1982 – Há 36 anos, os UHF tiveram direito ao seu PREC, um Verão quente de guerrilhas, quando impuseram uma rescisão contratual à editora Valentim de Carvalho (sede na rua Nova do Almada) e seguiram para a Rádio Triunfo (sede na rua do Carmo). PERSONA NON GRATA – Era o título do disco de chegada à editora que em Portugal distribuía os selos Atlantic, CBS ou Elektra. Três canções reflectiam o divórcio que a Valentim tentou evitar: Persona Non Grata, canção-título, Um Mau Rapaz, o primeiro single, e Quebra-me reflectiam a pressão a que o líder do grupo, António Manuel Ribeiro, esteve sujeito durante a desvinculação. Nascia a legenda (duro como rock? mau feitio?), l’enfant terrible que tinha sempre mais uma pergunta para colocar. Quando algumas portas mediáticas começaram a fechar-se, os UHF perceberam que estar na Valentim de Carvalho constituía uma pesada diferença.
1985 – Decorridos três anos, o grupo recusou renovar o contrato com a Rádio Triunfo, entretanto associada ao selo Orfeu (o mesmo de José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Fausto, José Jorge Letria…). Para trás deixavam os LPs Persona Non Grata (1982) e Ares e Bares de Fronteira (1983), além do icónico primeiro disco ao vivo do rock lusitano, Ao Vivo em Almada (no jogo da noite) (1985). Ainda o single Puseste o Diabo em Mim (1984).
Alguns meses mais tarde, mergulhada em problemas, a Rádio Triunfo/Orfeu desaparecia do cenário com o seu vasto catálogo nacional, que a obra (ausente) do José Afonso reaviva em debates sazonais. Outros símbolos surgiram (a Movieplay foi um deles), mas, legal e oficialmente, se houve transacções, os UHF nada souberam. Cartas foram escritas ao longo destas três décadas, sem resposta.
2018 – «Quando há 20 anos fundei a nossa editora, era minha primeira intenção libertar as gravações que morreram quando a Rádio Triunfo/Orfeu desapareceu e o vinil foi substituído pelo CD. Sem sucesso. A falta de uma estratégia comercial deixou-me perplexo. Tentei tudo para colocar as obras no mercado, e tudo foi negado sem uma alternativa: foi a gestão do prejuízo artístico e comercial inequívoco. Até que deixámos de saber notícias sobre os putativos detentores das obras gravadas.
Basta!, são os 40 anos dos UHF. Ninguém me pode impedir de trabalhar, e, enquanto autor e artista, fui muito prejudicado. Assim como o público que desesperou por estas edições, agora editadas em simultâneo. É uma prova de força e de organização dos UHF, provavelmente única em Portugal. Pioneiros? Provavelmente.
Estou preparado para ouvir quem se apresentar como detentor do contrato que um dia assinei com a editora Rádio Triunfo/Orfeu. Os direitos desta tripla edição estão reservados, legalismo inscrito nas capas dos discos.Quando no dia 3/11, às 20h00, na FNAC de Almada, os discos foram colocados à venda, havia gente adulta com lágrimas nos olhos”.
Se esta foi a primeira e simbólica acção para celebrar quatro décadas dos UHF, a 22/12, em Lisboa (Aula Magna), e 29/12, no Porto (Casa da Música), a festa vai continuar ao vivo.”40 ANOS NUMA NOITE”.
As celebrações contam com as participações de Frankie Chavez, The Legendary Tigerman e o membro fundador Renato Gomes. O espectáculo de Lisboa contará com a participação de Ana Bacalhau e João Pedro Pais no Porto.
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