HHY & The Macumbas: “Beheaded Totem” vai ser apresentado ao vivo no Porto e em Lisboa. Banda passa pelo Understage do Rivoli a 16 de Novembro e por Lisboa a 29 do mesmo mês. Concertos servem para apresentar “Beheaded Totem“, editado recentemente via House of Mythology.
Quando uma brass band passa nas ruas de Nova Orleães para-se para ouvir. As marchas efusivas, som cheio, unidireccional, que na sua forma circular assume múltiplas direcções, o carácter cerimonial do movimento e da música aprazem a atenção, os sentidos apuram-se e o corpo vibra. Mais do que um ritual, é uma celebração. E é nesse registo de celebração que a música dos HHY & The Macumbas existe.
Liderados por Jonathan Saldanha e com João Pais Filipe, Brendan Hemsworth, Filipe Silva e Frankão na percussão, e André Rocha, Álvaro Almeida nos metais, os HHY & The Macumbas partilham no seu segundo álbum, depois do aclamado “Throat Permission Cut” (Silo Rumor, 2014), uma euforia de movimentos invisíveis em constante êxtase. Em “Beheaded Totem” há uma ausência de boas maneiras para meter o corpo a vibrar. Isto é, os ritmos febris contagiados pela secção de metais entram de rompante em “Wilderness Of Glass“, o movimento circular – e não repetitivo – das peças situa-as no improviso entre o rock e a dança: não se sabendo o que fazer, dança-se com a música dos HHY & The Macumbas. Afinal, é uma celebração.
Sente-se a luz dos Boredoms, a constância dos African Head Charge, a electricidade rítmica do dub de Adrian Sherwood influenciada pelas paisagens ambientais de Wolfgang Voigt enquanto Gas, a substância house/techno de Vladislav Delay misturada com a destilação de Fela Kuti se tivesse subido ao palco com os This Heat. À medida que os ritmos envolvem e se conquista uma percepção sobre o movimento da música dos HHY & The Macumbas, ela transforma-se, torna-se sónica, ideologicamente alinhada ao rock e a uma dissonância de sorriso largo que poderia ter existido na Nova Iorque de início dos 1980s. Havia o rock a aprender com o disco – e vice-versa -, em “Beheaded Totem“, as guitarras não podem aprender, porque não estão lá, mas fazem-se ouvir pela mistura invencível dos elementos que compõem a música dos portuenses.
Celebração sim, mas celebração que vem ao encontro, é música que marcha sempre em frente e que não pára, que procura mais e mais corpos para destilarem nas práticas de vudu-espacial que os HHY & The Macumbas criaram. As bandas de Nova Orleães, o Carnaval do Rio, as raves a que se foi e não há memória, os concertos infinitos e os HHY & The Macumbas. Só não vale ficar sem cabeça.
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Fotografia (capa) – Maria Do Carmo Louceiro