O segundo dia de festival, dia 16, acabaria por se revelar no dia com mais surpresas e dinâmicas satisfatórias que nos levariam a não parar um segundo desde a tarde até à noite.
Começo pela Music Session do dia. Uma das melhores e mais significantes onde estive em 4 anos de festival. Seriam uma 15h25 quando chegávamos a um jardim de uma casa particular. À nossa frente, os The Mystery Lights e uma piscina. Foi a minha primeira pool party com concerto e, na verdade, senti-me parte de uma cultura americana de rock e boas energias que tão cedo não irei esquecer. Os The Mystery Lights também têm esse encanto, o encanto de cativar e prender qualquer pessoa à sua energia, boa disposição e ondas sonoras quentes e de perdição mental. Naqueles minutos, diante de nós, abraçaram-nos, abanaram-nos e ofereceram-nos uma qualidade musical irrepreensível.
Ao mesmo tempo, havia na margem do rio o Jazz na Relva com Galo Cant’às Duas e S. Pedro.
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O dia prometia ser longo tanto em energia como em concertos com um certo grau de densidade e loucura. A abrir o festival, no Palco Vodafone FM, os nortenhos Fugly com uma qualidade de som muito superior à última vez que vi um concerto deles, em Braga. Com músicas rápidas, atrevidas e com uma exuberância de riffs estrondosos, os Fugly passeiam entre o garage e o surf rock. Ainda que de ressaca, conforme afirmaram, a energia não lhes faltava e a capacidade de meter o público a saltar com ele, tampouco.
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Do outro lado, com um ritmo também electrizante, mas de intensidades diferentes, X-Wife de regresso ao palco de Paredes de Coura após 15 anos. Os anos passaram e a maturidade e definição sonoras aumentaram. Os X-Wife estão mais coesos e com certezas acerca da sua identidade. A condizer com o toque aveludado dos raios de sol mais fracos, um disco suave com carisma 80’s adaptado à modernidade fazia-nos abanar. Duas vozes femininas e 2 instrumentos de sopro, davam congruência à música e solidificavam o prazer. O Homónimo foi bem recebido e primou neste concerto.
À nossa espera, e pela segunda vez, estavam os The Mystery Lights que tocaram demasiado cedo! Uma banda de garage com travos psicadélicos e um encanto próprio requer um toque escuro e não a claridade da tarde. Ainda assim, voltaram a dar o seu melhor tornando-se num dos concertos com mais adrenalina deste segundo dia. A introdução de um teclista, veio melhorar a composição e o poder da destruição. O coração saltava com eles à medida em que os minutos iam passando e a vontade de ficarmos presos ao mistério das luzes que irradiam aumentava. As guitarras arrepiam e a voz penetra em cada poro do corpo como se tivesse vida própria. A América tem destas coisas e o que mais apetecia era ir dançar com eles para o deserto, semi-nús, como já nos encontrávamos interiormente. “Too Many Girls”, “Melt” e “What Happens When You Turn The Devil Down?”, entre outras, fizeram as nossas delícias.
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Da adrenalina para a sujidade decadente, louca e, ao mesmo tempo, saborosa. Os Shame estavam no palco principal prestes a dar mais um dos grandes concertos deste dia. Não fosse o excesso de álcool da parte deles e a surpresa teria sido ainda mais marcante. Vergonha é coisa que não existe no corpo daqueles rapazes e nenhuma falta faz. Pouco depois do início do concerto, Eddie já andava em cima do público e aos beijos às meninas da frente. O post punk cru e sujo faz maravilhas e a voz ligeiramente revolucionária e muito rebelde puxa-nos de rompante para uma bolha de caos da qual não queremos sair. O único álbum que têm “Songs Of Praise” fora apresentado, tal como uma música nova ainda sem nome. Houve uma faísca de poder que nos ia tocando e fazendo com que os espasmos mentais e corporais acompanhassem o concerto.
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Naquilo a que eu chamaria erro de de colocação, caminhámos até à suavidade de Japanese Breakfast que, depois de tanta energia e adrenalina fez uma bocadinho de confusão ao corpo. A melodia era límpida, suave e agradável, no entanto uma chapada de pureza depois de uma descarga de energia, não era bem aquilo que estávamos à espera. Com todas as qualidades que Michelle possui, efectivamente, o pequeno almoço já tinha passado há muitas horas e o indie pop saberia muito melhor mais cedo. Perto do fim, o concerto ficou ligeiramente mais estranho com “Dreams” de The Cranberries.
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De regresso ao rock’n’roll e à libertação da alma, Paulo Furtado aguardava-nos para mais um concerto de The Legendary Tigerman. Problemas técnicos impediram que o concerto atingisse a plenitude do costume, mas não foi isso que impossibilitou o mesmo de nos fazer sentir felizes e degustar cada riff, cada sopro, cada distorção ou, até, cada batida com a maior intensidade que o rock’n’blues nos permite. O deserto fez-lhe bem e Misfit é o reflexo disso, “Black Hole”, “Motorcycle Boy” e “Fix Of Rock’n’Roll” entraram maravilhosamente bem pelos nossos ouvidos fazendo-nos abanar os ombros e a anca. Os clássicos “Nacked Blues”, “These Boots Are Made For Walkin’” de Lee Hazlewood e “21st Century Rock’n’Roll” levaram o público ao rubro, recebendo Paulo em braços já no final.
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A encerrar o palco secundário, o encanto magnético de Surma e a sua entrega genuína a cada alma presente. Com uma evolução gritante desde o primeiro momento em que a vi em cima do palco, Surma tem a capacidade de tocar música de golfinhos sem se tornar aborrecida. Toda ela constrói um rendilhado de complexidade e leveza em cada faixa que faz com que sejamos absorvidos sempre para o interior de um casulo de seda. Débora traz consigo um véu de purificação melódica que nos faz sorrir e transmitir felicidade. Trouxe algumas surpresas de percussão e maior densidade ao espetáculo.
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Com esta calmaria transitávamos para um concerto extremamente belo e, ao mesmo tempo, fora de lugar. Falo de Fleet Foxes e que os 6 elementos em cima daquele palco mereciam um ambiente mais intimista e introspectivo. A melodia das montanhas combinava o country com o folk melancólico e penetrante, moldando-o com uma intensidade brutal que passou despercebida a quase todos os presentes. Em poucos minutos, deixou de se ter silêncio e o burburinho misturou-se com aquilo que devia ser uma melancolia elegante e brutalmente única. Crack-up não é um álbum de fácil digestão e os Fleet Foxes escolheram o anfiteatro natural para o mostrar às pessoas. Mal escolhido tanto da parte deles como da parte da organização porque, efectivamente, não estávamos num anfiteatro fechado com cadeiras. Da minha parte, recebi “I Am All I Need/ Arroyo Seco/ Thumbprint Scar”, “Cassius,-”, -Naids, Cassadies”, “Fool’s Errand”, “On Another Ocean (January/June)”, “Mearcstapa”, “If You Need To, Keep Time On Me” e “Third Of May/Odaigahare” da melhor maneira possível, não sentindo, no entanto, a plenitude das músicas como a dádiva que eles nos queriam oferecer, pois não era o local apropriado.
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Jungle dariam o embalo perfeito para o encerramento de uma noite repleta de emoções de todos os tipos. Uma panóplia de instrumentos e texturas construía todo um cenário idílico e contemplativo de som e ritmo que nos ia guiar através de uma onda gigante de sensualidade e sedução. Onda tal resultante da soul moderna que misturam tão bem com um leve travo a funk e um beat lento e apetecível. A conjugação do coro de vozes femininas e masculinas assemelhava-se a uma oferenda a deuses. A mescla de culturas e ambiências resultante do instrumental, por vezes demasiado colado entre as faixas, fazia apoderar-se de nós um sentimento de calmaria e elegância que nos impelia a suaves movimentos de anca e satisfação mental. “Lemonade Lake” fora dedicada a Aretha Franklin e “Platoon”, “The Heat”, “Cherry”, “Busy Earnin’” e “Time” causadoras de euforia sã entre nós. Apresentaram “Cassio” que faz parte do novo álbum a sair no próximo mês e mostraram que se vão manter fiéis a eles próprios e nós a eles!
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O sorriso foi companhia até casa e a leveza resultante da satisfação, também.
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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura’18