Concertos Reportagens

Plastic People, o rock ácido que conquistou o Sabotage

Está de chuva, e são quase mil (passo o exagero) as ofertas musicais em Lisboa com as salas todas repletas de concertos, – é sábado e há eventos fora do habitual a acontecer na cidade um pouco por todo o lado. No clube do Cais do Sodré Sabotage, fomos ao encontro dos Plastic People, banda de Alcobaça, e das canções do seu longa duração de estreia Visions, recentemente editado.

O disco, que reflecte uma aguda e certeira produção nos domínios do indie rock, a piscar o olho ao post-punk, é bom o suficiente para em noite fértil de Super Bock em Stock e da actuação dos Ingleses Wire, obrigar-me a conjugar timings para não falhar este evento. E “espremido” ao máximo, a nível de horários num sábado à noite com a coincidência de eventos, infelizmente não conseguimos garantir a nossa habitual cobertura fotográfica.

Estivemos lá para contar como foi. – E numa altura em que o single “Riding High On Acid” e o respectivo vídeo já andam no éter e nas redes sociais, não é de estranhar que tenha sido com esse tema que a banda terminou o concerto em apoteose. Um pouco antes, bastou um ligeiro atraso no horário de actuação para compensar as outras tantas coisas que decorriam na capital, dia forte em propostas de rock indie nas salas de Lisboa, e assim a moldura humana necessária para apresentações enérgicas e pujantes em concertos de rock, começou gradualmente a formar-se no espaço do Sabotage.

Na Música em DX, já aqui falámos em pormenor do disco Visions, faltava agora confirmar a interpretação ao vivo destas canções, e – ninguém saiu desagradado. Penso que há dois lados nesta banda, um lado mais melódico e deliciosamente pop e um outro lado mais dado aos riffs simples e ao feedback de guitarra. Uma reverência às guitarras dos Velvet Underground ou The Jesus And Mary Chain. E são dois lados que se completam muito bem, e o timbre de voz do vocalista João Gonçalo, faz a espaços lembrar outra voz que gosto do panorama nacional, a de João Vieira dos X-Wife. Aqui, a comparação nem é despropositada pois o uso eficaz das teclas e dos sintetizadores é uma comum nas duas bandas. João Gonçalo é outro tipo de vocalista, tem uma atitude simpática, discreta, mas também desafiadora. Gostei particularmente de o ‘vamos acabar com esta m**da que já estou a ficar sem voz’. No dia anterior a banda havia actuado no Porto e embora o vocalista sentisse algum cansaço na voz, nada disso se fez sentir na entrega e na audiência.

Mantendo o nível de energia e de boa disposição em palco, e tendo eu a ideia que parte do público era conhecedor da música dos Plastic People, foi-lhes fácil dadas as excelentes condições sonoras que se faziam sentir (o som estava realmente muito bom e equilibrado), conquistar o público e fazer a festa.

“Night” ou “Running” ou “Strange Love” são canções melodiosas e foram aqui transportadas para o palco com energia suficiente para a coisa não esmorecer, o que em parte é o problema habitual das canções melodiosas que podem ter um cariz demasiado soft. Mas aqui há rock suficiente nos arranjos para não cair nos lugares comuns da pop. E há indie e prolongados feedbacks de guitarra. Há refrões também mais “viciantes” de estrutura rock mais aguerrida e, enquanto bebia o meu copo de vinho pareceu-me que é um bom concerto para um sábado à noite em qualquer parte do mundo. Não envergonhariam ninguém estes Plastic People num clube rock em New York. E são dali, de Alcobaça não muito longe de Lisboa. Até à próxima.

Promotor – Sabotage Club