Os The Asteroid Nº4 banda que inspirou outras como os Black Angels e que marcou passo com outros como os Brian Jonestown Massacre, passou por Portugal no último fim de semana, no Sabotage Club em Lisboa e Woodstock 69 no Porto. A noite de sábado trazia no seu âmago a promessa quebrada da ausência dos Pretty Lightning que cancelaram os concertos em Portugal por motivos de saúde, mas ainda assim o ambiente no Cais do Sodré era de expectativa e recheado de alguns reencontros, porque aparentemente os Asteroid Nº4 já tem algumas amizades em Lisboa, o que para eles e para nós ainda tornou tudo isto um pouco mais familiar.
A última vez que havíamos tido os The Asteroid Nº4 por cá foi em 2014, na primeira edição do Reverence Valada. Havia uma certa curiosidade em relação ao alinhamento que iriam trazer até porque as preferências daqueles com quem falei iam mais ou menos para os álbuns mais distantes como Introducing ou King Richard’s Collectibles, embora a vontade de conhecer os novos temas ao vivo também se sentisse.
Os The Asteroid Nº4 tem um álbum novo, o mais certo é que se centre mais o concerto nessas redondezas que nos confins da memória, ou talvez o equilíbrio entre esses dois momentos seja a fórmula mais certa para um concerto com o seu quê de mágico.
E sim, a experiência ajuda e bastante, porque os The Asteroid Nº4 deram mais ou menos uma volta pela sua discografia e a coisa resultou sensivelmente mágica como poucas. A melodia branda e serena do quinteto avançou por entre a plateia e suavemente envolveu-nos a todos num som que parece reflexo colorido de conversas, evocativo de fins de tarde quentes e ensolarados.
Let It Go e All Fall Down do álbum de 2008, These Flowers of Ours: A Treasury of Witchcraft & Devilry, com o travo da guitarra a arrastar-nos para um tempo longínquo e desejado, numa estranha mistura de nostalgia, mas sem aquele cheiro a mofo que às vezes a nostalgia arrasta consigo, antes pelo contrário, deliciosamente fresco como uma manhã de primavera ou as primeiras tardes de outono. Mas a noite é sobre Collide editado em Maio deste ano, e as novas músicas dos The Asteroid Nº4. Collide e Explore e as apresentações ao novo álbum estão iniciadas, para logo regressarmos no tempo à batida voluptuosa de Wicked Wire que não deixou ninguém indiferente. Ainda de Hail to Clear Figurines ouvimos The Unknown e houve também tempo para a melancolia de The Windmill in the Autumn Sky e uma segunda incursão a Collide de onde pudemos ouvir Ghost Garden. A cereja no topo do bolo foi oferecida num final esplêndido com I Wanna Touch You. A noite estaria terminada mas queríamos mais e os Asteroid nº4 acederam a mais uma música. Uma noite luminosa por onde fomos conduzidos pela perícia dos Asteroid Nº4 e que abriu caminho para muitos que depois seguiram guiados pelas escolhas de Tiago Castro até ao amanhecer.