Quando os concertos dos Somali Yatch Club e dos Stoned Jesus foram anunciados a alegria e o entusiasmo foram generalizados entre a maioria dos fãs do stoner que se fez um pouco por todo o mundo nos últimos 20 anos e que residem no nosso rectângulo à beira mar plantado. É difícil resistir a ambas, a qualidade e a consistência dos registos e das passagens anteriores por Portugal, Somali Yatch Club no SonicBlast Moledo em 2015 e os Stoned Jesus no ano seguinte, deixaram muito boas recordações a quem os viu e essas coisas são melhores que qualquer publicidade que se possa fazer. Ambas as bandas mencionam e é realmente verdade, eles estão no outro extremo da Europa e numa realidade também bastante diferente da nossa a vários níveis, e isso é uma das coisas que torna a música algo tão universal, e nem sempre nos detemos nesse pensamento, mas para quem viajou metade de um continente estes pormenores fazem todo o sentido.
Na noite de quinta-feira o RCA Club literalmente encheu e se não esgotou pouco faltou. Uma verdadeira moldura humana esperava pacientemente pelos dois trios oriundos da Ucrânia e como tem vindo a ser apanágio do RCA Club passavam poucos minutos da hora marcada quando os Somali Yatch Club entraram em palco para saciar a saudade de alguns e a ansiedade da primeira vez para outros. Na bagagem trazem o mais recente álbum The Sea editado este ano, que deu o mote para o inicio do concerto com Crows onde se acumulam dez minutos de riffs insubmissos e pesados que desaguam num série de sensações atmosféricas e densas. Sightwaster mais fluída e mas também mais rápida transporta-nos até Loom, onde nos podemos deixar levar pela voz de Mez até qualquer outro sitio que não a sala cheia de gente onde nos encontramos. Para o final reservaram Up In the Sky e Vero Uma primeira parte que parece o prato principal e que nos deixa inquietos e ansiosos pelos Stoned Jesus que irão esta noite dar o seu 400º concerto.
Os Stoned Jesus já conhecem o público português suficientemente bem para saber como nos cativar sem grande esforço, no entanto fazem sempre questão de nos fazer sentir especiais. Quando nos visitaram em 2015 no Reverence Valada fizeram questão de nos dizer que nunca haviam estado tão longe de casa e que estavam a adorar, são pequenos pormenores que aumentam toda a cumplicidade que cultivam com o seu público, mais ainda nesta noite que já sabíamos ser especial por ser o 400º concerto da banda que tal como os Somali Yatch Club iniciou a sua actividade em 2010. Oito anos volvidos, vários EP’s e discos de indiscutível qualidade, os ucranianos tem já um estatuto inabalável junto da comunidade stoner. A tournée que os traz até Portugal tem como finalidade a divulgação de Pilgrims que viu a luz do dia em Setembro deste ano e é por aí que começa a nossa viagem através de Feel, Hands Resist Him e Distant Light, para logo nos levarem de volta ao primeiro momento, a 2010, com Black Woods do primeiro registo First Communion.
Thessalia e Water Me trazem-nos de volta ao presente sem grandes percalços ou diferenças entre o antes e o agora, mas é por I’m The Mountain que a multidão grita, é I’m The Mountain que a multidão entoa, no entanto o que começamos por ouvir é Alma Mater dos Moonspell!! A cara de espanto de alguns, os gritos de outros, e a banda a cantar Alma Mater num português bastante perceptível para logo avançarem então para o hino com que nos conquistaram há seis anos atrás, acompanhados pela mímica do vocalista que faz com que o público cante ainda mais alto. Sentimos que o final não tarda e tentamos absorver o máximo de cada momento que o trio nos entrega. Apathy com o seu baixo e o seu ritmo fora do habitual nos Stoned Jesus encaixa em todos nós como se tivesse sido feita naquele preciso momento, uma chamada de atenção ao que se passa no mundo e em cada um nós, podiam ter terminado ali, mas toda a gente sabia que não era esse o plano e gritou-se por mais uma, duas ou três canções, só queríamos mesmo que voltassem e como seria previsível voltaram para Excited e Here Comes the Robots, acabando a noite num ritmo elevado que nos largou num planeta muito mais optimista que aquele onde nos tinham encontrado. Esperamos rever brevemente estas duas bandas que já provaram que entre nós, seja em festivais seja em clubes, tem sempre a mesma atitude cheia de garra que tanto nos agrada.
Promotor – Garboyl Lives