O cartaz da 15ª edição do EDPCoolJazz foi sonante. Com nomes que nos revigoraram a mente e acalmaram o espírito, afinal as lendas estão vivas! David Byrne e Van Morrison foram disso exemplo, comprovando que são a old school de profissionais magníficos.
Practicamente a terminar o Festival e sem percalços de última hora, George Ivan Morrison subiu ao palco do Hipódromo Manuel Possolo para uma noite fresquinha de blues e folk. A lenda viva do blues esteve mais de hora e meia ininterruptamente a tocar e a puxar pelos agudos. Com um conjunto de músicos dignos do seu sucesso, nomeadamente a percussionista que prolongou os coros e equilibrou os registos vocais na perfeição.
Um começo com uma audiência meio agitada, onde a dimensão longa das filas para entrar no Parque Marechal Carmona resvalou a hora do inicio do espectáculo. E por esse motivo a entrega da guitarra autografada pelo Van Morrison aconteceu depois da hora agendada. O Presidente da Câmara de Cascais Carlos Carreiras, a promotora Karla Campos e Ana Sofia Vinhas directora de Marca da EDP, entregaram o cheque de 2.250€ à Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais (CERCICA). O novo proprietário da guitarra solidária preferiu manter-se no anonimato.
Ainda sob a claridade do dia Van Morrison entrou em palco com quase uma dezena de músicos. A indumentária do músico irlandês que ficou gravada na nossa memória, ali estava à nossa frente: óculos de sol, chapéu branco e fato às riscas. O compositor dos temas mais tocados e regravados do mundo deu cartas nos instrumentos de sopro e intercalou entre a harmónica e o saxofone. Este último uma espécie de fiel companheiro de toda a sua vida.
Um alinhamento equilibrado, não se cingindo ao mais recente trabalho discográfico, You’re Driving me Crazy (2018) mas também não exagerando nos hits históricos que o tornaram dos melhores músicos de sempre. Sem pausas entre os temas, Van Morrison cantou (quase) até ao final do concerto sem pronunciar um único vocábulo ao público, de cumprimento ou de agradecimento. Entre a coordenação motora das maracas, o fôlego para os instrumentos de sopro e a tentativa de segurar o timbre do grave, não houve tempo para a simpatia. Também ninguém ali estava para conversas, nem mesmo o nosso Presidente da República que sorria na primeira fila do hipódromo.
De quando em vez a percussionista puxava pelo público para acompanhar com palmas os temas mais mexidos. Mas somente no final com o imortal GLORIA conseguiram pô-lo a mexer anca e, compassadamente, a acompanhar os instrumentos que a solo fizeram as suas apresentações. Um tema que durou uma eternidade e pelo protagonismo dado a cada músico poderiam ter oferecido um momento mais enérgico. Nem mesmo “Baby Please Don´t Go” ou “Brown Eyed Girl” provocaram grandes agitações na malta. Contudo, a entrega de Van Morrison em alguns temas foi notório e merecedor de destaque, como de Sometimes We Cry ou The Party is Over que, mesmo de óculos escuros conseguimos perceber que fechara os olhos na intensidade emocional do tema.
O line-up da 15ª edição do EDP Cool Jazz foi escolhido a dedo com um cardápio diversificado e nomes majestosos. A escolha da voz quente de Norah Jones para fecho do festival foi inteligente e fabulosa, esgotou o recinto! Para o ano haverá ainda mais e melhor jazz, e também melhores condições na área da restauração e bebidas. Esperemos nós.
Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Evento – EDPCoolJazz’18