Segunda-feira, dia 5 de novembro, o Misty Fest’18 diz-nos que o guitarrita português Francisco Sales atua no Teatro São Luiz e é exatamente para lá que vamos para ver e ouvir este senhor radicado em Londres.
Francisco Sales é Licenciado em Jazz pela Escola Superior de Música de Lisboa e tem-se destacado pela forma única como trabalha a sonoridade oriunda das suas guitarras, conseguindo provocar, em quem o escuta, um efeito em tudo idêntico ao andar a viajar pelo mundo sem se sair do mesmo sítio. Em 2013, decidiu ir para Londres e aí teve o apoio importante de Jean-Paul ‘Bluey’ Maunick, líder dos célebres Incognito (banda britânica de funk e soul e um dos maiores representantes do acid jazz), com os quais o português participa como guitarrista freelancer (como o próprio referiu quando fez a sua apresentação). Até este momento tem dois álbuns editados, Valediction de 2015 e Miles Away lançado no ano passado e com um título que representa bem o que é a sua música.
O concerto realizou-se no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz e não na sala principal, o que se revelou ser a escolha certa, já que a mesma mostrou-se ser a mais adequada para a música de Francisco Sales, para além do facto de ser também mais acolhedora. O palco apresentava-se praticamente despido, só lá marcando presença duas guitarras acústicas, que se iam revessando de tema para tema, uma cadeira e uma enorme quantidade de pedais de efeitos. Quanto aos lugares na plateia, estes estavam na sua grande maioria preenchidos e quem os ocupava teve a oportunidade de, sem sair da cadeira, viajar por locais belos e longínquos do, já por si, bonito Jardim de Inverno, que recentemente foi rebatizado de Sala Bernardo Sassetti.
Pouco depois das 21h, Francisco Sales surgiu em palco e, sozinho, deu o tiro de partida na viagem que a sua nave espacial iria realizar, tendo como passageiros todos os que estavam comodamente sentados na plateia. O concerto arrancou com três músicas interpretadas de seguida, uma de cada um dos seus dois discos e mais um original, de nome “Esperança”, a sair num próximo registo. De seguida, levantou-se e falou com o público, principalmente para se apresentar e falar um pouco da sua carreira, revelando sempre uma atitude bastante humilde e simpática.
O concerto continuou e a forma como Francisco Sales aborda o instrumento guitarra marcou-o por completo. Uma guitarra, ligada a uma série de pedais de efeitos, fazendo com que o que era tocado nas cordas acabava por sair das colunas de som com uma sonoridade totalmente transfigurada. A juntar aos muitos efeitos utilizados, e bem, o recurso a loops também foi uma constante. Por vezes, eram incontáveis as camadas de loops sobrepostas umas sobre as outras. O resultado é alguém sozinho em palco a interpretar temas instrumentais e a criar uma textura sonora com uma envolvência incrível, levando o público a viajar na tal nave comandada pelo guitarrista e que mais aparentava ser uma daquelas coisas cheias de botões e muito confusa e caótica, mas sempre totalmente controlada e conduzida na perfeição pelo seu piloto.
À parte do que ia sendo interpretado por Francisco Sales, o silêncio era de tal forma intenso que qualquer barulho, por muito pequeno que fosse, chamava logo a atenção. Foi o que aconteceu quando alguém recebeu uma mensagem no seu telemóvel, fazendo com que o público, e até o próprio músico, reagisse como se por momentos tivesse acordado do belo sonho que estava a presenciar. Nesta altura, faz sentido referir talvez a única coisa negativa do espetáculo, tratou-se do imenso, naquele contexto, barulho feito pelo roadie de serviço, a caminhar em passo rápido, no chão de madeira, nos intervalos das canções, para levar a guitarra afinada e trazer a outra para a afinar. Criou-se assim um momento que contrastava por completo com toda a serenidade que se vivia aquando da interpretação de cada um dos temas.
Por volta das 22h30 a nave espacial regressou à base e todos os passageiros saíram dela com a sensação de que para viajar por vezes basta ter alguém talentoso a comandar as nossas vidas durante um determinado período de tempo.
Nota de reportagem – ao contrário do que é costume nas nossas reportagens, não nos foi possível fazer deslocar um fotógrafo nosso para a composição fotográfica desta reportagem. Apesar de todos os esforços efetuados da nossa parte e da parte da UGURU, na existência de fotografias cedidas por outras fontes, decidimos avançar para a publicação desta reportagem sem qualquer registo fotográfico.
Promotor – UGURU