Foi em 2006 que o Musicbox, a mítica sala de concertos do Cais do Sodré, abriu portas pela primeira vez ao Jameson Urban Routes. Orgulhoso pioneiro dos festivais indoor, pelo menos ao que diz respeito à organização por parte de um clube, este evento tanto dá a conhecer algumas das tendências globais do actual panorama musical alternativo, assim como a apresentação de artistas de renome num registo mais intimista.
Para 2018, o Jameson Urban Routes mantém a tendência de apresentar um cartaz luxuoso e repleto nomes interessantes a ter em conta. O pontapé de saída será feito no dia 23 de Outubro com o encanto do folk emociante de Sean Riley a solo. Com o seu primeiro disco em mão Califórnia saiu a 13 de Abril deste ano e carrega consigo o peso de cheiros, sabores, paisagens e emoções de uma viagem aos Estados Unidos da América, vai pegar-nos ao colo e levar-nos a sonhar emotivamente por estradas de cor ténue cobertas de densidade sensorial.
De seguida, Damien Jurado sobe ao palco para nos proporcionar mais um momento intismista e extremamente intenso. O cantautor americano com mais de vinte anos de carreira vem apresentar o seu mais recente trabalho The Horizon Just Landed lançado em Maio do corrente ano. A sua música traduz-se num folk americano reconfortante e melancólico que nos vai fazer levitar e sair do Musicbox, nesta noite, com um sentimento de completude e de satisfação com a vida!
A segunda sessão do Jameson Urban Routes trará ao palco do Music Box os incontornáveis Mão Morta e Author & Punisher. Os primeiros fazem parte da história da música portuguesa seja pela forma como sempre se apresentaram junto do seu público, seja pela maneira menos convencional de abordar a sua própria paixão pela música, possivelmente porque poucas vezes cederam a terceiros no que toca às suas criações. Dessa forma construiriam uma carreira sólida, e mantiveram ao longo dos anos uma falange de seguidores, ao mesmo tempo que angariavam novos ouvintes. Nascidos em meados dos anos 80, cresceram com a sede de irreverência do público mas souberam amadurecer tanto na atitude como na música como poucas bandas portuguesas conseguiram e são actualmente uma instituição da música nacional que continua a trazer novas ideias nunca perdendo de vista a sua mais longínqua génese. Poder ouvir e ver os Mão Morta num clube é cada vez mais um privilégio, e o retorno a uma rebelde nostalgia quase adolescente, plena de transgressões, o que transforma esta noite em paragem obrigatória para muitos de nós que vivemos isto em primeira mão e para muitos outros que estão agora a descobrir uma das bandas mais originais de Portugal.
Continuando a noite nos tons mais negros da música, Author & Punisher é o projecto do engenheiro mecânico Tristan Shone que lançou há poucos dias o seu sétimo álbum Beastland. As raízes da sua sonoridade são profundamente industriais e o que utiliza para a fazer também. Author & Punisher mais parece um híbrido saído do mais aterrador ou do mais negro dos filmes com a promessa de nos esmagar, como se a destruição massiva a que se entrega e a que nos sujeita nos conduzissem a um final em êxtase. Tristan Shone utiliza máquinas e controladores construídos por si e outros construídos à medida dos seus mais obscuros desejos de exacerbar ao máximo expoente o que é o seu sonho, de tudo o que um drone ou doom industrial podem ser, ver algo assim ser concretizado por uma só pessoa é no mínimo desconcertante.
Na terceira noite, Afonso Rodrigues surge de novo no Jameson Urban Routes, mas desta vez bem acompanhado para dar início a uma noite que ganhará sotaques luso-brasileiros. Falamos primeiro da apresentação do novo disco dos Keep Razors Sharp, Overcome.
A filosofia, o rock e o psicadelismo mantêm-se da parte do Afonso, Rai, Braúlio e BB, que servem de entrada para o regresso mais uma vez a solos lusos dos Boogarins. A banda de Goiânia já está a três concertos no Musicbox de garantir residência fixa na Rua Cor de Rosa, sendo que depois de uma actuação esgotada no MIL, o grupo de Benke e Dinho têm se mostrado um pouco como o vinho do Porto, melhor com o tempo. Com a semente plantada um pouco por todo o mundo, a música pop psicadélica das Plantas que Curam, lançado em 2013, e com três músicas adicionais, lançadas ao ano passado, fazem o mote para uma noite de quinta-feira no mínimo interessante.
A quarta noite do Jameson Urban Routes terá B Fachada como principal atração. Para a ocasião, Viola Braguesa, um dos primeiros EPs do cantautor e que fez do ‘tio B’ um dos artistas portugueses mais acarinhados pelo público, será tocado na íntegra, na celebração do décimo aniversário do seu lançamento, motivo mais do que suficiente para se adivinhar uma noite memorável. A primeira parte ficará encarregue a MARIA, a vocalista e guitarrista da dupla Pega Monstro, que se aventura assim em território solitário.
Mas a noite não acaba com B Fachada e MARIA. A sala continua em festa até às 6 da manhã com uma noite de ritmos africanos que permitem aumentar a temperatura no Cais do Sodré. O fenómeno da Internet ganesa, Ata Kak, em estreia em Portugal promete dançar, soar, principalmente ao som de Obaa Sima, som lançado em 2002, apenas descoberto oito anos depois pelo célebre blog “Awesome Tapes from Africa“. Se for uma reflexão sobre o estado atual da música ganesa, que seja ao som de Obaa Sima. A noite continuará a ganhar ritmos e vibes africanas graças aos sets dos conjuntos Irmãos Makossa e e do grupo CelesteMariposa.
Depois de terem gelado as margens do Taboão em 2015, os Iceage estão de regresso a Portugal, desta feita pela capital. Oriundos da Dinamarca, o projecto liderado pelo irreverente Elias Rønnenfelt apresentará o seu mais recente disco de originais, de nome Beyondless, pela primeira vez em palcos portugueses, naquele que tem tudo para ser um dos concertos mais explosivos e marcantes desta edição do Jameson Urban Routes. Porém, momentos antes, haverá tempo para acolher a estreia do tripleto Palmers em Lisboa, um grupo de amigos das Caldas da Rainha que aliena o melhor do punk rock à juvenilidade do surf rock.
Mais informação em facebook.com/JamesonUrbanRoutes/ .
Texto – Eliana Berto, Isabel Maria, Carlos Sousa Vieira e Nuno Fernandes