O terceiro dia de festival, sexta-feira, trazia consigo uma mistura de sabores e sentimentos que nos iam inquietar e, ao mesmo tempo, satisfazer no grau de plena felicidade. A intensidade tem destas coisas e quando há concertos que nos marcam, marcam das mais variadas formas!
Na relva, a acompanhar os banhistas durante a tarde, Quadra e Vaarwell.
O fim da tarde apresentava-nos aos nortenhos Smartini. Quatro amigos, que sabem o que fazem, constroem um instrumental bem delineado. Um rock bonito e denso e uma voz extremamente geração 80’s alternativo estava diante de nós. Adolescência passada a ouvir Sonic Youth e uma vontade gigante de fazer uma festa bonita na garagem de amigos! Tudo isto senti enquanto olhava para eles em palco. A voz distorcida e envolta num manto de aconchego, confortou o coração enquanto o corpo pedia para dançar nessa festa de amigos.
+ fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 17 Smartini
A abrir o palco principal, aquilo que seria a banda sonora perfeita para nos sentarmos na relva e conversar com as pessoas. Lucy Dacus, pela primeira vez em Portugal, tem uma voz que nos abana e abraça. Acompanham-a duas guitarras, um baixo e uma bateria e concebe um indie rock sonhador que nos traz boas energias e adormece os sentidos. A voz toca, por vezes, em timbres de Hope Sandoval. Escolha perfeita para início de tarde com o toque subtil dos últimos raios de sol no corpo.
+ fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 17 Lucy Dacus
Uma das surpresas da noite esperava-nos no palco Vodafone FM. Antes de ser surpresa era receio, mas este desapareceu assim que os Imarhan pisaram o palco e pegaram nos instrumentos. São 5 amigos argelinos que criam um desert rock, rock alternativo com groove e uma camada de música do mundo, capaz de nos dar chapadas de prazer e concretização que nos deixam desnorteados. Ainda que o inglês fosse fraco, a presença deles dispensava a conversa absorvendo-nos com todas as forças naquela música que tanto tem de agri como de doce. Foi impossível ficar quieto! Por momentos senti-me a serpente a sair do pote em estado de transe profundo. As guitarras profundas e a percussão mágica empurravam-nos de um lado para o outro seguindo o quente da onda sonora. Excelente concerto e surpresa que este dia nos trouxe.
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No mesmo palco, a seguir, estava Frankie Cosmos e mais um registo indie pop meio dreammy, meio folk. A voz e a imagem de Greta, com semelhanças assustadoras às de Dolores O’Riordan, constroem uma paisagem feliz e bonita onde nos apetece passear de mão dada com o mundo. Os sintetizadores criam o sonho, a poética o folk e as guitarras o indie. Mais um momento de harmonia bela e boas energias a pairar pelo festival.
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E porque um festival não pode ser só harmonia, o concerto da noite estava à nossa espera. Não por ser desarmonioso, mas por ser demasiado intenso para o coração o aguentar sem explodir. Os DIIV pararam durante cinco anos por problemas graves de corpo e mente. Quando o anúncio foi feito não esperava um regresso, pois o regresso dos problemas é um caminho muito difícil de se fazer! Talvez por isso ou pela fome de palcos que foram juntando nestes anos todos, deram tudo o que podiam e o que não podiam. Deram e eu recebi como se de algo transcendente se tratasse. Foi uma longa viagem dos EUA até Paredes de Coura para dar o único concerto na Europa e tocar para a maior plateia que alguma vez tiveram e só tenho que agradecer o momento de puro prazer que me proporcionaram. Zachary, mentor dos Beach Fossils também, é dono de uma voz sonhadora e demasiado penetrante nas mentes. A beleza que constrói e nos oferece é única e faz com que levitemos sem tirar os pés do chão.. em cerca de 1h o tempo parou, as pessoas deixaram de existir e uma sensação de liberdade apoderou-se de todos os meus sentidos. O sorriso rasgou-me o rosto e manteve-se até me deitar, a plenitude inatingível foi atingida naquele momento e a perfeição concretizou-se. Atrás deles, imagens da estrada, imagens belas e feias, momentos grotescos e momentos simples, tudo descrito visualmente com a mesma intensidade que lhes saia do corpo e que eu sentia no meu. O rasto da decadência ainda os persegue mas quiçá isso os torne tão especiais e genuínos. Como já escrevi por diversas vezes a carga emotiva da melancolia pode ser uma das coisas mais bonitas que se cria. Neste caso, a beleza carregava um travo de melancolia e não o contrário. As guitarras guiavam-nos para mundos paralelos e alucinantes onde o post punk se cruzava com o shoegaze e roçava o indie rock sendo o baixo o catalisador da altura dos voos. “Is There is Are”, “Follow”, “Dopamine”, “Under The Sun” e “Doused” foram tocadas de rojo sendo, depois, apresentada uma música nova, que transpira a essência deles. O concerto termina com um apelo de Zachary: Remember, Make DIIV good again! Assim será! Um brinde ao vosso regresso e ao caminho que faremos juntos.
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Em bicos dos pés e ainda a sonhar fui caminhando até ao palco secundário para assistir a mias um grande concerto e surpresa da noite. Os …And You Will Know Us By The Trail Of Dead traziam uma mala cheia de adrenalina e testosterona. Tipicamente texanos, a banda que conta já com 25 anos de estrada chegou, tocou e arrasou. Carregam o peso de um garage rock mesclado com a vibração do art rock e alternativo. Intensidade também não lhes faltava e atitude tampouco. Aqui sentimos o revivalismo do rock cru e sujo dos anos 90 com a raiva acumulada de quem tem uma revolta contra tudo e todos a crescer dentro de si. Explosões de energia e frenesim corporal apoderaram-se dos presentes e era impensável não desejar, por diversos segundos e por diversas vezes, ir para o mosh pit. Era o último concerto da tour e tudo indicava a que fosse o primeiro!
+ fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2018 dia 17 And You Will Know Us By The Trail Of Dead
Os Slowdive têm a capacidade de nos dar a mão e levar-nos a passear por entre as estrelas. Apesar de terem lançado um dos melhores álbuns do ano de 2017 e de terem dado um grande concerto nesta noite, não conseguiram transmitir a beleza que costumam ou, talvez, não tenham conseguido superar DIIV. De todas as formas, continuam a mostrar-nos o caminho para uma viagem ao interior de nós próprios, onde o aconchego é a meta principal. Há uma sensação de liberdade onde conseguimos ouvir o som do sentimento numa aura de intimismo puro e tocar as estrelas levemente tal como tocamos a nossa pele. O shoegaze deles está cada vez mais demarcado e consolidado. Faixas como “Slomo”, “Star Roving”, “No Longer Making Time” e “Sugar For The Pill” revelam isso, mostrando o porquê de o Homónimo ser um dos álbuns do ano. As clássicas “Catch The Breeze”, “Crazy For You”, “When The Sun Hits” e “Golden Hair” de Syd Barret marcaram a presença habitual e desfizeram-nos em pequenas bolhas de sabão que subiram até ao céu. A presença de Rachel já teve melhores dias, por isso os olhos fechados durante o concerto ajudaram à levitação!
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Depois de tanta intensidade, Skepta ficou para trás.
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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura’18