O calendário marcava 29 de Setembro de 2018, mas a partir do momento que se entra pelas portas do Lisboa ao Vivo (LAV), o relógio retrocede uns bons vinte anos, diretamente para a década de 90, altura em que os Low emergiram como uma das mais entusiasmantes bandas daqueles tempos.
Pioneiros do slowcore, estilo caracterizado pelos efeitos sonoros minimalistas e a simplicidade das harmonias, a enchente que se registou pelo LAV para acolher os Low era feita por uma faixa etária já adulta, que é como quem diz fãs que cresceram ao som de discos como I Could Live in Hope. Todavia a grande estrela da noite seria o mais recente Double Negative, lançado no presente mês de Setembro e sucessor de Ones and Sixes – ambos foram os discos com maior presença no alinhamento. E foi mesmo ao som dos últimos registos da banda que a noite teria o seu arranque, através de “Quorom” e “No Comprende”.
“Boa noite, obrigado por terem vindo. A vossa cidade é linda e vocês também. É um prazer estar aqui.”. Estas foram as únicas palavras que Alan Sparhawk proferiu durante todo o concerto, mas nunca lhe conseguíriamos apontar um dedo por rudeza, no máximo, seria por gratidão. Porquê? Pelo simples facto de não existirem interrupções desnecessárias, capazes de quebrar o fluxo nas canções de Low, aquele que tem a capacidade de tranquilizar tudo e todos.
A veia minimalista dos Low, aquela que transporta a magia da banda diretamente para o coração da sua sonoridade, transpira paz de espírito que consome o ouvinte por completo, deixando-o num estado de pseudo transe, tentando absorver todas as notas geradas pelo combo guitarra/baixo de Sparhawk e Steve Garrington, com embalante voz de Mimi Parker a ser a cereja no topo do bolo. Fosse através de sorrisos, olhos fechados ou o massajar de barbas, o LAV dedicou-se de alma e coração a interiorizar o vasto leque de canções apresentadas por Low.
Quando se fala de um ‘vasto leque’, fala-se em cerca vinte canções. Embora o sangue novo de Double Negative e Ones and Sixes comprimirem cerca de três quartos do alinhamento – quinze temas no total – houve tempo para as pérolas de outrora darem o ar de sua graça, como “Do You Know How to Waltz?” (The Curtains Hits the Cast, 1996) e “Lazy” (I Could Live in Hope, 1994), servidas de seguida e a exemplificarem como a música consegue funcionar um pouco como um saboroso vinho do Porto: melhora com a idade.
Passadas duas horas intensas na companhia de uma banda sonora intemporal, Sparhawk dirigiu-se novamente ao público para se despedir do mesmo; “ Vamos tocar mais uma música e depois vamos embora, e vocês também, que isto já são muitas horas de pé e as vossas pernas e costas já não devem aguentar muito mais tempo”, disse em jeito de graça. Com o resgate de “Murderer” (Drums and Guns, 2007) a colocar ponto final numa noite onde as nossas emoções ficaram ao rubro, os Low provaram (novamente) o porquê de terem sido uma das bandas mais marcantes da década de 90, aproveitando, também, a ocasião para demonstrarem que ainda estão para as curvas durante muito tempo.
Fotografia – Nuno Conceição | Everything Is New
Promotor – Everything Is New