A noite de sexta-feira não se findou com a atuação de B Fachada e Maria. A festa continuou pela noite dentro, mas com tons e ritmos quentes, muito incendiados pelo maior segredo que o Gana já deu ao mundo, musicalmente falando. Estamos a falar de Ata Kak. Com uma sessão acompanhada pelas duplas CelesteMariposa e Irmãos Makossa, a dança foi palavra de ordem numa sala que encheu até ficar quase lotada.
Esquecido na cena musical ganesa, aliás, a prova disso são as três unidades lançadas aquando da criação do único álbum, a história de Ata Kak já é mais do que conhecida pelos seus fãs. Em 2002, Brian Shimkovitz descobriu uma cassete no Gana que veio a dar origem ao já afamado blog Awesome Tapes From Africa. Desta cassete seguiu-se uma procura incessante por Ata Kak e após a sua descoberta foi lançada a LP, Obaa Sima. Disco esse que explodiu no mundo ocidental e em todas as pistas de dança que vibram com a eletrónica e a música ganesa. E no Musicbox não foi excepção. Sempre sorridente, Ata Kak veio acompanhado de uma banda e se mostrou incansável na sua performance (o que leva a questionar se houve algum tipo de dopagem ou é mesmo uma felicidade genuína de estar aqui presente – acreditamos na última opção).
Para além de dotes de dançarino, os dotes musicais têm de ser enaltecidos. embora o ganês não seja uma língua dominada por este escriba, a música é uma linguagem universal. Temos de realçar o Daa Nyinaa ou o Moma Yendodo. Repito, não entendemos nada. Mas o esforço e a paixão foram mais que evidentes e sentidas. A meio do concerto lá apareceu o tema pelos quais muitos aguardados, se calhar há dois anos (afinal de contas Ata Kak chegou a ter data marcada para o Lux Frágil, mas uma intempérie impediu que aterrasse em Lisboa). Tardou, mas não falhou.
O Obaa Sima levou à exposição não uma, mas duas vezes o Musicbox, já que o tema foi deixado para o encare. Se Ata Kak estará cá no futuro ou não, não sabemos, mas este segredo “mais bem guardado” é maravilhoso e merece ser mais vezes partilhado.
CelesteMariposa e Irmãos Makossa foram os autores que compuseram o resto da noite. Até ao fecho do Musicbox, o público foi invadido por sons com sotaque dos diversos Palop. As duplas (sendo que a primeira também já deu origem a uma editora) mostraram porque Lisboa é uma cidade de agregação de culturas. Um ponto de partida para o mundo. E é com projectos assim que se encontra a essência da cultura e da noite lisboeta. A tal mistura e partilha de diversas culturas transformam o que pode ser uma noite simples de sexta numa saída memorável.
Fotografia (capa) – Ana Viotti | Musicbox Lisboa
Promotor – CTL | Musicbox Lisboa