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Causa Sui, do tempo se faz som, do som se faz luz.

Os Causa Sui estiveram no SonicBlast e trouxeram-nos um concerto que levou a maioria da audiência a concentrar-se no palco principal para absorver a onda dourada de sons provocada pelos dinamarqueses. Quando anunciaram o regresso dos Causa Sui ao SonicBlast o entusiasmo dos seguidores do festival de Moledo foi quase arrebatador, tão arrebatador como desejávamos que fosse o concerto. Não poderíamos deixar passar em claro a oportunidade de trocar algumas palavras com o quarteto, e foi o que aconteceu na tarde de sábado, no press center preparado para o festival, na biblioteca do Centro Cultural de Moledo. Uma curta conversa, descontraída e divertida com muitos sorrisos à mistura, pois os rapazes em causa são mesmo espontâneos e divertidos.

Música em DX (MDX) – Como vos pareceu Moledo e o SonicBlast 6 anos depois?

Causa Sui – Fantástico como sempre!

Música em Dx – Da nossa perspectiva parecia que se estavam a divertir bastante! O público estava a gostar bastante e os Causa Sui também! O vosso último disco Vibraciones Doradas carrega mesmo uma vibração dourada, e essa atmosfera assenta que nem uma luva no SonicBlast.

Causa Sui – Uau, obrigada!

MDX – Os Causa Sui já tem planos para outro álbum?

Causa Sui – Não nem por isso. Não temos nada especifico planeado. Falamos sobre isso mas nada mais, sabemos que é um dos próximos passos e nada mais.

MDX – Os Causa Sui tem lançado discos com alguma consistência temporal, mais ou menos de dois em dois anos…

Causa Sui – Tem sido mais fruto do acaso ou sorte que outra coisa. Nós fazemos muitas pausas na verdade. A última vez que tínhamos tocado foi em Janeiro e foi um concerto de duas músicas. E antes disso acho que estivemos outros seis meses sem tocar. Por isso na verdade nós não tocamos assim tanto, e ensaiamos ainda menos. Fazemos bastantes pausas em que estamos meses e meses sem tocar e depois quando temos um concerto ou dois juntámo-nos e montamos o concerto, ensaiamos umas vezes e isso mantém as coisas sempre relativamente frescas entre nós. Não gostamos de estar sempre a repetir as mesmas ideias uma e outra vez, porque assim cada vez que tocamos é sempre um pouco diferente. Ontem à noite foi mesmo um pouco diferente, mas não foi puramente improviso, porque nós ensaiámos aquelas músicas, mas a algumas coisas demos um tom e uma direcção diferente. É bom que ainda nos consigamos surpreender apesar de alguma canções serem já bastante antigas.

MDX – Na verdade se não tocam muitas vezes também não se torna tão repetitivo como se estivessem numa tour onde teriam de tocar em 40 concertos em dois ou três meses. Vai na linha de pensamento sobre a qual assentam a vossa forma de gravar discos, é algo que vai acontecendo. Ainda assim existem diferenças de disco para disco… Quais foram as maiores diferenças que sentiram de Return to The Sky para Vibraciones Doradas?

Causa Sui – Achámos este último álbum um pouco mais pesado ou denso, como lhe queiras chamar, que os anteriores, mas isso é algo que se sente, e as pessoas não sentem todas da mesma forma. Há uma parte mais dura e mais agressiva da música e depois também o reverso da medalha, muito pacifíco, onde o equilíbrio muda ligeiramente de uma música para outra, e também de disco para disco, mas acho que também vejo o Vibraciones Doradas como mais directo e mais pesado que os anteriores. São quatro canções e um pequeno interlúdio e são quase todas bastante directas.

MDX – Engraçado ouvir o que sentem em relação ao Vibraciones Doradas porque para mim foi quase exactamente o oposto. (risos) A banda não lançou todos os álbuns através da El Paraiso. A El Paraiso aconteceu por causa da banda?

Causa Sui – Sim, porque nós já estávamos a fazer tudo, nós não lançávamos o disco mas fazíamos tudo o resto. O Jonas produzia-os do inicio ao fim, eu fazia as capas e todo o art work, nós fazíamos tudo sozinhos, até a promoção. E demos por nós a pensar; então porque não editamos nós, já que fazemos tudo o resto…

MDX – Foi como se fosse o último elo da cadeia.

Causa Sui – Sim era só o que nos faltava fazer. Até porque o que nos direcionou foi sempre; “Como será que se faz isto, ou aquilo. Vou experimentar, vou tentar fazer, hum…também consigo fazer; Como é que se toca este ou aquele instrumento, como é que se monta uma banda, como é que se faz uma capa de um álbum, como é que se faz um disco, e depois como é se lança um disco, fomos sempre tentando perceber como é que se faziam as coisas. Tivemos sempre uma curiosidade imensa, até que chegámos àquele ponto; Bem vamos ter de criar uma editora, vamos tentar entender quantos discos podemos fazer.

MDX – Acabou por ser um processo de certa forma orgânico, o Jonas já produzia os discos, tu fazias o artwork, todos juntos a comunicação e a divulgação, era o passo que vos faltava.

Causa Sui – O primeiro lançamento, as Pewt’r Sessions dos Causa Sui, que são colaborações com um músico americano chamado Ron Schneiderman, ele toca guitarra nas Pewt’r Sessions, que são uma série de álbuns, digamos um pouco mais livres. Naquela altura nós tentámos editar esses álbuns através da Elektrohasch, mas eles não gostaram, e nós…ok…Vamos criar a nossa editora, se não gostam da nossa música, vamos tratar do assunto de outra forma. Acho que foi o timming certo, porque nós já falávamos disso há algum tempo e naquele momento já tínhamos contactos sólidos com distribuidoras e outras coisas assim, que são imprescindíveis para editares um álbum. Acho mesmo que foi um óptimo timming e também um bocado fruto de uma coincidência os álbuns terem sido rejeitados.

MDX – Foi um pouco como dar um passo atrás para poder dar dois em frente e na verdade acho que nessa situação especifica acabaram por dar muito mais que dois passos…Só foi um passo atrás talvez porque não lançaram o disco quando queriam…

Causa Sui – Abriu uma porta completamente nova.

MDX – Voltando um pouco atrás, ou muito atrás, como é que se conheceram?

Causa Sui – (risos)

MDX – Foi mesmo há muito tempo não foi?

Causa Sui – (risos) Como nos conhecemos…. Bem eu e o Jonas morávamos na mesma rua quando éramos miúdos, e andámos na escola com o Jakob, depois no liceu conhecemos o Rasmus e acho que foi mais ou menos isso. Havia uma banda com alguns de nós a tocar, e tocámos durante muito tempo juntos sem nada definido.

MDX – Aprenderam música em crianças ou adolescentes ?

Causa Sui – Acho que simplesmente começámos, até porque não éramos assim tão crescidos, éramos bastante jovens, talvez 10, 12 anos…tocávamos imenso, e tocámos durante imenso tempo, até que em 2004, 2005, pensámos “Temos de fazer um disco”. Sempre tocámos juntos por isso simplesmente fazia sentido que se íamos fazer um disco, o faríamos como banda e depois até acabámos por ensaiar a sério, porque habitualmente nós simplesmente tocávamos na cave dos pais do Jonas e já éramos um bocado crescidos para isso, já estávamos nos 20’s, por isso arranjámos um local de ensaio e começámos a levar as coisas um bocado mais a sério. Acho que antes disso estávamos apenas a divertir-nos, sem pensar muito em nada. Mas a partir daquele momento delineámos certas coisas, acabámos por fazer também algumas coisas mais electrónicas e andámos a vaguear por aí durante alguns anos. O que foi óptimo porque aprendemos sempre algo novo que trazemos para a próxima etapa. Acho que os Causa Sui não eram para ser algo que se fosse perpetuar ou durar vários anos. Aconteceu porque as pessoas se foram interessando por nós… foi a partir das Summer Sessions que começámos a ser convidados para um variado número de festivais por toda a Europa. Ligavam-nos “Ouvimos o vosso disco, querem vir cá tocar?” Existiam pessoas que nos queriam ouvir. E todos os anos apareceu sempre gente a dizer-nos “Venham tocar ao nosso festival, há imensa gente que vos quer ver!”… Com os trabalhos e tudo mais, e às vezes seis meses sem tocar, de certa forma quase nos esquecemos que fazemos parte de uma banda, mas depois há sempre alguém que nos telefona e relembra do quão bom isso é.

MDX – O que é ouviam quando tinham 14, 15 anos?

Causa Sui – Tool!! Toneladas de Tool!!!!!!!!

MDX – Só Tool??

Causa Sui – Rage Against The Machine também, aliás acho que ainda se ouve alguma coisa de Rage Against The Machine e de Tool em algumas faixas de Causa Sui. Parece que ficaram lá marcados certos traços dessas audições.

MDX – E actualmente? Ainda ouvem Tool suponho…

Causa Sui – Oh yeah!… (risos)… Mas naquela altura explorávamos imensa musica… por volta dos 16/17, o post-rock era uma cena mesmo grande e mais tarde redescobrimos o stoner rock por onde já tínhamos andado uns anos antes, os Kyuss, Fu Manchu. Mas havia tanto para ouvir. Fomos sempre movidos por uma grande curiosidade. Imensos discos, imensos géneros, podíamos estar aqui falar disso um dia inteiro ou mais. É uma característica inerente aos Causa Sui, temos um espectro muito largo de influências, música electrónica, jazz, jazz experimental, toneladas de coisas de finais dos anos 60/70, o kraut rock alemão dos anos 70 também e depois as coisas que ouvimos enquanto adolescente, como os Smashing Pumpkins, Rage Against The Machine, Tool, Kyuus, está lá tudo.

MDX – Conhecem algumas bandas portuguesas?

Causa Sui – Astrodome, fizemos a masterização do álbum novo deles, que saiu há uns meses atrás! São fantásticos.

Música Em Dx – Conseguiram vê-los ontem?

Causa Sui – Não. Já chegámos um bocado depois. Só chegámos duas horas antes do nosso concerto.

MDX – E hoje vão ficar por cá?

Causa Sui – Sim, vamos ver uns concertos!

MDX – Alguma coisa que gostariam de dizer a todos os que os seguem aqui em Portugal?

Causa Sui – Divirtam-se!

MDX – Obrigada pela vossa disponibilidade!

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus