Os sintetizadores ganharam forma nos anos 80 e, nesta nova era, surgem com novos contornos e delineados que nos podem guiar por diversos caminhos. O caminho que este duo de nabantinos levou foi o caminho da pop. Mas não se trata de uma pop qualquer, falo de uma pop sofisticada, elegante, electrizante e, acima de tudo, extremamente sensual.
Rui Gaio e Cató Calado criam Peltzer e, com ele, o seu álbum de estreia – Devisable. Afirmam que Devisable é sinónimo de algo que pode ser resolvido, criado, inventado. A verdade, é que preferia chamar-lhe reinvenção e adaptação mais elaborada do passado a um futuro próximo, mas desconhecido e apelativo.
Produzido por Francisco Rebelo, este álbum transporta consigo 10 faixas com uma essência e luz próprias. As guitarras e os sintetizadores entrelaçam-se, combinam-se e lutam entre si, conseguindo uma harmonia e ritmos viciantes que, por vezes, nos transportam tanto para universos gaming, robóticos e electrónicos como para algo mais romântico. Romântico no manto que nos envolve e faz, de súbito, com que nos vejamos rodeados de flashes de luzes densas em cima de um chão que abana e cheios de uma vontade genuína e sensual de dançar. A imagética abarca o dia-a-dia e todos os sentimentos que nos devoram e rodeiam. Por vezes sentimos que estamos perante uma mistura de Daft Punk com uma voz simbiótica entre Lamb Chop e Tindersticks. A estranheza do que descrevo compreende-se aquando da audição deste disco, onde, na segunda faixa, automaticamente fechamos os olhos e soltamos o corpo em ondas de energia quente.
“Break Lance” é o mote perfeito para a abertura da pista de dança. De rojo, levamos com uma atmosfera trovejante que se abre a uma mescla de leveza e batimentos aconchegantes acompanhados pela voz serena de quem toca com a língua nas palavras à medida que elas vão saindo. Uma aura de calmaria nos envolve e os coros femininos ajudam neste passo.
A fasquia vai aumentando lentamente e com “BSpit in bed” as batidas começam a ganhar mais forma e sensualidade, num ritmo que nos coloca directamente no centro de uma pista de dança de olhos fechados a saborear cada batida o mais lentamente possível.
Há um certo sufoco e ofegação em “Motion” que nos prende de imediato em formato de formigueiro e desconforto confortante.
A caminhada faz-se entre oscilações comerciais e sensualidade de movimentos. A alma vai estremecendo e no corpo aumenta o desejo. Não sabemos pelo quê, apenas que é desejo e que sabe bem. Há alturas em que a alma se despe e se perde algures por entre batidas e riffs.
“Quinado”, feita com a participação de Nuno Barreiro, é a única faixa cantada em Português. Com ela, uma voz distorcida e um embalo genuinamente engraçado.
“All this time” é capaz de ser a faixa mais comercial e dispensável do álbum, trazendo consigo o sabor mais agri que doce que, até aquele momento, não tínhamos sentido.
Para finalizar, “Them”, traz uma mescla de vários sentimentos e sentidos que nos guiam a uma despedida bela e emotiva, sempre com o ritmo sensual que nos acompanhou ao longo deste caminho.
Trata-se um álbum enérgico, denso e coberto de um ritmo que transpira sensações e toques distintos e saborosos. Podem vê-los no próximo Domingo, dia 12 de Agosto no Bons Sons, em Cem Soldos.
Devisable foi lançado no passado dia 20 de Novembro de 2017 e pode escutar-se e dançar-se na íntegra aqui.