O sábado em Moledo amanheceu ainda mais radioso que o dia anterior, a temperatura parecia ter subido ligeiramente e às 13h já muita gente circulava pelas ruas em direcção ao SonicBlast. O ambiente mantinha-se fluido e agradável com uma notória comparência de fãs vindos de outros países. Junto da entrada da piscina concentravam-se algumas das bandas da tarde e circulavam outras que haviam actuado no dia anterior mas que ficaram pelo festival, num ambiente totalmente descontraído e nada pretencioso. Os músicos tiram fotos com os fãs e respondem a quem os cumprimenta relaxadamente. As pessoas que se encontram a trabalham trocam sorrisos de cumplicidade e apesar do notório cansaço das 24 horas anteriores não perdem o ritmo. O público esse larga algures pela praia ou na piscina, a ressaca de uma noite ou várias noites anteriores e ao cabo de alguns mergulhos reemerge de alma lavada e pronto para mais 12 horas música.
Ainda subíamos a colina e já os The Wizards se faziam ouvir por Moledo, no entanto já não nos foi possivél ver a banda em palco. Após um compasso um pouco mais longo do que o desejavél os magnéticos Talea Jacta entram em palco. O duo portuense criou uma atmosfera despreocupada, como se nos oferecessem um momento para nos unirmos ao sol e ao calor. Um momento de introspecção para alguns cujo movimento não ia para lá do pé que ondulava a acompanhar os ritmos tribais da bateria de João Pais Filipe ou das harmonias cósmicas em que Pedro Pestana nos submerge. Um concerto que apenas pecou por ter sido breve.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Talea Jacta
Mas tal como ontem foi a terceira banda que fez levantar mais corpos e soltar mais sorrisos. A energia contagiante dos riffs duros de outro duo portuense chamado Greengo encheu a piscina de gente que se foi juntando ao pitt que agora se formava ali mesmo dentro de água. Uma celebração feliz de uma energia brutal, sentir a água saltar enquanto nós saltávamos na água, no meio de toda a música destilada pelos Greengo. A partir desse momento a piscina não teve mais sossego até os Greengo saírem do palco. O público entusiasmava-se ao ritmo da bateria e batia a compasso na água. Um momento único nesta edição do SonicBlast que apenas mostra preto no branco que este é um festival que respira uma espontaneadade pura.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Greengo
A tarde seguia e apresentaram-se em palco os Ruff Majik oriundos da África do Sul, que entre outros registos trazem o mais recente Seasons, lançado em Abril deste ano. A sua sonoridade aguerrida e suja contrasta na maioria do tempo com os sorrisos abertos que lançam ao público. Deram a tonalidade mais dura ao palco da piscina com os seus riffs sujos e a sua possante batida, completamente aptos a arrasar tudo, como já haviam provado a algum público que os apanhou a dar um concerto surpresa no warm-up do festival noites antes. De facto são exactamente como se descrevem; What you see is what you get! Este trio que já tem um trabalho consideravél para mostrar deu continuidade à corrente iniciada pelos Greengo mantendo a energia numa curva claramente ascendente, o que nem sempre é fácil após tantas horas de música.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Ruff Majik
Foram os noruegueses Purple Hill Witch que encerraram os concertos na piscina na edição deste ano. O doom norueguês não passou em claro a uma boa fatia do público que permaneceu até ao final do concerto para ouvir ao vivo o set desta banda que como eles próprios gostam de dizer, gosta de retirar velocidade a tudo o que faz, não deu o seu tempo por perdido. Com muitos elementos reconheciveis à maioria dos presentes, pois foram beber às melhores tradições do metal mais antigo proporcionaram a acalmia, mantendo no entanto uma atmosfera densa. O trio que conta apenas com dois albuns não parece muito preocupado com o que quer seja, vivendo apenas o momento numa velocidade muito própria, como a maioria do público experienciava à medida que o dia avançava a passos largos para o fim.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Purple Hill Witch
A tarde do palco principal iniciou com os gregos Naxatras. Desde que em 2015 lançaram o seu primeiro álbum que a atenção sobre a banda tem vindo a crescer exponencialmente. O recinto principal encheu rapidamente e os Naxatras tiveram uma das maiores ovações da tarde. Navegaram graciosamente pelos registos mais antigos, conquistando a multidão por vezes através da guitarra viajeira de John Delias, outras vezes pelo ritmo quente do baixo de John Vagenas e da bateria de Kostas Harizanis. Um dos melhores ser+a mesmo a única música que tocaram do último registo que lançaram, On the Silver Line, que exibe uma exuberante fluidez em contraste com um fuzz mais possante que nos incita a libertar o corpo para que vagueei sem rumo definido, entrando no ritmo leve de Waves, passaram ainda por I am the Beyonder e The Great Attractor, deixando na maioria do público gravado o sabor do sol daquele fim de tarde morno e narcotizante.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Naxatras
Os Atomic Bitchwax continuaram a maré de excitação que os Naxatras haviam criado entre o público e abrem caminho com o seu stoner musculado de métrica certa. Em primeiro lugar há que dizer que estes senhores não andam nisto há meia dúzia de anos, os Atomic Bitchwax já dão cartar neste jogo desde meados dos anos 90, mas a energia e a garra deles é de fazer inveja a muito boa gente que ainda nem 25 anos tem. E a verdade é que nada melhor que uma dose de testosterona para arrebitar o público que havia abrandado um pouco ao ritmo dos Naxatras. E foi exactamente isso que os americanos fizeram, prenderam o público na sua teia de stoner rock musculado e feito para estimulantes ondas de headbanging.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Atomic Bitchwax
Os 1000 Mods deram um concerto fabuloso, arrebatando toda a audiência. Apesar dos gregos serem sobejamente conhecidos da maioria do público, a entrega com que se deram ao público surpreendeu-nos a todos. Uma força e uma vontade incrivél que não deixou ninguém indiferente os 1000 Mods deram tudo em palco enquanto passaram por músicas como. Dispostos a não deixar pedra sobre pedra puxaram pelo público como poucos enquanto passaram por músicas como Above 1979 ou Electric Carve, Low ou o Super Van Vacation, alternado entre a muralha sonora e arrastada e ritmos apropriados a uma road trip como Into The Spell ou um video de skaters em qualquer lado do mundo como em Claws, os 1000 Mods surpreenderam quem poderia imaginar que era apenas mais um concerto de stoner no meio de tantos. O concerto certo na hora certa, balançando entre a dose massiva de testosterona entregue pelos antecessores e os riffs mais impregnados de groove dos senhores que se seguiam.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 1000 Mods
Os reis da noite e um dos nomes mais celebrados deste ano de 2018 poderiam mesmo ser os Kadavar. Depois do cancelamento na passada edição e da promessa do regresso quanto antes, a expectativa era bastante elevada. Uma entrada encenada na viagem que começa com o regresso a Creature of the Demon de 2012 e dá o mote para mais de uma hora de riffs cravejados da melhor tradição do heavy psy dos anos setenta. Os corpos abanam-se na noite já há muito cerrada sobre nós para se abandonarem ao groove de Pale Blue Eyes ou All Our Toughts. Deram o concerto que compensou a tristeza de não os termos visto em 2017 sem muito espaço a improvisos largos, mantiveram-se nao seu trilho e com eles levaram uma multidão na orelhuda Die Baby Die e na épica doçura de Living in your Head que nos leva tão longe quanto maior fôr o nosso desejo. Era quase impossivél saírem de palco sem que o público fizesse um fabuloso alarido a pedir mais, Faltava Come Back Life. Valeu a pena esperar duas vezes pelos Kadavar, para que nos levassem nesta impar peregrinação.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Kadavar
Os Earthless eram outras das bandas que fez movimentar mais gente em direcção a Moledo este ano. O trio de Mario Rubalcaba, Isaiah Mitchell e Mike Eginton desta vez traz na bagagem um àlbum novo, mas o público sobe rapidamente aos píncaros ao pressentir Uluru Rock, viagem por um cosmos obscuro com uma sensualidade subversiva e hipnótica, que rapidamente dá largas a uma explosão de alegria de um público emocionado e quase incrédulo. Desse espaço longinquo de onde vem Uluru Rock levam-nos a uma incursão por Black Heaven e Electric Flame com os seus solos de guitarra deliciosamente rebeldes, como um fruto tragado no momento da perfeita maturação, para um regresso a Violence of the Red Sea onde se entregam a uma infindavél carga de sumarentos riffs aos quais o público responde entusiasticamente sem hesitar. A noite completar-se-ia na revisitação a dois clássicos; Cherry Red e Communication Breakdown. Uma noite épica onde todos se entregaram por completo ao ritmo duro e lascivo dos Eartlhess sem reserva alguma.
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 dia 11 Earthless
Coube aos Black Wizards encerrar o palco principal e com ele a edição de 2018 do Sonicblast Moledo. Munidos de um fuzz demolidor e uma garra dificil de igualar àquela hora o quarteto português fez mexer muita gente. Um encerramento que marca toda a edição do Sonic Blast pois nos cerca de 80 minutos que o quarteto tocou agarrou literalmente o público fê-lo exorcizar todo o cansaço do corpo em nome do fuzz, ninguém ficou indiferente à energia e à voz de Joana Brito que novamente ecoou pelas encostas de Moledo. Uma banda que cresceu mais ou menos ao mesmo tempo que o próprio festival e que aqui fez juz ao papel que lhe foi destinado, um encerramento inolvidavél que deixou em todos a marca do fuzz aguerrido dos Black Wizard e das boas vibrações deste local e destas pessoas como que dizendo; “Achavam que já não vos surpreendíamos?”
+ fotos na galeria Sonicblast Moledo 2018 Ambiente
No fim a mim bastava-me dizer apenas até já, porque espero realmente que não demore a passar.
Ainda a tarde de sexta não havia terminado e já pensava que os poucos concertos e tudo ali já me havia compensado as horas que não dormi e a viagem. A partir seria só lucro. E assim foi. Um ambiente sensacional, uma organização cada vez mais oleada e focada em todos os pormenores para que todos possam tirar o melhor partido desta experiência. Ainda nem respirei fundo desde a madrugada de sábado e já mil hipoteses me assaltam sobre o futuro. A organização do SonicBlast tem vindo a superar-se e a ser habilmente capaz de ao longo de oito anos surpreender um público que por esse mesmo motivo se vem mantendo fiel, por isso, por muita pedinchice que façamos, e há que fazê-la pois então, porque são essas interacções que também mantém isto tudo a girar, uma coisa é certa; o SonicBlast não nos vai desapontar! Da nossa parte apenas temos a dizer que daqui a 360 dias podem contar conosco novamente!
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus
Evento – SonicBlast Moledo