O SonicBlast chegou finalmente. Mais um ano volvido para verificarmos que voltou a valer a pena esta volta ao sol, por muito penosa que tenha sido. A aventura de mais de duas dezenas de concertos entre uma piscina e um parque no meio de uma vila minhota regressou. É um bocado uma odisseia, no sentido metafórico da palavra porque é uma vila com alguma dimensão e a tradição dos festivais em cidades mais pequenas é ligeiramente diferente da de Moledo. Já se pode falar em tradição ao cabo de oito edições… A tradição mais enraizada do Sonicblast é a qualidade, consistência e equilíbrio com que tem vindo a apresentar bandas novas e bandas consagradas de excelente qualidade. A parte do acolhimento ou hospitalidade é inata na grande maioria dos locais onde sucedem este tipo de eventos e Moledo não é excepção. A paisagem é de tirar o fôlego.
Tanta conversa para quê afinal? Para chegar a um ponto fulcral, uma questão que muita gente colocou este ano devido à lotação dos espaços; Existe forma de meter mais público no SonicBlast? Nos dois espaços existentes talvez não, ou pelo menos tudo isso seria seria feito à custa do conforto de todos. A verdade é que não fazemos a menor ideia e torna-se dificil dizer algo em relação a um festival feito com tanto carinho e a pensar em todos os que o visitam. Este ano o SonicBlast mostrou-se como já se havia mostrado anteriormente é certo, mas este ano com um relevo ainda maior devido à grande afluência, uma organização coesa e bem montada, uma máquina cada vez mais bem oleada, fez toda a diferença. Desde a troca de pulseiras feita no campismo, a melhorias que parecem tão pequenas como um acesso por uma escada de madeira a uma zona mais elevada no palco principal, ao aumento do número de bares, quer na piscina, quer no recinto principal, o aumento do número de w.c’s, a existência de tabaco na bilheteira, os pagamentos por multibanco, tudo feito a pensar no conforto de quem vem para ouvir música, sem nunca beliscar o principal motivo que nos faz ir até Moledo; a música. Por tudo isto e mais um par de botas, não vejo qualquer motivo para colocar em causa o discernimento e capacidade da equipa do SonicBlast. Aliás deposito neles uma grande confiança de que sabem realmente o que querem e como o querem fazer, e como eu quase toda a gente que lá se deslocou.
A antecipação pelo momento da chegada atingiu muita gente. Muitos empreendem viagens consideraveis para estar no SonicBlast, há quem planeie as suas férias a pensar neste momento, há quem mande tudo às urtigas para vir até aqui. Uma coisa é certa, esta gente toda não vem até Moledo para tirar fotos. Esta gente toda vem cá para ouvir música. São muitos os repetentes, e todos os anos isso é algo a tomar em consideração. A cada edição é cada vez maior o número de fãs que promete regressar no ano seguinte.
Ao inicio da tarde de sexta o movimento era já notório na zona do recinto. Aquando da abertura das portas à hora anunciada existiam já algumas pessoas de toalha na mão em direção à piscina onde se apresentou em primeiro lugar o trio de Barcelos Solar Corona, do qual apenas ouvimos os ecos do público relativamente à energia transmitida pela banda.
Quando entrámos no recinto em palco encontravam-se os Desert’Smoke, quarteto oriundo de Lisboa que nestas primeiras horas da tarde destilava os seus riffs para uma piscina já repleta e que vibrou ao ritmo do calor das músicas do EP lançado no inicio de 2018, Hidden Mirage.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Desert Smoke
Os espanhóis Atavismo foram a primeira banda internacional em palco. Já andam há algum tempo nestas lides, todos eles, e tem uma base de apoio bastante grande. O SonicBlast é em boa parte mais que um festival português talvez um festival ibérico e esse foi o primeiro momento em que isso se fez sentir com um consideravél número de pessoas na plateia a cantar com os Atavismo.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Atavismo
Os portugueses Astrodome protagonizaram o primeiro momento imperdível da piscina. Ainda na ressaca da apresentação do segundo disco, é já certo e sabido que um concerto de Astrodome será bom. A sonoridade por vezes mais hipnótica, outras vezes um pouco mais dura, propõe uma viagem embalada pelo calor morno da tarde, pelo sol que a esta hora já não queima mas ainda aquece; com um set onde pudemos ouvir Mirage, Sunrite e Coronation, os Astrodome captaram a atenção de toda a gente e a ovação antes de apresentarem a última música foi a melhor prova disso.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Astrodome
Os ingleses Electric Octopus agarram na multidão bem moldada pelos Astrodome mas não conseguiram manter o mesmo nível de interesse que os portugueses. A verdade é que os Electric Octopus possuem um género de dispersão rítmica que por vezes se transforma apenas num filtro ambiente, o que por um lado é bom, porque o público também necessita de se manter a circular, mas por outro creio que a banda dentro do seu algo extenso repertório terá decerto coisas mais aditivas para nos apresentar. Ainda assim um concerto que agradou a muitos que se mantiveram por ali mesmo até ao final.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Electric Octopus
Os britânicos Conan apresentaram pontualmente às 18h para abrir o palco principal do SonicBlast. Sabíamos que seria duro, sabíamos que seria pesado, mas o horário escolhido pelo SonicBlast dificilmente poderia ser melhor. É o tipo de banda que nos consome toda a energia vital. Demolidores e duros, cortantes, como nenhuma outra banda que este ano esteve presente, a sua sonoridade é feita para resistir à mais dura das intempéries.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Conan
O fim de tarde prosseguia pesado mas de outra forma. Os italianos Ufomammut foram uma das bandas cujo regresso a Portugal foi bastante celebrado. O público estava bastante receptivo e pediu mais, apesar banda e principalmente o guitarrista debateram-se com alguns problemas técnicos, havendo por vezes a sensação que o som estaria ligeiramente embrulhado. No entanto se forem perguntar a quem os queria ver, seja os que já viram várias vezes ou os que nunca haviam visto, a ideia geral é que foi uma prestação à altura do SonicBlast e dos Ufomammut. Muitos gostariam de os ter visto no palco principal mais tarde, mas a verdade é que estas sonoridades mais pesadas e demolidoras neste horário constituíram um ponto de viragem para uma noite que ainda se adivinhava longa.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Ufomammut
Depois de duas bandas pesadíssimas como Conan e Uffomammut, o SonicBlast introduz os californianos Nebula. Um concerto pleno de rock n’roll. Presentes neste género desde os anos 90 quando integraram bandas como os Fu Manchu, Eddie e companheiros mostraram-se felizes e descomplicados com o que estão a fazer agora, depois de quase uma década sem actividade. O público respondeu à altura, vibrando com os riffs orelhudos e o stonner mais marcante, que nos leva de volta às primeiras incursões nestas sonoridades! Um dos momentos mais bonitos foi ver as pessoas que fazem isto acontecer sentadas com um magnifico sorriso num canto do palco enquanto os Nebula desafiavam o público.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Nebula
A surpresa da noite, que na verdade não o foi, foi o concerto de Causa Sui. Os dinamarqueses contagiaram toda a audiência com a sua vibração dourada. Os dinamarqueses envolveram o público e arrebataram-nos para uma das viagens mais celebradas. Com um set que percorreu o seu vasto repertório, músicas como Homage e outras mais recentes como El Fuego deram-nos um novo mundo, um novo olhar sobre todo aquele momento de tirar o fôlego. A banda visivelmente feliz com a recepção do público correspondeu ao pedido para voltar ao palco e houve ainda tempo para uma “pequena” música. A ausência de música imediatamente após os Causa Sui saírem de palco permitia perceber o estado de todos os que ali se encontravam, entre o êxtase, a surpresa e aquele sorriso de sonho cumprido.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Causa Sui
Foi perto da meia noite que os alemães Samsara Blues Experiment entraram em palco com a sua sonoridade cativante desenhada entre um heavy blues onde se consegue percepcionar a presença do melhor kraut alemão, o trio empreendeu o périplo pela sua discografia mantendo o público interessado e sempre com vontade de mais.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Samsara Blues Experiment
Os Mantar, duo alemão que pratica o mais extremo noise da noite de sexta-feira em Moledo, encerraram a primeira noite da melhor forma, fornecendo a dose de energia necessária a alguns para chegar à tenda e a outros para continuar a noite, talvez na after-party do Sonic Blast, que nas duas noites após o final dos concertos decorreu no bar da praia. Uma banda com dois integrantes que faz mais ruído que muitas com quatro ou mais. Duros e senhores de uma agressividade poderosa, não deixaram ninguém indiferente.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 10 Mantar
Estávamos agora a meio da viagem, ainda a digerir o corpo e a cabeça cheios de riffs, enquanto aguardávamos o dia seguinte. A sede ainda não estava saciada.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus
Evento – SonicBlast Moledo