Meg Baird e Mary Lattimore juntaram-se e fizeram o álbum Ghost Forests, com edição oficial marcada para novembro. O duo veio até Lisboa, mais precisamente à Galeria Zé dos Bois, para mostrar um pouco do que virá neste seu primeiro disco, resultado da colaboração entre as duas. Antes delas, esteve em palco um outro duo, neste caso português, formado por Francisca Cortesão e Mariana Ricardo, também conhecido por Minta & The Brook Trout, ou neste caso, dado o formato reduzido da banda, por Mini Minta.
Está tanto calor em Lisboa na noite de 24 de outubro, que ao olharmos para a t-shirt de manga curta que vestimos às dez da noite, até nos custa a acreditar que já só estamos a dois meses do Natal. No Bairro Alto, e arredores, as ruas estão cheias de pessoas e grande parte delas não usa a língua de Camões para comunicar. Lisboa continua a ser um sucesso em termos de turismo.
Chegados ao local, encontramos uma Galeria Zé dos Bois já com um número considerável de pessoas, que desfrutam da oportunidade que as condições climatéricas lhes oferecem para desfrutar do pátio ao ar livre que encontramos antes de chegarmos à sala onde se realizam os eventos. Está-se por lá tão bem, que nem existe “o estar chateado” com o tempo de espera pela abertura da sala. Quando a espera acaba e entramos no espaço onde tudo iria acontecer, chama-nos de imediato a atenção a grande e bonita harpa colocada em cima do palco. A plateia, desta vez, está composta com cadeiras, o que faz sentido em função da música que nos iria ser oferecida esta noite, mas elas não se revelaram suficientes para todos os que se deslocaram até lá.
Passava um pouco das 22h, quando o projeto Minta & The Brook Trout subiu ao palco para cumprir a tarefa de fazer a primeira parte, ou, como disse a certa altura Francisca Cortesão (voz e guitarra), Mini Minta, já que a apresentação foi feita num formato reduzido, sendo a mentora da banda acompanhada só por Mariana Ricardo (voz, ukulele e percussões). As duas em conjunto em cima do palco revelaram uma enorme sintonia entre elas, interpretando as músicas em conjunto quase como se estivessem de olhos fechados. O ukulele de Mariana Ricardo ganha destaque e as duas complementam-se na perfeição. Em termos sonoros, as suas músicas não trazem nada de novo, notando-se claramente uma forte influência de alguma da música oriunda da América. Francisca Cortesão tem uma voz bem agradável, mas seria interessante, talvez, sair da sua zona de conforto e experimentar outras formas de interpretar as canções, dado que o registo apresentado foi quase sempre o mesmo. O mesmo se poderá dizer da guitarra acústica que nunca largou, e que se revelou difícil de afinar durante todo o espetáculo, bem tocada, mas com uma sonoridade já por demais vezes ouvida. Acima de tudo, ficou um espetáculo onde primou a simplicidade, uma sonoridade agradável e também algum humor, nomeadamente quando ocorria algum erro da sua parte.
Seguiu-se um pequeno intervalo, para pouco depois Meg Baird e Mary Lattimore entrarem em cena para apresentarem um pouco do que virá aí no disco que junta estas duas formas distintas de abordar a música. Meg Baird, de origem americana e a residir atualmente em São Francisco, tem estado associada ao ressurgimento da folk ao longo da última década, tendo como uma das caraterísticas da sua carreira as várias colaborações realizadas com outras pessoas, oriundas de universos musicais bem distintos, como são os casos de Bert Jansch, Michael Chapman ou Jack Rose. Mary Lattimore para além de ser uma excelente tocadora de harpa é também alguém que gosta de explorar ao máximo tudo o que seu instrumento tem para dar, tendo já participado em inúmeros discos, tanto em nome próprio como enquanto convidada, sendo assim bastante requisitada.
Desde o início da sua atuação na Galeria Zé dos Bois que nos chamou a atenção os sons que vão saindo da harpa de Mary Lattimore, contribuindo, e muito, para isso o facto de ter em cima das suas pernas um pedal de efeitos, onde usa, e abusa, da melhor forma, do delay. O resultado é uma sonoridade surpreendente e fora do habitual para um instrumento tão clássico em termos sonoros. As duas em conjunto funcionam bastante bem, resultando da colaboração entre elas uma sonoridade única e algo difícil de definir, mas que nos transporta para locais bem longe do sítio onde estamos, por vezes até nos esquecíamos de onde estávamos. Viajar por outros locais, todos eles caraterizados pela paz que conseguem transmitir à nossa alma, é a melhor forma de definir o trabalho que resulta desta colaboração.
O concerto foi um pouco curto, durando cerca de uma hora. Ghost Forests, o álbum de estreia deste duo, sairá oficialmente só em novembro, mas ao sairmos da Galeria Zé dos Bois pudemos constatar que o mesmo já lá se encontrava à venda, nos formatos vinil e CD. Somos uns privilegiados!
Promotor – Galeria Zé dos Bois