Nasceu como Super Bock em Stock, mas foi como Vodafone Mexefest que ganhou um lugar nos nossos corações. Para este ano, o nome do festival da Avenida da Liberdade voltou às origens, e com ele a essência de sempre: andar por diversas salas de Lisboa na tentativa de se apanhar um pouco de todos os concertos que ocorrem em simultâneo.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Ambiente
Ao longo de dois dias, foram mais de cinquenta os concertos que se desenrolaram pela Avenida da Liberdade, desde estações de comboios, teatros, garagens e o emblemático Coliseu de Lisboa. Para sexta-feira, o roteiro da Música em DX arrancou no Cinema São Jorge, ao som da Alta Ave Band.
Irónico como o nome da banda é quase reminiscente à própria Avenida da Liberdade. Porém, o frio lisboeta esbarrou nas portas da Sala 2 da Avenida da Liberdade, onde só o calor de Santa Mónica, Califórnia, teve direito a entrada.
Em pouco mais de quarenta e cinco minutos, o pop rock dos Alta Ave Band transportaram o público do Super Bock em Stock para um dos muitos bares que povoam as praias californianas, com uma boa dose de energia para aquecer os nossos corpos. Um bom arranque para um festival que se vivia frio fora de portas.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Alta Ave Band
Umas quantas escadas acima, e uns estados ao lado, acolheu-se a estreia dos Public Acess T.V. por Portugal, feita na Sala Manoel de Oliveira.
O som rockeiro típico de Nova Iorque, aquele que nos fez perder de amores por The Strokes, cruza-se com o movimento do new wave levado à baila pelos The Killers para nos dar uma das mais interessantes bandas que se ouviu este ano.
Com Street Safari ainda na fresca, o quarteto americano eletrizou o Cinema São Jorge ao som de temas como “Metrotech” e “Lost in the Game”, com o público a ser uma crescente ao longo de todo o concerto. Com a postura típica de uma matreira banda do indie, era fácil de ver que os Public Acess T.V. estavam a divertir-se tanto em palco como os seus (novos) fãs pela plateia, com muitos a nem se quer perderem tempo a sentarem-se e a aproveitar a festa de pé. Pena não se ter visto mais da banda, ora fosse pela falta de tempo ou pela fumarada e festival de strobes que se instalaram em palco…
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Public Access T.V.
Manuel Fúria e os Náufragos já são repetentes nestas andanças do Vodafone Mexefest Super Bock em Stock, mas foi em 2018 que se estrearam pela porta grande do evento: o Coliseu dos Recreios.
O peso de atuar numa sala tão mítica como a do Coliseu dos Recreios não é fácil de acatar, o que por si justifique os nervos iniciais do senhor Fúria. Todavia, num monólogo interior, o próprio deve ter dito “Cala-te e Dança” e esse nervosinho miúdo lá que se foi, assinando o primeiro grande concerto pregado na língua de Camões no festival.
Para a ocasião, onde se celebrou muito mais que a pop rock de Manuel Fúria, o artista contou com um ilustre leque de convidados para se juntarem a si e ao belíssimo Viva Fria, lançado o ano passado. Infelizmente, o Super Bock em Stock torna difícil a tarefa de se ver um concerto do início ao fim, o que nos levou apenas a contabilizar Samuel Úria, Márcia e Tomás Wallenstein (Capitão Fausto), este último em “Que Haja Festa Não sei Onde” como algumas das estrelas chamadas a campo, mas do pouco que se (ou)viu, não foi difícil de adivinhar que o concerto de Manuel Fúria e os Náufragos foi repleto de golos, num jogo onde a equipa da casa foi a clara vencedora; o público, pois claro.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Manuel Fúria e Os Náufragos e Convidados
Na mesma rua, uns quantos metros mais à frente, passou-se pela sempre belíssima Casa do Alentejo para ver um dos melhores concertos da noite: Nahkane.
Olhos fechados e parece que se ouve ANOHNI. Ouvidos tapados e parece que se vê Skin (Skunk Anansie). Juntam-se ambas e tem-se Nahkane, o novo menino-prodígio da art pop actual. Os contornos africanos na sonoridade deste artista, também actor nas horas vagas, fazem da sua sonoridade uma das mais peculiares que se ouviu neste 2018, com o disco You Will Not Die a receber rasgados elogios.
Nahkane transpira sexualidade e ousadia em toda a sua performance, mas rotulá-lo apenas a isso seria criminoso. Está-se perante um artista que embrulhou batidas eletrónicas frenéticas, emotivos coros gospel e sentidas baladas no curto espaço de uma hora, mantendo a sala lotada do início ao fim, mesmo com fenómeno Conan Osiris a tocar no outro canto da Avenida da Liberdade.
Ora fosse através da vibrante “Clairvoyan” ou da arrepiante “Prebysteria”, Nahkane deixou a Casa do Alentejo completamente rendida, com todas as suas intervenções para com o público a serem recebidas com apupos de quem não queria que o sonho do africano terminasse.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Nakhane
A dada altura, o artista confessa que “já tinha ouvido muitas coisas boas sobre Portugal, mas será que são verdade?”. Adorávamos ter ficado mais um pouco para provar-lhe que sim, mas o desejo de reviver a adolescência ao som de The Smiths, já ali ao lado, acabaria por falar mais alto.
“Encaro a guitarra como Johnny Marr faria”, cantara Manuel Fúria instantes antes pelo Coliseu dos Recreios. Curioso como uma hora depois, esse dito guitarrista viria a pisar o mesmo palco, naquele que foi o indiscutível cabeça-de-cartaz do primeiro dia do Super Bock em Stock.
De pontualidade britânica, ou não fosse o músico de Manchester, o (ex) guitarrista dos The Smiths regressou a Portugal quatro anos depois de ter pisado o palco num festival onde o nome da cerveja também lhe dá nome. Nesse espaço de tempo, Call The Comet viu a luz do dia, e foi à boleia do mesmo que Johnny Marr passou por Lisboa.
É inquestionável que os The Smiths foram um dos maiores fenómenos da década de 80. Dado o impacto da banda para com essa geração, e até naquelas que se seguiram, sente-se que o fantasma da banda de “Asleep” paire sobre Marr, com muitos daqueles que preenchiam metade do Coliseu dos Recreios a ansiar por um ou outro cheirinho dos tempos de outrora. Chegados aqui, quase que se acaba por categorizar a sala em duas partes: aqueles que ironicamente só queriam gritar “Toca Smiths!”, e os restantes, os que queriam ver um dos mais talentosos guitarristas de todos os tempos.
Para ambos esses casos, houve The Smiths e Johnny Marr em boa dose. Aliás, a dose quase que ficou repartida de igual modo, podendo quase dar a falsa sensação de um concerto desequilibrado e a de um homem que não sabia muito bem se preferia reviver o passado ou avançar com o futuro. Mas não: Marr soube jogar com o Coliseu e com o público do Super Bock em Stock, com canções de The Smiths como “How Soon is Now” e “Bigmouth Strikes Again” estrategicamente intercaladas entre os temas de Call The Comet, a dificultar a tarefa de procurar novos ares pela Avenida.
Para além de se ter ouvido as suas novas canções, interessantes e repletas de qualidade, onde os principais destaques seriam atribuídos a “The Tracers” e “Easy Money”, quem ficou até ao fim de Johnny Marr seria brindado pelo clássico intergeracional que “There is a Light That Nerver Goes Out” se tornou, canção de despedida e que uniu o público do Super Bock em Stock, independentemente das faixas etárias, numa voz em uníssono. Sem dúvida, um dos maiores triunfos do primeiro dia do festival.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Johnny Marr
Com metade da Avenida percorrida, estreámo-nos, pela primeira vez este ano, no Cineteatro Capitólio, para acolher o fenómeno em que se está a tornar Masego. Esta frase poderia ter sido dita sem a palavra “fenómeno” à mistura, mas a enorme fila que tentava entrar na sala previa passar-se ali algo de especial…
Dito e feito: mal entrados no Capitólio, fica-se de queixo caído perante o show que Masego levava a cabo. Entre o flow de um concerto de hip-hop, a sensualidade que há no R&B e o atrevimento do jazz, os elementos estavam todos reunidos para que Masego fizesse uma festa sem limites, deixando o público num estado de euforia tão grande ao ponto de este querer forçar a sua participação enquanto o quarto elemento na agenda do artista.
Com as temperaturas a obrigarem à perda da roupa quente que tão bem nos tinha protegido ao longo da noite, a soul que se vivia pelo Capitólio acabaria por nos deixar muito bem abrigados, quase remetendo-nos para uma noite quente de Verão. O calor dessa noite fugia um pouco ao clima maioritariamente de hip-hop que sempre se viveu na sala perto do Teatro Villaret, muito por culpa de uma excecional banda de apoio e de um talentoso coro, com especial destaque para a facilidade que encontravam em cruzarem-se com Masego e as suas improvisações.
Entre “Girls That Dance”, “Queen Tings”, “Lady Lady” e “Tadow”, com Masego a soltar-se ao saxofone por linhas de jazz fusion que só nos fazem lembrar BadBadNotGood, o artista jamaicano (com)provou que a aposta do seu nome numa sala com o tamanho do Capitólio não conseguiu fazer jus ao enorme talento que o acompanha. Porém, e verdade seja dita que desde que ingressou o roteiro de salas do Vodafone Mexefest Super Bock em Stock que esta se tornou numa das nossas salas favoritas para ver algumas das futuras promessas do atual panorama musical. Tudo indica que Masego se juntará a esse lote.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Masego
Num festival que acaba por ser um autêntico sobe e desce, o cansaço é rápido em surgir. Contudo, antes de se equacionar em apanhar um comboio para casa, nada melhor do que descer até à Estação Ferroviária do Rossio para terminar o primeiro dia na excelente companhia de Shawn Hall e Matthew Rogers, também conhecidos como Harpoonist & The Axe Murderer.
Mais caricato que o nome da dupla só mesmo a sonoridade que estes apresentam: blues no seu estado mais puro. Se à partida o conjunto de guitarras siamesas lembra-nos dos ‘nossos’ Dead Combo, meia dúzia de notas solta e essa associação dissipa-se no instante, com o blues destes senhores a rugir de forma mais alta, enérgica e dançável q.b. do que os nossos compatriotas.
Surpreende a forma como esses dois canadianos geram tanto barulho, especialmente tendo em conta que são apenas dois tipos e que se acompanham somente de três instrumentos: uma guitarra, o bombo de uma bateria e uma harmónica.
Sendo três a conta que Deuz fez, os Harpoonist & The Axe Murderer não precisarem de mais nada para deixar a Estação Ferroviária do Rossio num enorme estado de apoptose, delirando com a brutidão deste old blues rock, forte o suficiente para nos levar a afirmar que o final deste primeiro dia do Super Bock em Stock culminou em grande.
+ fotos na galeria Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov The Harpoonist & The Axe Murderer
Todos os artigos estão disponíveis em:
DIA 23Nov
Super Bock em Stock’18, Dia 23 – Quando uma Cidade é o Palco Principal
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Ambiente
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Alta Avenue
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Public Access T.V.
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Manuel Fúria e Os Náufragos e Convidados
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Nahkane
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Johnny Marr
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov Masego
+ Super Bock Em Stock’18 dia 23Nov The Harpoonist And The Axe Murderer
DIA 24
Super Bock em Stock’18, Dia 24 – Na Selva da Cidade, quem Dançou foi Rei
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Ambiente
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Zé Vito
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov April Marmara
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Tim Bernardes
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Charles Watson
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Still Corners
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Soak
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Holly Miranda
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov The Saxophones
+ Super Bock Em Stock’18 dia 24Nov Jungle
Evento – Super Bock Em Stock’18
Promotor – Música no Coração