Um dos motivos que fazem do Super Bock em Stock um evento de sucesso é a possibilidade de oferecer ao seu público o espírito que se vive num festival de Verão, mas em pleno Outono. Todavia, e como esta estação do ano é propícia a tal, a chuva e o frio foram os convidados indesejados neste último sábado.
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Precavidos para o temporal que se registava fora de portas, o abrigo da Música em DX fez-se logo cedo, nomeadamente na Sala 2 do Cinema São Jorge e ao som dos ritmos brasileiros de Zé Vito.
Com uma sala bem preenchida face ao horário precoce do festival, o carioca brindou Portugal com as sonoridades calorosas e aconchegantes, secando-nos os impermeáveis e chapéus-de-chuva tempo o suficiente até se embarcar numa nova aventura pela Avenida da Liberdade.
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Atravessar a rua que separa o São Jorge do Teatro Tivoli demorou o mesmo tempo do que uma viagem do Rio de Janeiro a São Paulo, ou não estivesse Tim Bernardes, cabecilha de O Terno, na outra ponta para nos receber.
Se, em Junho, já nos tínhamos perdido de amores por Tim Bernardes, na altura numa esgotadíssima Galaria Zé dos Bois, foi com todo o gosto que voltámo-lo a fazer. Tal como tinha acontecido no Verão, Tim envolve toda a sala num ambiente intimista, mostrando a faceta mais pessoal deste artista que nos comove com a delicadeza e ternura das suas canções.
Num Teatro Tivoli completamente à pinha, Tim Bernardes alternava entre piano e guitarra para recriar o melhor do seu disco de estreia Recomeçar, com a faixa título a inaugurar um concerto que nos embalou de uma ponta à outra. No espaço de uma hora, o carioca tanto conseguiu emocionar-nos como deliciar-nos com as suas histórias, ora fosse através de “Tanto Faz” ou “Ela”.
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Regressados ao Cinema São Jorge, desta feita pela Sala Manoel de Oliveira, e já Charles Watson debitava a sua indie pop com tons eletrónicos, onde a sua voz sobressai como uma cereja no topo de um bolo.
A emotividade e melancolia residentes no timbre de Charles Watson, bem evidenciados em temas como “Voices Carry Through the Mist” e “Now That I’m a River” em nada condizem com o passado do músico, onde assinava estoiros de garage rock. Apesar desta versatilidade do artista entre estilos ser enorme, foi com um pouco de pena que não conseguimos deixar de reparar que, em palco, todo o fascínio que o disco de Watson produz simplesmente desaparece, com cada tema a soar quase como uma cópia do anterior, com a exceção de um outro detalhe.
Ninguém nega o talento ou a qualidade existentes em Voices Carry Through the Mist ou Charles Watson, mas quando em comparação com o ambiente intimista que tínhamos vivido momentos antes ao som de Tim Bernardes, Charles Watson levou-nos a considerá-lo como uma escolha infeliz num festival onde o tempo é vital. Uma pena.
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Na busca pela redenção, a escolha certa seria passar pelo Coliseu dos Recreios, ou não fosse esta uma das salas que proporciona alguns dos mais marcantes concertos do festival. À entrada, somos rapidamente envolvidos pela dream pop dos Still Corners e de lá não quereríamos sair tão cedo.
Com Slow Air lançado este ano, a dupla oriunda de Londres deu particular ênfase ao mais recente disco, com os temas deste último a revelaram-se autênticos feitiços atordoantes para aqueles que ansiavam perder-se no universo cor-de-rosa do dream pop. Mesmo com canções novas, a beleza de tempos passados encontrou na mesma o caminho para o Coliseu, com particular destaque a muito celebrada “The Trips”.
Recrutando um baterista para as suas atuações ao vivo, Greg Hughes e Tessa Murray tornaram o Coliseu dos Recreios numa improvisada nave espacial capaz de viajar pelas estrelas que constituem a nossa Via Láctea. Entre feixes luminosos que rompiam pela penumbra e eletrizantes sintetizadores, capazes de nos submeterem facilmente a um estado de transe, conhecer a galáxia na companhia dos Still Corners foi um autêntico luxo, especialmente tendo em conta que nem foi preciso levantar os pés do chão.
“Há cidades, por onde tocamos, nas quais somos incapazes de não ficar deslumbrados pela sua beleza. Esta é a nossa primeira vez em Lisboa, mas podemos desde já dizer que a vossa cidade é um desses casos”, disse Tessa Murray a um determinado momento. E não é que é mesmo?
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Ainda à boleia da nave dos Still Corners, a amabilidade dos ingleses levou a que nos deixassem pela Estação Ferroviária do Rossio. Para a ocasião, a língua inglesa manteve-se, mas desta feita no sotaque irlandês de Derry, ou não fosse de lá SOAK oriunda.
Pseudónimo de Bridie Monds-Watson, a jovem irlandesa é ainda uma recém chegada à casa dos vinte, mas já canta como gente grande. Before We Forget How to Dream colocou-a nas bocas do mundo, com o seu indie-folk a reunir tanto características encantadoras como de alto teor pessoal.
Apesar da sonância do seu nome, foi com alguma estranheza que nos deparamos com uma sala nem preenchida a meio. Queremos atribuir a culpa à densa chuva que se registava por aquela altura, mas quem diria que esta acabaria mesmo por ser benéfica para SOAK, com os pingos de chuva a serem facilmente observáveis entre os feixes luminosos que iluminavam a sala, envolvendo o Rossio no clima melancólico existente no indie folk de alguém que prega sobre as problemáticas existenciais de juventude, com “B a noBody” a ser um claro exemplo.
Dado o intimismo das canções de SOAK, apesar das novas canções a constarem do seu segundo disco, mais orientadas para um registo dream pop – “Everybody Loves You” – ficou a ideia que a jovem irlandesa teria assentado melhor em espaço fechado, com o burburinho do entra e sai a tingir a bonita tela a ser pintada por Bridie.
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O nosso próximo encontro imediato seria na Sala Manoel de Oliveira, no Cinema São Jorge. Porém, até lá chegar-se, aproveitou-se a boleia de um dos maiores pontos de interesse do Super Bock em Stock: o autocarro. Para a ocasião, uma das ‘lagartas’ da Carris torna-se num improvisado palco, reinando a barafunda lá dentro. A liderar a tumultua, estiveram os Hércules, banda portuguesa ligada ao indie e que abriram as portas para os passageiros descarregarem a sua raiva pela Carris; o resultado foi, obviamente, um caos saudável.
Chegados finalmente ao destino e já era difícil de arranjar um lugar sentado pelo Cinema São Jorge. O motivo da afluência dava pelo nome de The Saxophones, uma dupla de noivos felizes que utiliza canções para mostrar o quão bonito consegue ser o amor.
Naturalmente, em terra de românticos incuráveis, os The Saxophones tinham tudo para ser um caso de sucesso. E claro, foram-no com distinção. Apresentando um vasto leque de canções que não sentem a necessidade de terem pressa até se consumarem, tal como o amor, nas suas primeiras iniciativas de desencadear a paixão, deveria ser. A partir do momento em que as histórias de amor de Alexi Erenkov e Alison Alderice são contadas por dois apaixonados, não houve sonoridade mais genuína e sentida que se tenha ouvido pelo Super Bock em Stock, com os olhares e sorrisos de cumplicidade a cimentarem este romance.
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Não nos importávamos nada de continuar a viver na apaixonada bolha dos The Saxophones, mas estávamos cientes que este concerto era apenas a calma antes da tempestade, com o melhor concerto do Super Bock em Stock prestes a chegar. O vencedor do troféu, de forma indisputável, foram os Jungle.
Nem vinte minutos faltavam para o arranque do grupo britânico arrancar e já a concorrência ao Coliseu dos Recreios era em peso, com a plateia a já se encontrar praticamente sobrelotada.
A par de Tim Bernardes, os Jungle foram dos poucos artistas a completar a lotação da sala ainda antes do começo do seu concerto e, quando as luzes se apagaram, era foi fácil de ver o porquê. Tal como acontece em For Ever, “Smile” e “Heavy California” foram as primeiras canções que se ouviram e não foram precisas mais para que o Coliseu dos Recreios desabasse para dar lugar a uma enorme pista de dança. Sem interrupções pelo meio, “The Heat” e “Julia” seguiram-se no cardápio e já era um dado inquestionável: os Jungle tinham mais de quatro mil pessoas na palma das suas mãos.
Esta foi a segunda ocasião em que os Jungle se cruzaram com os fãs portugueses este ano, com a primeira a ter sido em âmbito do Vodafone Paredes de Coura, onde foram um dos cabeças-de-cartaz. Porém, e apesar de esta ser já a quarta passagem por palcos portugueses do grupo britânico, esta foi a primeira vez dos Jungle a tocar em sala fechada o que, alienada ao já conhecimento dos portugueses do repertório do recente For Ever, levou a que este concerto superasse o do Verão por largas milhas.
Todo o sistema de luzes englobado na performance da banda ganha em recinto fechado, assim como a meticulosidade dos diferentes sons e instrumentos presentes nos seus temas a beneficiar da excelente acústica do Coliseu dos Recreios. “Happy Man”, “Cherry” e “Lucky I Got What I Want” são apenas alguns exemplos de canções cuja que soaram de forma tão cristalina e detalhada ao ponto de (quase) soarem a réplicas exatas das suas versões em disco, apenas polidas com a intensidade dançável que as canções dos Jungle adquirem ao vivo.
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Apesar do ritmo unilateral de festa imposto pelos Jungle não acusar indícios que fosse abrandar tão cedo, problemas técnicos levaram a temer o pior quando em “Crumbler”, o teclado de Tom McFarland avariou-se, levando a uma curta pausa técnica. Regressados a palco, desta vez com “Lemonade Lake”, o mesmo problema ateimava em não desaparecer, originando uma nova pausa, esta de dez minutos, e sinceros pedidos de desculpa por parte da banda.
Já com a problemática dos teclados resolvida, coube a “Casio”, tema repleto de um groove sensual, tentar restaurar o ambiente de dança anteriormente instaurado, embora a tarefa de corrigir esse impasse tenha sido de difícil ultrapassagem, algo que a sucessora “House in LA” também tenha acusado. Porém, a soul electrónica, reminiscente à decada de 70, dos Jungle recuperou a todo o gás com “Drops”, com direito a um estrondoso final que soltava no ar um aroma a fim.
Antes do fim chegar, e sem surpresas, ouviu-se o maior sucesso dos Jungle até à data, “Busy Earnin’”, naquele que foi, sem sombra de dúvidas, o tema mais festejado da noite e que deixou todo o Coliseu à mercê de uma contagiante dança de felicidade que só encontraria o fim em “Time”, terminando a noite em chave de ouro.
“Adoramos-vos e adoramos o vosso país. Estaremos cá sempre que nos quiserem”
,concluíram os Jungle antes da despedida final. Ansiamos pela próxima ocasião, assim como pela próxima edição do Super Bock em Stock.
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Evento – Super Bock Em Stock’18
Promotor – Música no Coração