Do Jameson Urban Routes já conhecemos a magia e a capacidade de nos oferecer uma série de dias onde encontramos música variada e uma paleta de cores musicais bastante distinta e variada.
O primeiro dia deste festival que nos habitua já a um Outubro quente começou na passada terça-feira, dia 23, no seu habitat normal, o MusicBox.
Para aperitivo e primeira degustação, foi-nos servida uma noite calma, emotiva e tranquila coberta com o manto quente do conforto do folk.
Sean Riley subia ao palco pouco depois da hora marcada para nos abraçar em pouco mais de meia hora com o seu encanto a solo. Na mala, California, e uma mescla de histórias contadas em canções com a América como pano de fundo. “Every Star” seria a primeira a ouvir-se por estas paredes de pedra. Com a guitarra acústica ao ombro e a serenidade e simplicidade de quem acalma e inquieta almas, Afonso, com poucas notas e uma voz perfeita para este tipo de música, embalou-nos numa melancolia bela e astuta. “Dili” quase com voz rouca arrepia todos os pelos do nosso corpo e faz-nos voar por outras paisagens e pensamentos. Para além da primeira música, tocou, ainda, “L.A.”, “Drop Me A Line” e “Times” deste EP gravado em quartos de Motel da Califórnia. A última música, “Lights Out” fora dedicada ao seu companheiro e irmão, Paulo Furtado. Durante o concerto, existiu um reflexo de brilho da guitarra no pano preto atrás de si, talvez como que um marco do seu interior e de cada um nós.
Damien Jurado entrava em palco acompanhado de um amigo e duas guitarras. Ligeiramente afastado do microfone enche-nos da sua voz frágil e meio sussurrante que, ao mesmo tempo, se reveste de uma robustez maravilhosa. Consigo trazia, também, um novo trabalho lançado em Maio deste ano. De The Horizon Just Laughed, que tocou quase de seguida, mostrou-nos “Allocate”, “Dear Thomas Wolfe”, “Percy Faith”, “Cindy Lee”, “1973” e “Marvin Kaplan”. Ao longo de mais de uma hora, fez-nos caminhar em campos verdes de harmonia, sempre com um peso melancólico que nos rasgava a alma com os traços crus dos riffs a seco que por vezes lhe saiam da guitarra. As faixas eram curtas e assertivas e Damien era de poucas palavras. O seu companheiro ajudava a compor o equilíbrio das cordas e traçar um caminho mais trabalhado e completo tendo Damien tocado sozinho as últimas quatro faixas. Tivemos direito, ainda, a uma cover de Richard Swift – “The Novelist”. A sala, composta de pessoas, mantinha um silêncio profundo criando a atmosfera perfeita para levantarmos os pés do chão, sempre de olhos fechados, e só regressarmos quando a música já não nos entrava pelos ouvidos e corpo.
Não é toda a gente que consegue fazer magia com poucos elementos em palco. O facto de se encontrarem mais despidos pode fazer com que se realcem as fraquezas ou enalteçam o talento dos músicos. Estes dois concertos foram prova de talento puro onde não é preciso muito mais para tocar no recanto mais profundo e escondido de cada um nós. De olhos fechados, viajamos de sorriso suave nos lábios por diversas encruzilhadas mentais e descobrimos alento nas notas subtis que acompanhavam o calor de vozes emotivas.
Uma excelente forma de começar mais uma edição deste nosso Jameson Urban Routes. No dia a seguir haveria mais!
Fotografia (capa) – Ana Viotti | Musicbox Lisboa
Promotor – CTL | Musicbox Lisboa