O terceiro e último dia da 24ª edição do Super Bock Super Rock foi aquele em que houve menos pessoas a rumarem ao Parque das Nações, verificando-se em quase todos os concertos níveis de assistência relativamente baixos.
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A abrir as hostilidades esteve Isaura, a primeira “vítima” resultante do pouco público presente. De facto, foi algo desolador ver o espaço em frente do Palco EDP tão despido de pessoas, tendo isso, como é óbvio, marcado a atuação da compositora e co-intérprete de “O Jardim”, canção que representou este ano Portugal na final do Festival da Eurovisão. A música de Isaura pode até ser definida como pop-eletrónica, mas a chamada de um baterista para a sua banda acaba por dar um toque mais humano e menos artificial. Digamos que os primeiros a levar instrumentos mais associados ao rock para este universo musical foram os Depeche Mode, nomeadamente nas atuações ao vivo, com o uso de bateria e guitarras elétricas em conjunto com os sintetizadores. As músicas de Human, o seu primeiro disco, ainda não foram suficientemente interiorizadas pelo público, já que tiveram uma reação fria da sua parte. Para esta atuação, Isaura decidiu convidar Diogo Piçarra, um dos produtores do seu disco, para com ela interpretar dois temas, “Closer” e “Meu é Teu”, este de autoria dele, e para a troca de uma série de elogios entre ambos. Acabaram por ser os temas mais antigos, como “Useless” e, a fechar, “Change It”, ainda o seu maior êxito, a arrancarem as melhores reações da parte da plateia. Isaura tem uma extraordinária voz, mas, talvez devido ao pouco público presente, desta vez não comunicou muito e o concerto acabou por se revelar morno. É daquelas coisas difíceis de decifrar, tivemos uma excelente voz, boas canções, bons músicos, mas, lá está, faltou ali qualquer coisa.
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O rock chegou em força com aquela que foi a grande surpresa do dia. Falamos dos Sunflowers, que deram no Palco LG by Rádio SBSR um enorme concerto. A banda veio diretamente da cidade do Porto para mostrar a Lisboa que ainda é possível acreditar no associar do rock à rebeldia e ao prazer em chocar. Aqui não há regras nem limites a rigorosamente nada, tudo é feito com a maior das sinceridades e naturalidade. Sobem ao palco e, “cagando” completamente no público que já lá está, começam a experimentar os instrumentos, fazendo uma barulheira incrível. Carlos de Jesus é o vocalista e guitarrista, mas é também o mestre-de-cerimónias. Com o seu enorme cabelo, o senhor é punk puro e duro em tudo o que faz, ele é a imensa distorção com a sua guitarra, ele abana a cabeça de forma tresloucada, faz gestos obscenos, destrói e atira para o chão parte do material, dá a guitarra ao público para nela tocar de forma descontrolada… mas tudo feito de uma forma totalmente genuína. Carol Brandão é o outro braço deste duo nascido em 2014, tocando bateria e cantando, tudo feito também com uma enorme urgência e com uma força incrível, como se não houvesse amanhã. A acompanhá-los esteve ainda um segundo guitarrista. Entre as canções, ouvíamos um bocado de uma música gravada a fazer-nos lembrar as canções de sinthy-pop, resultando num choque tremendo entre o que a banda toca e o que se ouve nos intervalos dos seus temas. Para aprofundar ainda mais esse mesmo choque, no final da atuação tivemos uma bela valsa como despedida. Foi sem dúvida um daqueles momentos que nos dá esperanças de que ainda é possível fazer da música algo que vá totalmente contra todas as normas e regras em vigor.
Rumámos à Altice Arena para a primeira atuação do dia nesse espaço. Seria Stormzy quem iria abrir esse palco e pouco mais há a dizer deste senhor do hip hop de que ele chegou ao Parque das Nações com 24 horas de atraso. O dia do estilo musical que desenvolve foi o anterior e depois da pureza e do som eletrificante dos Sunflowers, ouvir beats e deixas já tantas vezes ouvidas, digamos que não faz lá muito sentido. Como em tudo o resto neste dia, a plateia encontrava-se pouco preenchida para receber este senhor de origem ganesa, acompanhado por um DJ. Destaque para o excelente trabalho desenvolvido na elaboração dos vídeos que foram acompanhando a atuação, sem dúvida a parte mais interessante do espetáculo.
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Segue-se no mesmo espaço o recordar de um dos momentos mais memoráveis da Expo 98, realizada naquele mesmo local. Falamos da companhia catalã La Fura dels Baus, que regressaram 20 anos depois para apresentarem o espetáculo “IN-UP // OUT-UP”, desenhado de propósito para o Super Bock Super Rock e que conciliou música ao vivo, dança aérea, luzes, fumos… dando assim um espetáculo que levou os presentes a olhar para cima com o maior dos encantos. Esta atuação contou também com alunos da escola do Chapitô.
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Regresso ao Palco EDP para um momento de nostalgia com os The The, projeto de Matt Johnson, iniciado no final dos anos 70 e com discos que marcaram fortemente quem ouvia música nos anos 80 e 90, como sejam Soul Mining (1983), Infected (1986), Mind Bomb (1989) ou Dusk (1993), álbuns que revelaram uma banda que conseguiu criar um universo musical muito próprio. Em cima do palco, lá estava o triplo microfone usado por Matt Johnson, um com o som normal e os outros dois com diversos efeitos, sem dúvida uma das suas imagens de marca, tal como também o é a sua famosa careca. As primeiras filas estavam preenchidas com um público mais velho e que terá acompanhado de perto a vida dos The The durante aquelas duas décadas. Os espetáculos que a banda agora anda a realizar marcam o fim de um hiato de 13 anos, em que esteve afastada dos palcos, mas a excelente forma evidenciada no SBSR foi tal que mais parecia que nunca tinham deixado de tocar ao vivo, dando um concerto muito competente, onde não faltaram clássicos como “This Is The Day” ou “Dogs Of Lust”, levando a que o público, apesar de já evidenciar alguma idade, acompanhasse de forma vibrante, saltando e dançando durante todo o espetáculo. Matt Johnson evidenciou boa forma e que ainda gosta daquilo que andou a fazer há algumas décadas atrás, pode ser que agora permaneçam no ativo durante muitos e bons anos.
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Rumámos novamente para a Altice Arena onde iriam atuar os Julian Casablancas + The Voidz, o espetáculo mais difícil de compreender de todo o dia. Sem dúvida que é de louvar o facto de Julian Casablancas não ter ficado encostado à sombra da bananeira dos seus The Strokes, preferindo antes arriscar e fazer coisas diferentes, mas isso por si só também não é garante de qualidade de qualquer coisa que se faça para além da banda com a qual fez sucesso. A maior demonstração de que as coisas não correram bem logo desde o início foi o constatar de um grande número de pessoas a “fugir” da Altice Arena logo nos primeiros minutos da atuação, tal a agressividade do som vindo do palco. Foi tudo muito confuso e estranho. A coisa não resultou e assim não foi a melhor forma de dar por encerradas as atividades do palco principal do festival.
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No final ficamos a pensar naquilo que foram estes três dias de SBSR. O Parque das Nações é sem dúvida uma das obras mais extraordinárias realizadas neste país nas últimas décadas, mas em pleno verão estar a fazer um festival em que o palco principal está num recinto fechado não faz muito sentido. Apesar de nestes dias não ter estado aquele calor que costuma estar nesta altura, a verdade é que mesmo assim a vontade é estar sempre na rua, parecendo estranho estar-se a enfiar num espaço escuro e totalmente fechado. Em relação ao cartaz, talvez a procura de um traço em comum aos três dias fizesse algum sentido. Assim, como foi, criaram-se momentos que não fizeram grande lógica e que acabaram por estar completamente fora de tudo o resto. Para o ano há mais… e ainda bem!
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Texto – João Catarino
Fotografia – Nuno Cruz
Evento – Super Bock Super Rock 2018
Promotor – Música no Coração