Depois do concerto realizado no Festival The Legends of Rock em julho passado, no Estádio Municipal de Oeiras, os The Dead Daisies regressaram a Portugal esta terça-feira, dia 4 de dezembro, para um espetáculo no espaço Lisboa ao Vivo, integrado na digressão UK/EU Winterland Tour, que tem por base o seu mais recente disco – Burn It Down, editado em abril deste ano.
Os The Dead Daisies têm uma história deveras curiosa. O australiano David Lowy é alguém que detém uma fortuna considerável e com a sua ajuda decidiu formar uma banda, contratando para o efeito músicos de topo, e com um belo historial rockeiro atrás de si, pagos a peso de ouro. Com isso, têm sido muitas as personalidades relevantes da história do rock a marcar presença neste projeto. Aqui vão elas: Richard Fortus (Guns N’ Roses), Darryl Jones (The Rolling Stones), Dizzy Reed (Guns N’ Roses), Marco Mendoza (Thin Lizzy, Whitesnake), Charley Drayton (The Cult), John Tempesta (The Cult), Brian Tichy (Whitesnake), Frank Ferrer (Guns N’ Roses), Alex Carapetis (Nine Inch Nails), John Corabi (Mötley Crüe, The Scream), Doug Aldrich (Bad Moon Rising, Whitesnake), etc.. Ou seja, a Lowy não se deve elogiar só o facto de gastar o seu dinheiro a contratar músicos de topo, mas também o de, com ele, ter conseguido reunir ao seu redor pessoas associadas a bandas rock e hard rock lendárias. A formação está constantemente em mudança e atualmente a tocar no projeto estão, para além do guitarrista e patrão David Lowy, John Corabi (voz), Marco Mendoza (baixo), Doug Aldrich (guitarra) e Deen Castronovo (bateria e com participações em bandas como os Journey ou os Bad English).
Para além do concerto dos The Dead Daisies, o evento de terça-feira teve mais conteúdo na sua programação. Assim, os fãs mais acérrimos da banda a marcar presença na sala Lisboa ao Vivo às 19h, foram brindados com um Meet & Greet e um concerto acústico. Esses, poucos, privilegiados, puderam entrar antes de todos os outros e quando o fizeram encontraram um conjunto de instrumentos posicionados na plateia, e não em cima do palco. Seria aí que iria ocorrer o concerto acústico. As cerca de cinquenta pessoas aguardaram com forte ansiedade a entrada em cena das estrelas do evento, e que são também verdadeiras lendas do universo do rock. Por volta das 19h, surgem então os cinco músicos que, de uma forma simpática e totalmente acessível, cumprimentaram, um a um, cada um dos presentes. Rumaram depois para os seus instrumentos para dar então o tiro de partida para o prometido concerto acústico, que durou por volta de trinta minutos, marcado por uma simpatia e interatividade constante, com muitos “obrigados” à mistura, começando logo aí o atirar de palhetas para o público, que olhando para as pessoas que o compunham mais pareciam estar no céu, com tremenda presença divina tão perto de si. No final do concerto, mais um momento de loucura para os que lá estavam, já que todos puderam confraternizar, pedir autógrafos e tirar fotografias com os cinco músicos, posicionando-se cada um deles num ponto diferente da sala. A juntar a isso, a equipa de apoio da banda foi oferecendo palhetas, posters e autocolantes dos The Dead Daisies. Sem dúvida que esta era do digital e das redes sociais fez com que passasse a haver uma muito maior proximidade entre músicos/estrelas e público/fãs.
Uma pausa para a abertura das portas e a entrada do restante público, para às 20h30 subirem ao palco os portugueses IBERIA. A história deste projeto revela um percurso com muitos altos e baixos e um entra e sai constante de músicos. Atualmente, a banda é formada por Hugo Soares (voz), Jorge Sousa (guitarra), Hugo “Pepe” Lopes (guitarra), João Sérgio (baixo) e David Sequeira (bateria). A sua sonoridade é dura e pesada, mas, acima de tudo, o que se destaca quando se olha para os senhores que estão em cima do palco é o percebermos que os IBERIA são formados por músicos que já andam nisto há muito tempo e que, por isso, já os vimos em muitos outros projetos, nos mais diversos palcos deste país. Jorge Sousa mais parece o Slash, só lhe faltando a cartola, e não é ao acaso que no seu historial consta a participação num projeto tributo aos Guns N’ Roses. O que se destaca também da atuação desta banda portuguesa é o facto de, apesar de andarem nesta vida há muitos anos, continuarem a demonstrar um amor enorme à causa rockeira e uma paixão tremenda por aquilo que fazem. Para o comprovar, bastava olhar para o baterista David Sequeira e ver o seu espetáculo, que mistura diversos e variados breaks com baquetas pelo ar, não acabando, pelo menos que se tenha visto, nenhuma delas por cair no chão. No fundo, tanto em cima do palco como na plateia, tínhamos o espaço preenchido com malta chamada da “velha guarda”. Enquanto os IBERIA atuaram, Marco Mendoza esteve de lado a assistir atentamente ao que a banda ia fazendo.
Às 21h30 entraram em cena os The Dead Daisies, que encontraram uma sala bem composta, mas não esgotada. O primeiro a entrar em palco foi o baterista Castronovo, iluminando o público com a ajuda de uma lanterna. O, digamos, concerto principal da noite veio, no fundo, confirmar aquilo que já tinha ficado demonstrado no concerto acústico. Os cinco músicos que neste momento compõem a banda são todos eles do mais competente e profissional que possa haver, revelando uma técnica apurada no exercício das suas funções nos respetivos instrumentos. Também se pôde constatar o continuar da interação com o público, iniciada logo quando entraram para o concerto acústico. Nas guitarras temos o tremendo guitarrista, com uma técnica apuradíssima, Aldrich, enquanto Lowy revela algumas limitações, dedicando-se, por isso, mais aos acordes, deixando os solos para o guitarrista dos Whitesnake. Mendonza é um espetáculo dentro do espetáculo, dominando o baixo como poucos o fazem e sempre em interação com o público, olhando-o de frente durante quase todo o espetáculo e atirando quantidades industriais de palhetas na sua direção, tendo para isso o apoio de uma espécie de fita adesiva cheia de palhetas, colocada estrategicamente na parte inferior do baixo, sendo prontamente substituída por outra quando chega ao fim. A certa altura do concerto desceu do palco e veio até à grade para estar ainda mais perto do público.
Bem vistas as coisas, os The Dead Daisies, em termos práticos, passariam muito bem sem Lowy. Ele poderia ter uma relação com os músicos como aquela que o Abramovich tem com os jogadores do Chelsea, ficando do lado de fora a assistir de perto ao trabalho dos artistas contratados a peso de ouro. De qualquer forma, de realçar também que tanto no futebol como na música, bons jogadores por si só não fazem uma grande equipa e com as bandas musicais isso também acontece, excelentes músicos em conjunto podem fazer soar tudo muito bem, mas nada indica que irão fazer grandes músicas. É isso que acontece com os The Dead Daisies, já que as suas canções são todas algo idênticas e não é ao acaso que a banda recorre por diversas vezes a versões de músicas de outros, como foi o caso nesta noite de terça-feira em que se ouviram temas como “Maggie May” de Rod Stewart ou “Let It Be” dos The Beatles, ambos em formato acústico sensivelmente a meio do espetáculo, ou, no regresso ao elétrico, novamente os The Beatles com “Helter Skelter” e “Bitch” dos Rolling Stones. Olhando para o público presente, também se ficava com a ideia de que as pessoas que o compunham estavam ali mais pelo currículo de cada um dos músicos do que propriamente pelas composições dos The Dead Daisies.
Durante as duas horas de concerto, que incluiu um encore, assistiu-se ao construir de uma muralha sonora constante, sem qualquer espécie de raja ou de risco de queda. Ela está bem suportada nos musculados músicos que compõem este projeto. De realçar também a resistência física desta malta que já não vai para nova, mantendo-se no máximo das forças durante todo o espetáculo, algo que deve ser ainda mais realçado pelo facto de estarmos a falar numa digressão com concertos quase todos os dias.
Promotor – Seaside Touring