2018 Concertos Festivais Misty Fest

Ode To Others no Misty Fest, nos “dois metros” de ternura de Scott Matthew

Domingo foi último de 4 concertos em Portugal do músico australiano Scott Matthew. A sala do Teatro Tivoli BBVA tornou-se acolhedora para receber Ode To Others, o último álbum do músico. Um inicio meio tímido e pouco à vontade, onde explicou que o novo álbum é diferente do anterior (This Here Defeat, 2016), com menos melodrama e mais feliz. Não deixando de ser, todo ele, composto por canções de amor a pessoas e a sítios. Exemplo desse good mood foi o tema de abertura “Happy End”. Enquanto se ajeitava na cadeira alta, contava-nos as estórias das suas composições e gesticulava os longos e bonitos dedos. Ora abertos ao mundo, ora fechados na timidez do seu mundo. Soltava a sua gargalhada contagiante no final de cada frase, fosse esta mais séria ou mais descontraída. Scott Matthew tem essa extraordinária capacidade de abrir o seu coração com o riso, e fazer com que esse riso se torne cúmplice da sua dor e da sua alegria. “End of Days” fala dos Estados Unidos da América, país que adotou com 21 anos e lhe deu espaço para ser ele próprio. Uma canção musicalmente ritmada com boa disposição, apesar de a ter composto depois das últimas eleições norte americanas, o tema transpira esperança “ Your powers a myth “(…) We’re gonna stay til the end of days.”

Entre o gingar de ombros e o estalar de dedos, intercalavam os acordes mais profundos dos interstícios do lamento. O sussurrar das canções de amor, dedicadas a quem ainda ama e a quem nunca chegou a amar, o seu pai e o seu tio. Este último fora alguém que Scott Matthew nunca conhecera, pois cometera suicídio antes do seu nascimento. Para o seu tio foi uma dedicatória, para o músico uma partilha da cumplicidade homossexual, “Not Just Another Year” e “Where I Come From”. As inquietações sociais continuaram no alinhamento e no final de “The Wich”, disse com uma gargalhada solta, “ Já chega de melodrama!”

Os covers fazem parte do seu ADN, e não foi por acaso que o seu primeiro álbum Unlearned (2013) foi o que mais vendeu até hoje. Scott Matthew tem a perícia artística de transformar composições e de torna-las em peças de porcelana delicadamente belas. Em Ode To Others repescou o hit dos anos 1980 dos britânicos Culture Club, “ Do you really want to hurt me?”, que mereceu um vídeo genuinamente divertido e que foi filmado por um vizinho realizador. “Flame Trees” de Cold Chisel  e, “I Wanna Dance With Somebody” de Whitney Houston, que mereceu coro e palmas da plateia. Antes de terminar, pediu ao público para guardar as palmas para cada um dos seus músicos (e amigos). No encore mais um tema do último álbum “The Sidewalks of New York” e por último mais uma versão sublime de Neil Young  “Harvest Moon”.

Com copos de vinho tinto na mão, Scott Matthew e os seus músicos apareceram perto do merchandising (CD´s), estiveram à conversa com os amigos (como o Rodrigo Leão) e com quem se quisesse a eles juntar. Intimistas, emotivos e genuínos, são assim os concertos do músico que tem dois metros de ternura!

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