A programação do Misty Fest’18 assinalava para a noite de 18 de novembro a atuação de Will Samson no Cinema São Jorge, em Lisboa. Considerado internacionalmente como um talentoso compositor de peças eletrónicas e ambientais, este foi o seu primeiro concerto em Lisboa e o segundo em Portugal (dois dias antes tinha atuado em Espinho no âmbito do mesmo festival).
Quando entrámos na sala 2 do Cinema São Jorge, fomos de imediato surpreendidos por uma plateia sem cadeiras e com um tremendo fumo no ar. A música de Will Samson pede-nos um lugar confortável para a apreciarmos nas melhores condições e assim ficámos a questionar se fazia sentido absorver este espetáculo estando de pé. Em palco, tínhamos um cenário o mais minimalista possível, só marcando presença os, poucos, instrumentos, uma cadeira e uma mesa, que olhando bem para ela poderá muito bem ter sido “emprestada” por uma esplanada de um café qualquer.
Com uma pontualidade britânica, Will Samson entra em cena e ocupa o seu lugar, sentando-se e cruzando as pernas, posição em que se manteve durante os sessenta minutos do concerto. O público, esse, e apesar da ausência das cadeiras, sabia ao que tinha ido e sentou-se no chão, tentando, dentro das possibilidades oferecidas, encontrar uma posição o mais confortável possível. A sala apresentava-se longe de estar cheia e dessa forma deu para que as pessoas que lá estavam encontrassem um local em que conseguissem ter as costas encostadas numa qualquer parede.
O concerto arranca e com ele inicia-se uma viagem comandada por este senhor inglês que atualmente reside em Bruxelas. A sua sonoridade instrumental pode ser definida como eletrónica ambiental, já que é dominada por uma guitarra elétrica ligada a uma série de efeitos, e onde se usa e se abusa de loops sobrepostos, e por ritmos impactantes criados por uma drum machine. Até aqui, podemos afirmar que a parte instrumental criada por este senhor cria sensações muito boas em quem a ouve, o problema é quando Will Samson decide juntar ao instrumental a sua voz e aí a coisa torna-se menos consensual, podendo até levar algumas pessoas a “pedirem” para que pare de cantar (o que não foi exteriorizado na prática por ninguém, mas que eventualmente poderá ter sido desejado em pensamento). Ao contrário do que muitos esperariam, desta vez Will Samson não se fez acompanhar da sua velha companheira de aventuras musicais, a violinista Beatrijs De Klerck, que o acompanha ao vivo e em estúdio há já alguns anos.
A toada do espetáculo manteve-se sempre no registo que Will Samson nos habituou e por isso o público manteve-se sentado durante todo o concerto. Quando o músico deu por terminado o espetáculo, várias pessoas se levantaram de imediato e saíram da sala, não aguardando por um eventual regresso do artista ao palco. Os que por lá ficaram, acharam por bem fazer algum barulho com recurso às palmas e assim Will Samson regressou para um único encore.
O concerto termina e cá fora, no foyer, já se encontram algumas pessoas à espera do artista para lhe comprar alguma da sua discografia, como também para com ele conviver e trocar algumas palavras. No fundo, percebe-se que quem foi ao Cinema São Jorge nesta noite de domingo sabia ao que ia e daí não ter saído da sala da Av. da Liberdade defraudado com o que viu e ouviu.