Os Acid Mothers Temple regressaram na passada quarta-feira a Portugal para uma série de 3 concertos em território luso. Braga, Coimbra e Lisboa respectivamente. Tivemos o prazer de assistir ao concerto de Lisboa no MusicBox, sala essa que se encontrava praticamente cheia à hora marcada no evento. O quinteto apresentou-se como habitualmente, sem surpresas, porque provavelmente isso não é de todo necessário no caso da banda que é por si só um misto de surpresa e de choque.
O público bastante heterogéneo em idades mostra a abrangência, a continuidade e a influência que a banda japonesa possui junto dos amantes das sonoridades mais perto do psicadelismo mas também para aqueles que se sentem mais aberto e predispostos ao experimentalismo, e que continua sob a alçada de Kawabata Makoto a conquistar novos ouvintes desde meados dos anos 90. O legado e as colaborações são já bastantes e a discografia ultrapassa números razoáveis, mesmo para uma banda que privilegia a improvisação.
Audazes como sempre iniciam o seu concerto envoltos numa névoa imensa plena de uma aura disruptiva de sonoridades caóticas levando a plateia até ao ponto de maior distorção para depois nos largarem numa mistura de sons mais perto do sonho mas também bastante perto do que poderiam ser os nossos maiores pesadelos.
Hábeis, e exímios contadores de histórias levam-nos nas suas jams pela história de um universo que só eles sabem contar e expôr como em Pink Lady Lemonade. É extraordinário perceber como a nova encarnação dos Acid Mothers Temple apenas aprimorou aquelas propriedades que tornam a sua sonoridade quase sobrenatural ou pelo menos de um espaço diferente daquele que habitamos agora. No final de 2017 Jyonson Tsu fez o seu primeiro concerto com a banda no Festival Anual dos Acid Mothers Temple, concerto esse que marcou a saída da banda de Mitsuru Tabata. Esta nova encarnação do colectivo, apresentando os fundadores Kawabata e Higashi, ao leme, além de uma recém-recrutada secção rítmica de grande qualidade composta por Sakamoto e Uchida e se juntou ao grupo em 2015 estava agora à nossa frente, a uma distância tão curta quanto possível. É essa mesma secção rítmica que vemos levar ao rubro toda a sala com uma jam de mais de dez minutos que ultrapassa qualquer groove que possamos imaginar naquele momento, porque a nossa imaginação não acompanha a torrente de surpresas que se sucedem. Sakamoto manipulou com a sua bateria e a ajuda do baixo de Uchida toda a plateia numa dança tribal que culminou logo de seguida num improviso forçado, pois teve de reparar a bateria. E são aqueles momentos que parecem ser contratempos que a banda japonesa consegue converter em momentos de de comunhão maior. Jyonson Tsu em loop trauteia uma melodia e arrasta toda a plateia com ele num momento especial e arrebatador para quem o presenciou, assim como todo o concerto. O titulo deste texto reflecte o que sentia no fim do concerto; A estupefacção, o deslumbramento e a forte impressão com que os Acid Mothers Temple nos deixam é duradoura e a sua música poderia ser a banda sonora de um rapto alienígena ou de estranha alucinação colectiva. Um pouco para lá de sublime e surpreendente, na linha de pensamento do nome da tour, Electric Dream Ecstasy Tour.
Promotor – CTL | Musicbox Lisboa