O ano passado, no (extinto) Vodafone Mexefest, festival em que se estrearam por Portugal quando assinavam como Deers, as Hinds prometeram que estariam de regresso ao nosso país para apresentar o seu segundo disco de originais, I Don’t Run. Como o prometido é devido, as madrilenas voltaram a Portugal na passada sexta-feira, desta feita no MusicBox, para mais um enérgico concerto onde o frio da noite lisboeta não impediu que as t-shirts dos fãs ficassem ensopadas de suor.
Na teoria, o plano teria tudo para dar certo: combater o frio outonal de Novembro com um surf rock que transpira Verão por todos os lados. Em noite completamente esgotada, onde um painel padrão tigresa cobria a parede do palco, com o nome Hinds bem visível, não foi preciso esperar muito tempo até as temperaturas começarem a escalar a pique, com Carlota Cosials, Ana García Perrote, Ade Martín e Amber Grimbergen a deixarem logo ponto assente que ali se daria uma autêntica festa de sexta-feira à noite; “Rock in Lisboa”, como diriam mais à frente.
Neste ano de 2018, I Don’t Run juntou-se à bagagem de Hinds, e foi mesmo ao som do mais recente disco que a noite começou, ao som de “Soberland”, mas seria, logo de seguida, ao som de “Chili Town” e “San Diego”, êxitos do estreante Leave Me Alone, que o tom festivo se implementaria no MusicBox. Com as linhas da frente já em modo de êxtase, com o coro uníssono no início de “Easy” a comprová-lo, uma mão cheia de canções bastou para que as Hinds prendessem o público na mão e nada as demoveria a soltá-lo.
Para quem acompanhou as Deers Hinds desde os primórdios, é com um enorme orgulho que viu o crescimento destas divertidas muchachas em artistas de pés e cabeça. A autenticidade brincalhona mantém-se, é verdade, mas a própria sonoridade do novo disco mostra mais maturidade, como se (finalmente) se levassem mais a sério, com “Linda” e “The Club” a serem exemplos da sofisticação presente no corpo das novas canções de Hinds.
Entre Portugal e Hinds há uma relação especial, com a entrega de ambas as partes a tornarem qualquer passagem das madrilenas por terras lusitanas numa espécie de convívio entre antigos colegas de turma do que um concerto em si. Ora seja pela proximidade da língua ou pelo estilo de vida boémio partilhado por portugueses e espanhóis, a verdade é que notório que as Hinds sentem-se em casa em Portugal, o que só por si ajuda a que todas as intervenções para com o público soem sinceras e genuínas; “estamos agora a começar uma tournée de seis semanas e que melhor lugar para o fazer do que em Lisboa?”, diria Ana García Perrote, em ‘portunhol’, antes de se atirar a “Tester”, sentindo-se a sinceridade em todas as palavras.
Depois de frenéticas passagens por “Rookie” e “Finally Floating”, com tempo para “Bamboo”, tema oriundo dos tempos enquanto Deers, dar o ar de sua graça, o desfecho aconteceria ao som de “Davey Crockett”, com Perrote a descer do palco para se juntar aos religiosos fãs de Hinds, incansáveis do início ao fim, para partilhar a voz ao microfone no meio de um mosh improvisado.
O ponto final da noite viria num merecido encore, encabeçado por “Castigadas en el Granero” e “New For You”, pondo fim a uma festa que já tinha entrado numa ‘Saturday Night Fever’ e, a julgar pela celebração dos fãs de Hinds, estes não se importariam nada que a festa durasse até de madrugada. Afinal, de Espanha, até que podem vir bons ventos e bons casamentos…
Promotor – Musicbox Lisboa