqueles beats.
Por ter sido dedicado ao hip hop, neste segundo dia a média de idades do público presente diminuiu consideravelmente. Assim, o espaço estava quase todo ele preenchido com jovens de idades abaixo dos 20 anos. Não foi então de surpreender que a meio da tarde facilmente se percebia que àquela hora estavam mais pessoas no recinto do que no dia anterior.
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Deslocámo-nos para o Palco EDP onde iria ocorrer a atuação de Profjam, considerado um dos principais nomes do hip hop português e que nesta altura se encontra a trabalhar naquele que será o seu primeiro disco, a sair, em princípio, no final deste ano. Mas a atuação de Profjam não começou da melhor forma. Por duas vezes deram início ao concerto para pouco depois terem de abandonar o palco por motivos técnicos. Não deixou de se notar que apesar da energia vir abaixo, o público continuou a cantar com todo o entusiasmo aquela que era a primeira canção do alinhamento. À terceira foi de vez e foi ver Profjam, vestido de branco, a atirar-se com tudo para uma atuação que foi recebida com enorme entusiasmo pelos muitos que já se encontravam debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, acompanhando tudo o que vinha do palco, fossem palavras, fossem perguntas, sempre com os típicos movimentos de braço que normalmente acompanham as atuações deste género musical.
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Seguimos para a Altice Arena, onde uma plateia já muito bem composta aguardava por Slow J. Nasceu em Setúbal, mas andou por tanto lado que isso se repercute na música que faz, misturando coisas como fado, rock, samba, jazz, ritmos africanos, etc.. The Art of Slowing Down é o seu disco de estreia, lançado em 2017 e recebido de uma forma muito positiva, não admirando assim a forma entusiástica como foi recebido. Fred Ferreira, que no dia anterior tinha atuado na homenagem a Zé Pedro, voltou neste dia a subir ao Palco Super Bock, desta vez para acompanhar Slow J, o que leva a destacar a versatilidade deste senhor. O facto de ser um baterista com uma batida tão certa, leva a que possa por vezes fazer lembrar uma caixa de ritmos, daí os muitos convites que recebe também do universo do hip hop. Carlão, que fazia anos neste dia, subiu ao palco para acompanhar Slow J. Atrás, no fundo do palco, esteve sempre presente um “J” grande, que, fruto da forma como está desenhado, por esta altura leva-nos muitas vezes a pensar no tal clube italiano para onde foi agora o melhor do mundo.
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Para se entender o poder que a rádio ainda tem, na viagem para o recinto ouviu-se a rádio associada ao SBSR e, por acaso, calhou ouvir a entrevista a Luís Severo, que nesta noite, vá-se lá saber porquê, atuava no Palco LG by Rádio SBSR, e que, em conjunto com a sua banda, revela um sentido de humor fantástico e muita boa disposição, fazendo com que o seu concerto passasse a constar da lista dos que tinham mesmo de ser vistos. Luís Severo foi prejudicado por estar incluído num dia que nada tinha a ver com a sua música e também por começar a estar um frio tremendo no local onde atuou. Nota-se então que o público que está ali para o ver pouco tem a ver com o que está no resto do recinto. A sua música revela-se simples e eficiente e são muitas as histórias contadas nas respetivas letras. Só foi pena em palco Luís Severo e os músicos que o acompanham não terem o mesmo nível de descontracção que revelaram na entrevista à rádio.
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Brandon Paak Anderson teve o seu primeiro contacto com a música quando decidiu tocar na bateria da Igreja frequentada pela sua família e isso acaba por marcar o seu percurso e a atuação desta noite no SBSR. Anderson .Paak & The Free Nationals apresentaram-se perante uma plateia praticamente cheia e desde logo se percebeu que ali não havia só hip hop, já que a guitarra muitas vezes nos levava para o universo do rock e, como se deu a entender no início, Anderson .Paak por diversas vezes preferiu cantar as canções ao mesmo tempo que tocava, e bem, bateria. O público conhecia a fundo os temas e recebeu de forma entusiástica o músico californiano.
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Por fim veio Travis Scott e a maior produção da noite. Dois músicos em palco, acompanhados por imagens a saírem dos ecrãs e por muitos fumos, fogos, lasers, etc., levando a plateia a uma autêntica loucura – para quem estava na bancada não deixava de ser delicioso ver as cabeças a andar de um lado para o outro de uma forma algo descontrolada, revelando que Travis Scott levou mesmo o público à loucura. A voz do senhor de Houston é servida com doses industriais de auto-tune e a energia em palco é tremenda. Travis Scott revela-se um mestre-de-cerimónias, que consegue dar um espetáculo com uma enorme intensidade. Foi sem dúvida uma excelente forma de terminar um dia dedicado a este género musical.
No final, vimos para casa a pensar nesta realidade que é ver muitos dos jovens de hoje a aderir ao hip hop. Tal situação poderá ser um ato de rebeldia, típica de quem ainda é jovem. Antigamente, os jovens ouviam rock para chocar os pais, agora os mais jovens ouvem hip hop para chocar os tais pais que ouviam e ouvem rock, algo que é reforçado pelos, alguns, palavrões que se ouvem saídos dos palcos. Não é de admirar também que neste dia muitos fossem aqueles a fumar dentro da Altice Arena, em mais uma atitude de rebeldia. Se antes o rebelde ouvia punk, agora é apreciador de hip hop. Na lógica deste festival, ter um dia dedicado a este estilo musical leva a que não deva, talvez, haver muita gente a comprar o passe para os três dias, já que os que vêm no dia do hip hop não vêm nos outros, e vice-versa. Existe aqui sem dúvida uma espécie de choque geracional no que aos gostos musicais diz respeito.
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Texto – João Catarino
Fotografia – Nuno Cruz
Evento – Super Bock Super Rock 2018
Promotor – Música no Coração