Backstage

Entrevista a Whispering Sons; “Felizmente que já não se vive numa época onde há a necessidade de se assinar milhares de canções de intervenção”

São cinco e dão pelo nome de Whispering Sons. Oriundos da Bélgica, mais propriamente de Bruxelas, este entusiasmante projecto belga tem tomado a Europa de assalto com a sua sonoridade post-punk e actuações enérgicas. Depois de algumas presenças por Portugal, os Whispering Sons regressaram a semana passada ao nosso país para apresentar o seu primeiro disco, o vibrante Image.

De momento, os Whispering Sons encontram-se em tournée europeia com The Soft Moon, o que levou ambas as bandas a subirem ao palco do RCA Clube na passada semana. Nessa ocasião, a Música em DX aproveitou essa oportunidade para se sentar com a banda belga com o intuito de a conhecer um pouco melhor e entender este alarido que paira à sua volta.

Música em DX – O vosso nome é inspirado na “Whispering Sons” dos Moral. A escolha deste nome para a banda deve-se ao facto de ter sido das primeiras vezes em que a Fenne cantou convosco? Em que os cinco tocaram juntos pela primeira vez?

Sander Hermans – Não foi a primeira vez que ela cantou connosco, mas foi aquele momento em que sentimos que houve um ‘click’ com um nome.

Fenne Kuppens – Ao tocar essa canção num dos nosso ensaios, sentimos uma atmosfera especial pelo ar ao tocá-la; foi nesse instante que sentimos que Whispering Sons era o nome certo.

MDX – Quando começaram a procurar vocalistas para a banda, tinham algum tipo de voz específico em mente?

Kobe Lijnen – Essencialmente, procurávamos alguém que cantasse melhor do que nós os quatro, porque somos terríveis a fazê-lo (risos)

S.H. – Nós já sabíamos que a Fenne cantava, então pedimos-lhe que nos enviasse qualquer coisa para que ouvíssemos, e não só gostámos daquilo que ela nos mandou como também achámos que se enquadrava no tipo de música que queríamos fazer.

K.L. – Porem, na altura, a Fenne não cantava de forma tão grave como o faz agora, o que levou com que ela própria se tivesse que adaptar um pouco à nossa sonoridade.

MDX – No início, quando a banda surgiu, vocês partilhavam as mesmas influências musicais?

K.L. – Acho que é um processo normal nos dias de hoje: as pessoas juntam-se para formar uma banda porque são amigos e ouvem as mesmas bandas.

MDX – Diriam que o movimento post-punk belga teve um papel importante no nosso crescimento enquanto banda? Quiçá, como uma influência?

K.L. – Não muito, para ser sincero. Talvez os clássicos, de certa forma, sim.

S.H. – Acho que foram as bandas inglesas que acabaram por desempenhar um papel mais influenciável.

K.L. – Só quando começámos a tocar é que entrámos em contacto com a ‘herança’ post-punk belga.

MDX – Nesse caso, no meio de tantas bandas post-punk belgas, o que é que vocês consideram que vos distingue das restantes?

K.L. – Essa é uma pergunta difícil, pois é complicado responder sem transmitir a ideia que somos um pouco gabarolas, especialmente por sermos pessoas muito modestas.

F.K. – Ninguém é modesto quando tem que dizer que é modesto (risos). Não gosto particularmente desta nova vaga de bandas post-punk contemporâneas por considerar que lhes falta energia. Se calhar, essa acaba por ser uma das nossa peculiaridades; a nossa energia em palco. Somos um quinteto que se preocupa em assegurar que tudo o que toque em palco seja ‘ao vivo’, enquanto outras bandas recorrem demasiado a computadores ou a backing tracks.

MDX – Para além da vossa sonoridade pesada, é fácil de reparar o quão ricas e distintas são as vossas letras, com mensagens subliminares aqui e ali. Têm preferência a escrever sobre algum tema em específico? Mensagens com conteúdo crítico ou produzir uma introspeção para com os sentimentos do ouvinte?  

F.K. – Pessoalmente, tento sempre ‘escapar’ a mensagens com teor crítico porque não o gosto do fazer, não sinto essa necessidade. Quando componho, tento sempre escrever sobre como me sentia no momento X ou Y, e aquilo que pretendo é que alguém se relacione com esse estado de espírito ou façam as suas próprias interpretações.

S.H. – Dentro da nossa música, não se trata tanto de se fazer uma escrita crítica, mas muito mais sobre sentimentos e afins; felizmente que já não vivemos numa época onde há a necessidade de se assinar milhares de canções de intervenção, como acontecia na década de 80.

K.L. – Apesar da nossa música ser bastante enérgica, a verdade é que nós os cinco somos todos muito introspetivos, e gostamos que as nossas letras reflitam esse nosso traço de personalidade.

MDX – Enquanto uma banda de um país com um mercado reduzido quando em comparação com outros, qual é a vossa posição face à digitalização do mercado musical? Ajudou-vos a crescer e a propagarem-se mais facilmente?

F.K. – Tem as suas coisas boas e más: acho genial a facilidade com que agora se consegue conhecer novas músicas e novos artistas com um simples ‘click’, mas é um pouco chato para os músicos a nível de finanças, pois vê-se pouco ou nenhum dinheiro a entrar nas nossas carteiras.

S.H. – Nos dias que correm, bandas como a nossa têm o seu ganha-pão através de concertos.

K.L. – Se não fosse a internet, nós nunca teríamos tido a possibilidade de ter tocado aqui, em Portugal, em 2016, por exemplo. Todavia, acho que esta situação tem que ser um pouco mais regularizada, com mais regras e afins; o dinheiro não pode ir todo para as plataformas enquanto os artistas não ganham nada com isso.

MDX – A popularidade à volta dos Whispering Sounds apanhou-vos de surpresa? Pergunto isto porque, contando só com um EP e um disco na bagagem, vocês já estiveram em extensas tournées europeias, não é verdade?

S.H. – Para responder a isso, vou utilizar Portugal como exemplo; quando há dois anos nos disseram que íamos tocar aqui no país, ficámos bastantes surpreendidos com o quão prematuro era um cenário destes, e a verdade é que adorámos ter cá estado.

K.L. – Tendo nós já uma legião de fãs considerável na Bélgica, um dos nossos objetivos agora é voltar aos países onde já tocámos, e a novos, para conseguir novos fãs e expandir os nossos horizontes; se antes tocávamos para uma sala com 20 a 50 pessoas, agora já o fazemos para umas duzentas.

F.K. – No nosso caso, também se tornou um pouco uma necessidade porque, apesar da Bélgica ser um país rico, é um país um pouco limitado, pois depois de alguns concertos, a verdade é que se chega a um ponto onde já se alcançou um grande número de pessoas, daí a nossa necessidade de nos expandirmos para fora.

MDX – Nesse caso, com esta vossa tournée de apoio a The Soft Moon, certamente que há a expecativa do vosso número de fãs aumentar pela Europa, certo?

K.L. – Sim, é essa que se espera, já para não dizer que as nossas sonoridades são um bom match e é um dos nossos projetos preferidos no ativo.

MDX – Vamos agora pegar no vosso primeiro disco, Image. Sentem que este disco é um bom resumo de quem os Whispering Sons são enquanto banda?

F.K. – Estamos muito orgulhosos do resultado final: é um disco que queríamos fazer e que soe exatamente àquilo que idealizámos no início. Aliás, uma das melhores coisas sobre este disco é que, passado um ano a fazê-lo, ainda conseguimos ouvi-lo (risos).

K.L. – Agora com o disco cá fora, aquilo que esperamos é dar ainda mais concertos do que os que já dávamos antes e, quem sabe, passar de concertos pequenos para festivais. O céu é o limite não é?