O verão não terminou, nem disso parece estar perto. Na passada terça-feira à noite a Galeria Zé dos Bois acolheu um triplo concerto, os portugueses Sun Blossoms, o duo de Los Angeles No Age e o quinteto de Newcastle Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs.
Passavam alguns minutos da hora marcada quando os Sun Blossoms, projecto que nasceu da vontade de Alexandre Fernandes entrou em palco. Apesar da hora ser mais precoce que o habitual mesmo tratando-se aqui de um dia de semana o público correspondeu à chamada e a sala da ZDB rapidamente encheu para a introdução dos Sun Blossoms. Enérgicos e seguros, com uma garra estranhamente desenhada na sujidade da guitarra e no ritmo vivo de quem quer gritar mil coisas através da sua música. Uma introdução enganadora, com um toque morno mas a pender para o quente, mas se vista muito de perto nos poderia queimar a retina.
Não demorou muito a que tudo estivesse pronto para receber os No Age de Randy Randall e Dean Spunt que editaram este ano Snares Like a Haircut depois de uma ausência de cerca de 5 anos. Um concerto literalmente “in your face”, porque a bateria estava na beira do palco e a distância entre os músicos e o público era quase nula, mas na verdade ninguém se importou nada com isso porque a energia desconcertante deste duo, quase constante ao longo da carreira que já conta com 13 anos e vários discos, contagiou toda a sala. Com um périplo mais acentuado pelo último álbum, de onde se destacam músicas como Cruise Control, Stuck in a Changer ou Secret Swamp nunca afrouxaram sequer quase para respirar… Mas nada como voltar a Fever Dreaming ou Glitter de Everything in Between. O enfâse foi mesmo para o novo registo de onde pudemos apreciar também Drippy, Popper, Soft Collar Fad, Tidal ou Send Me. No entanto com o equilibrio certo levaram-nos de volta a momentos menos explorados como Separation ou C’mon Stiggmund, e a recordações como Teen Creeps. Um concerto rápido e vibrante como a maioria das músicas da banda, quentes e provocadoras a invocar os espíritos mais rebeldes e a estimular uma energia juvenil que nem todas as bandas sabem evocar de uma forma tão natural.
Mas a grande aposta da noite era o quinteto de Newcastle Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs que se estreou em Portugal há dois anos atrás numa tarde de intenso calor junto ao Rio Tejo, no Reverence Valada e que no ano passado regressou, desta vez, ao Milhões de Festa. Ou seja terceiro ano consecutivo a pisar palcos portugueses, esperemos que se mantenham as visitas regulares. Em músicas como Sweet Reliefe ou The Wizard and the Seven Swines que faz parte de um dos primeiros registos da banda, um split com os Cosmic Dead de 2013, o peso e a força que imprimem na música, fazendo com que a distorção das guitarras domine o nosso corpo de forma completamente involuntária, não aparece por acaso. Tudo parece preparado para isso. Os ingleses não se fizeram rogados ao calor que se fazia sentir na sala nesta altura e mantiveram sempre um ritmo denso e vertiginoso.
É uma força quase épica a que empreendem em causar uma sensação tão forte e isso está presente em toda a linguagem corporal da banda. Matt Baty descalço e como se carregasse às costas o peso do mundo reúne-se em circulo com os guitarristas Grant e Sykes e o baixista John Hedley em torno da bateria onde se senta Mackenzie. O compasso de espera, os passos largos pelo palco fazem crescer a expectativa e arrancam com Sweet Reliefe do álbum de 2017, Feed the Rats, logo de seguida GNT, o mais recente single para King of Cowards que será editado no final deste mês. É uma banda cujo valor de os vermos ao vivo e a cores, e ali ainda mais especial, ao alcance da mão aumenta exponencialmente e entra naquele leque de experiências que vão um pouco para lá de um concerto. Ou seja, por muito excitante que sejam os registos, e são, a real existência dos Pigsx7 é em cima de um palco, o que talvez explique a parca produção de discos, King of Cowards é apenas o segundo e foi daí que pudemos ouvir também Thumbsucker, Shockmaster ,Cake of Light, Gloamer e A66. Um concerto curto mas repleto de uma intensidade inesgotável, concebido para perdurar no nosso corpo, agressivamente bom e que mal terminou poderia perfeitamente ter recomeçado, numa ZDB que serviu de invólucro a uma das melhores surpresas deste verão. Cá vos esperamos em 2019.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – João Rebelo | Vera Marmelo